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O imenso desafio de Salles, do Brasil e da humanidade

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Certa vez vi a seguinte frase: “o planeta está dividido em duas categoria de pessoas: as que tem mais jantares do que fome e... as que tem mais fome que jantares”.

Tanto isso é verdade que por inúmeros fatores, mas sobretudo por ingerir mais calorias do que gastá-las, e apenas situando o Brasil em 2018 num levantamento feito pelo Ministério da Saúde, os brasileiros apresentavam, nas faixas etárias adultas de 25 a 34 e de 35 a 44 anos, índices de obesidade de 84,2% e 81,1% da população respectivamente.

Esse aspecto traz para discussão uma série de consequências e uma visão de comportamento humano que determina sérios desequilíbrios para as pessoas, mas sobretudo para o Planeta e para o meio ambiente, como veremos. Estamos falando por exemplo, de um conceito que diz respeito ao que foi chamado de “pegada ecológica”, uma “metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais ao redor do planeta. Expressa em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta”, ou seja, se a natureza dá conta de nos suportar. Atualmente, a média mundial da Pegada Ecológica é de 2,7 hectares globais por pessoa, enquanto a biodiversidade disponível para cada ser humano é de 1,8 e, nesse aspecto, a humanidade com seu atual padrão de consumo necessitaria de 1,5 planeta Terra e que se persistirmos com o atual padrão, em 2050 necessitaremos de 2 planetas para manter tal padrão.

Obviamente só temos um Planeta...

Nós é que precisamos mudar... ou o Planeta vai achar um jeito de se livrar de nós!

Dentro dessa visão inicial, o que é verdade e o que é mentira quando falamos em meio ambiente e sustentabilidade?

Para ajudar a responder essa pergunta diante de tanta falácia e narrativas, vou dar uma breve visão histórica e assim, poderemos refletir melhor sobre o que estamos falando e a quem interessa o quê, nesse universo cada dia mais politizado, mas não se iludam, absolutamente tomado por interesses econômicos e relacionados a poder, em todos os aspectos que essa expressão representa.

O dia em que Thomas Malthus (1766 – 1834) chocou o mundo

Thomas Robert Malthus, foi um economista inglês que dentre outras desenvolveu metodologia para estudar as relações entre a expansão populacional e a produção de alimentos. Esses estudos que determinaram a abordagem “Malthusiana” (e depois a NeoMalthusiana, para quem deseje se aprofundar, abordagem que introduzia a ideia do controle da natalidade como forma de controle do crescimento populacional) estabeleceu uma visão que surgia como uma profecia sinistra: ao determinar que o crescimento populacional se dá de forma Geométrica e que a produção de alimentos de forma Aritmética, o mundo viveria sérios conflitos pela falta progressiva de alimentos. O que de fato, de certa forma, aconteceu..., mas a guerra é mais sutil, envolve outras armas.

Embora a assertividade de seus postulados tenha sido comprovada na prática, a profecia não se realizou completamente no século seguinte: os conflitos vieram por outras razões, mas uma delas, como sempre a ideia de expansão territorial de um país sobre outros como vimos nas duas guerras mundiais, algo que transcendeu a simples produção de alimentos.

Mas o que Malthus nos ensinou?

Que os recursos do planeta, principalmente na área de alimentos, representariam uma pressão permanente sobre a humanidade que ao crescer geometricamente, demandariam modelos de expansão da ocupação da terra de forma pouco ou nada sustentáveis, como vimos por exemplo, na Europa que devastou seu meio ambiente e sua biodiversidade. Podemos dizer que a Europa tem como principais problemas em termos de sustentabilidade/preservação os seguintes fatores: o aumento do nível do mar; a degradação do solo e a diminuição da Biodiversidade, como citei em meu ultimo artigo quando falei, por exemplo, que nos últimos 30 anos cerca de 55% da população de aves desapareceu no meio rural na Europa.

Em outras palavras e sem querer me aprofundar no tema, que renderia outro artigo, o que quero dizer é que na Europa (e é claro, em outros lugares do planeta), o meio ambiente que já sofre com fenômenos naturais, sente de forma avassaladora as ações do homem e de sua “pegada ecológica”, o que coloca em xeque a sustentabilidade da Região e do próprio planeta.

A Transição Demográfica

É um conceito que sucede a visão NeoMalthusiana e se baseia no fato de que há uma nova dinâmica no padrão do crescimento populacional no planeta e que decorre dos avanços da medicina, urbanização, surgimento de novas tecnologias, taxas de natalidade e outros fatores, que fizeram a população mundial disparar nos últimos 200 anos.

Apenas para exemplificar: o Brasil em 1900 apresentava uma expectativa de vida ao nascer de 33,7 anos e hoje em 2020 essa expectativa é de 76,7 anos e com projeções, segundo o IBGE, de 79,9 para 2040 e 81,2 para 2060. Assim, o país que há poucas décadas era conhecido como um pais feito de jovens, hoje é visto como adulto e possivelmente, caso a taxa de natalidade continue a diminuir ou se mantenha baixa como está, com base na maior longevidade da população, poderá se converter num país de velhos, sem nenhum preconceito pois envelhecer é um fato da vida. Isso nos levou a discutir recentemente a reforma da previdência, cujo colapso era previsto com base nessa realidade do envelhecimento da população.

Na Europa, por exemplo, a taxa de natalidade de muitas cidades da França, da Espanha, da Alemanha, só para citar alguns países onde isso é dramático, vem se apresentando negativas. Ou seja, cidades que estão envelhecendo inexoravelmente e onde a dinâmica populacional se encontra em risco. Alias, mais de 50% dos países no mundo apresentam taxas de fecundidade insuficientes para recompor as gerações que em 1950 apresentava uma média de 4,7 filhos durante a vida e, segundo estudo em 2017 apresentava uma média de 2,4 filhos por mulher e é claro que isso ocorre de forma assimétrica. Nesse mesmo estudo, a taxa de fecundidade do Brasil se apresentava em 1,8 quando a taxa para recompor gerações se situa em 2,1. Ou seja, a população do mundo (e a do Brasil) com a maior longevidade das pessoas, está ENVELHECENDO inexoravelmente.

Se por um lado uma POPULAÇÃO IDOSA no planeta pode ser um forte atrativo para o TURISMO (o segmento chamado de melhor idade é um dos que mais cresce) e isso pode nos favorecer: tenho defendido que o Agronegócio e o Turismo serão as Locomotivas de nosso crescimento econômico. Por outro lado, nessa toada, faltarão pessoas para trabalhar, visto que o número de aposentados deverá crescer significativamente: vamos ter que importar gente!

Tenho defendido que a nossa NACIONALIDADE é uma vantagem competitiva do Brasil. Isso poderá significar a possibilidade de atrair pessoas que possam optar em viver e trabalhar por aqui, o que pode ser muito estratégico num futuro não muito distante.

Uma conclusão preliminar importante: o mundo com a diminuição de sua taxa de fecundidade e com as pessoas vivem mais, terá sua população continuando a crescer e a demandar mais e mais ALIMENTOS. Se analisamos isso com base nos aspectos de sustentabilidade e preservação ambiental onde citei o exemplo da Europa (mas que ocorre igualmente em todos os continentes), temos aí um mosaico interessante para analisar a polêmica ambiental e a guerra de narrativas que já assistimos.

Caiu alguma ficha para vocês?... espero que sim. Mas vamos em frente.

POR QUE O BRASIL ESTÁ NO CENTRO DAS ATENÇÕES E DAS NARRATIVAS SOBRE SUSTENTABILIDADE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL?

Para começar se a Ministra do Meio Ambiente no Brasil fosse a Madre Tereza de Calcutá, se estivesse viva, ela estaria sendo atacada por todos os lados e vivendo sob pressão absoluta. Agora imaginem o Ministro Ricardo Salles que é um “sanguíneo típico” e que não gosta de levar desaforo para casa? E ainda mais: sendo alguém que estuda meio ambiente e tem conhecimento cientifico e está à frente de um projeto que visa resgatar tudo que não se fez nas ultimas décadas onde, principalmente as pessoas foram deixadas para trás, como é o caso da Região Amazônica onde temos 500 cidades e uma população pobre, com um IDH-M baixo (de 0,750 para os 9 estados que compõe a Região Amazônica, contra 0,778 para o Brasil que já nos colocam em 79º lugar no planeta) e cuja população está representada por 29 milhões de brasileiros e ainda, onde temos 1 milhão de pequenos produtores rurais.

Mas vamos lá entender melhor a nossa realidade...

Diante do quadro que pintei sobre demanda crescente por alimentos X esgotamento de recursos ambientais, o BRASIL surge como o CELEIRO DO MUNDO dada suas condições climáticas, extensão e disponibilidade territorial, fertilidade e ao fato de que é o País que mais preservou seu meio ambiente no mundo. Alie-se a isso, o desenvolvimento de tecnologias de desenvolvimento de sementes com base no intenso e extenso trabalho desenvolvido pela EMBRAPA que é referência no mundo (e que vem sendo alvo de espionagem industrial e intelectual por parte da China, numa pratica conhecida por SHANZHAI (*) que tem por objetivo concorrer conosco produzindo no continente Africado).

O Brasil tem batido recorde sobre recorde de produtividade agrícola nos últimos anos e vem se posicionando como grande produtor rural com uma capacidade crescente capaz de alimentar cerca de 1/5 da população do planeta e crescendo nessa capacidade. E isso, com absoluta SUSTENTABILIDADE e com base nas melhores práticas de produção agrícola.

Se por um lado temos uma limitação de produtividade em várias regiões do planeta e temos esse ganho de produtividade no Brasil, é claro que passamos a representar uma ameaça evidente para muitos países. Nossos preços tendem a ser mais competitivos pela abundância de recursos naturais e também pela tecnologia que desenvolvemos e, nesse momento, pela situação cambial favorável às exportações brasileiras.

Dessa forma, é preciso atacar o Brasil e prejudicar sua imagem para: ou aumentar o poder de barganha dos compradores ou aumentar a competitividade dos exportadores concorrentes.

E a melhor forma de atacar nossa imagem é falar de SUSTENTABILIDADE E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE e, nesse preciso momento, EXPONENCIANDO as Queimadas e os Incêndios Florestais, mesmo que eles estejam acontecendo, como sempre ocorrem ao redor do Planeta como na África (Bacia do Congo), na Florida, na Austrália, em Madagascar onde são absolutamente mais intensos que por aqui.

Apenas para tornar claro:

Você sabe a diferença entre queimadas e incêndios florestais?

Queimadas...

São uma prática primitiva da agricultura destinada principalmente a limpeza do terreno para o cultivo de plantações e formação de pastos, com uso de fogo de forma controlada e que às vezes pode se descontrolar e provocar incêndios em florestas, matas e terrenos.

O uso de queimadas, na agricultura e pecuária já não são utilizados na Espanha e em Portugal, por exemplo, visto que já existem tecnologias de manejo que substituem essa prática.

Porém, muito dessa prática ocorre em comunidades indígenas e por pequenos produtores rurais que, como citei, apenas na região Amazônica são cerca de 1 milhão.

Incêndios Florestais...

São a propagação de fogo em áreas florestais e normalmente ocorrem com frequência e intensidade nos períodos de estiagem e estão intrinsecamente ligados à redução de umidade ambiental. A BIOMA AMAZÔNIA por exemplo, não pega fogo pela humidade elevada.

Se pensamos nos incêndios ocorridos este ano no Pantanal, estamos falando da maior seca ocorrida na região nos últimos 47 anos.

Mas incêndios pode ocorrer por causas naturais como raios, ação fermentativa exotérmica, concentração de raios solares por pedaços de quartzo ou cacos de vidro, curtos-circuitos ou descargas elétricas naturais e da fiação de alta voltagem, imprudência ou descuidos humanos, perda de controle de queimadas e outros (entre os quais criminosos com intenções políticas).

No caso do Pantanal, além da prolongada estiagem, contribuíram para o alastramento: a diminuição da presença do gado (denominado “boi bombeiro”) que ao comer o pasto, diminuem consideravelmente o massa orgânica combustível e ainda, a não utilização de retardantes que são produtos químicos utilizados em todo o mundo mas que no Brasil tem uma legislação impeditiva. E é claro, pela ausência de estruturas de combate que agora estão sendo criadas e que envolvem Estados e Municípios, além do governo federal.

A FALÁCIA DA AMAZÔNIA PEGANDO FOGO

Segundo Evaristo de Miranda, diretor da Embrapa Territorial, em julho deste ano tínhamos um aumento de 44% de 2019 para 2020 das queimadas na América Latina com 149.044 focos de incêndios, o maior número em 7 anos. E esse crescimento foi: 286% na Argentina; 177% no Uruguai e no Paraguai e 4% no Brasil... sim, apenas 4% no nosso País.

O Brasil realizou 5 queimadas por cada 1000 km2 ao passo que a Venezuela 38, o Paraguai 37, a Colômbia 17 e a Argentina 10, ou seja, nem tudo é o que parece ou o que dizem, não é?

Se considerarmos apenas o BIOMA AMAZONIA houve uma redução de 16% nas queimadas até julho deste ano. Esses são dados da NASA que monitora ininterruptamente a região todos os dias. Outra informação é que o satélite registra o foco de calor a cada vez que passa sobre ele, ou seja, se o fogo perdura por muitas horas e o satélite passar sobre ele oito vezes, o sistema irá computar 8 focos de incêndio (na verdade de calor pois ele monitora temperaturas acima de 48 graus e não necessariamente fogo). O INPE utiliza os dados desse satélite presente no sistema MODIS-AQUA que é o sistema que nos atende. É preciso depurar essa interpretação e evitar alimentar “o fogo inimigo e também amigo” nesse campo de batalha.

Poderia incluir neste artigo muitos e mais dados, mas já ficou longo. Mas o principal objetivo foi mesmo o de colocar para todos uma visão mais abrangente que nos permita refletir melhor sobre o tema e não cair em ciladas e narrativas, como tenho visto muita gente boa cair.

Assim, o melhor é finalizar com a recente fala do Ministro Tarcísio que disse em sua entrevista, na qual se refere à questão de AUTO ESTIMA E DA NACIONALIDE, tema que tenho defendido em vários dos meus artigos, e é claro à questão ambiental e à sustentabilidade.

Disse ele:

“ ...falta a gente tomar posse disso falta a gente se enxergar como potência, falta a gente ter orgulho do que a gente é, a gente aceita determinadas coisas que não deveria aceitar, por exemplo: a gente é uma potência ambiental, ninguém pode tirar isso de nós, observe que:
A gente tem 60% da mata nativa preservada;
A gente tem 84% da Floresta Amazônica preservada;
Produzimos tudo que produzimos em apenas 26% do território;
Possuímos 44% da nossa matriz energética renovável...
Que país do mundo tem isso? ...ninguém, só nós e ninguém vai tirar isso de nós. O Brasil tem um Agronegócio sustentável, tem um povo criativo...pela intercessão de fatores temos que ser uma das três maiores economias do mundo...nossa geração veio para transformar... vamos deixar de ser o País do quase”...

O BRASIL é uma potência econômica com um potencial de crescimento extraordinário e é claro que isso incomoda muita GENTE RUIM..., mas ninguém vai nos parar: o Brasil está acordando...já acordou!

Ouça o podcast: CLIQUE AQUI!

Foto de JMC Sanchez

JMC Sanchez

Articulista, palestrante, fotografo e empresário.

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