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O CO2, a pólvora e o jornalismo “emburrecido”

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Mais uma vez a grande mídia do Brasil age de má-fé e distorce as palavras do presidente da República, oferecendo a conotação que mais lhe convém.

Foi nesta terça-feira (10), em cerimônia de lançamento de programa de governo para incentivar o turismo no país, que Jair Bolsonaro se referiu à região da Amazônia como uma das principais beneficiadas e, em determinado momento da fala, lembrou uma ameaça feita pelo então candidato à presidência norte-americana, Joe Biden, em setembro:

“Assistimos há pouco aí um grande candidato a chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos.”.

Para bom entendedor meia palavra basta e, nesse caso, não é preciso dizer que Bolsonaro fez uso de uma figura de linguagem, “uma retórica”, como fez questão de explicar o vice-presidente Hamilton Mourão, no dia seguinte. Mas será que era mesmo necessária a explicação de Mourão, considerando que até o mais ignorante dos brasileiros saberia disso e entenderia que o presidente jamais teria pretensões bélicas contra os Estados Unidos?

Ora, todos entendem que, com exceção das guerras do período do império, historicamente nunca aplicamos e não aplicaríamos o uso da força contra qualquer outro país, a não ser que fôssemos vítimas de um improvável ataque e tivéssemos que nos defender a qualquer custo (o que já seria difícil, considerando as décadas de atraso tecnológico de nossas forças armadas, consequência da falta de investimentos de todos os governos anteriores em nosso poderio bélico, tema do qual o presidente tem total ciência).

Porém, o fato de parte nossos jornalistas “não conseguirem” compreender isso, pode ter dois significados: o primeiro é que não estão na profissão certa, pois cabe a eles captar e interpretar a notícia e, a partir daí, transmitir de forma honesta e objetiva aos seus espectadores e leitores. O profissional da área, aliás, é preparado na universidade para conhecer profundamente a aplicação da figura de linguagem como fermenta essencial em seu trabalho diário. Ferramenta que também é utilizada cotidianemente entre as figuras politicas, como no caso de Bolsonaro.

Porém é o segundo significado para a “falta de compreensão” dos jornalistas para a retórica presidencial, o que considero mais provável: O ódio e a perseguição ideológica sem fim que imprimem contra a figura presidencial desde sempre, travestidos do que conhecemos como “politicamente correto”. E nem é preciso que Jair Bolsonaro utilize o termo pólvora ou maricas, boiola, gripezinha e toda ordem de palavreado comum na vida de todos os brasileiros que não se escondem atrás do politicamente correto. Se o presidente espirrar ou cutucar o nariz, será o suficiente para a manchete destrutiva e distorcida.

Temos ainda que analisar os fatos que levaram a mais essa polêmica forçada. Biden, que deve assumir a presidência em 20 de janeiro de 2021, se considerarmos a manutenção do resultado apresentado até aqui, fez a ameaça contra o Brasil da “floresta em chamas e demolida” durante debate eleitoral. De lá para cá, mesmo após eleito, não tocou mais no assunto. Ele obteve o efeito que desejava junto à opinião pública, não apenas norte-americana, mas de todo o planeta (pelo menos entre os que aparentam estar “engajados na defesa do meio ambiente”). Ganhou os votos entre esse eleitorado e parou por aí.

O político sabe que deve governar o país número um em emissões de carbono, o CO2, gás causador do efeito estufa. Biden sabe ainda que a floresta amazônica é responsável por absorver 14% deste CO2 (e sofre os impactos), e que isso dá pelo fato de que dezenas de milhões de quilômetros quadrados de outras florestas foram destruídas em todo o mundo nos últimos 100 anos.

Boa parte dessa destruição seja em solo americano ou além de suas fronteiras, “sob encomenda”, promovida por sua expansão industrial e de exploração de minérios, petróleo e toda ordem de riquezas naturais. Biden sabe que cada centímetro da devastação de nosso planeta tem a digital “Ianque” na maioria dos casos. Enfim, ao contrário do que muitos pensam, ele sabe que as queimadas por aqui são em grande parte naturais e que o avanço da devastação vem na mesma medida em que ocorre a recuperação do bioma, em um processo contínuo de ação e reação (fato que os responsáveis por nossa cadeia de notícias seletivas fazem questão de esconder).

Eles são o país mais bem informado do mundo. Possuem serviços de inteligência infiltrados em cada área considerada estratégica e, principalmente, o controle de uma avassaladora rede de satélites.

Faltou ainda aos jornalistas brasileiros “enxergarem” que a fala de Biden em que foram citadas as barreiras ao Brasil, estava carregada de retórica. Ou será que são tão inocentes a ponto de acreditar que os americanos vão mesmo abrir mão de nossas commodities ou tem algum interesse em cortar relações comerciais com um país que pode lhes oferecer acesso a tantas riquezas inexploradas?

Ou, então, quem sabe a solução não seja mesmo a pólvora, como sugeriu Bolsonaro! O poderio norte-americano poderia invadir nosso mar, nossa terra, nossas florestas … com mísseis, balas, bombas e fogo … sim, para os jornalistas ideológicos de plantão e saudosos do dinheiro fácils seria a luta por uma causa justa. Queimariam as pessoas (não fazemos fotossíntese) e as florestas ficariam protegidas.

Vivemos tempos de um jornalismo emburrecido. Mas trata-se de um emburrecimento proposital, forçado pelos que estão no comando dos grandes veículos de mídia, e que vai muito além da hipocrisia ideológica e da falta de caráter. Ironicamente, a neutralidade da notícia foi embrulhada em papel reciclado e jogada no mesmo lixo destinado aos orgânicos.

Uélson Kalinovski - Jornalista

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