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Carta a um condomínio: Trancafiado por regras “contra” o COVID-19

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Muitos dos leitores do JC Online já me conhecem, seja por meus textos na revista A Verdade ou por minhas opiniões expressadas em colunas, aqui no site e no facebook deste importante veículo de comunicação.

Eu sou Uélson Kalinovski, jornalista, morador de Jundiaí (cidade do interior de São Paulo, conhecida como “capital da logística”, riquíssima e com IDH altíssimo).

Assim, me considero uma pessoa mais do que privilegiada. Vivo razoavelmente bem, ainda que agora com dificuldades inesperadas causadas pelo retrocesso econômico em função do absurdo “fique em casa”, e atualmente moro em um condomínio de padrão “médio – alto”, com áreas verdes, jardins imensos e um clube espetacular.

Porém, como trata-se de um local compartilhado por centenas de pessoas, a exemplo do que acontece nos municípios, nele também há algumas regras impostas pós advento do vírus chinês. Criou-se, de cima para baixo (como vemos na política), um grupo diretor para decisões emergenciais. Parte delas, sem dúvida, acertadas.

Outras, todavia, sem qualquer comprovação prática, científica ou de senso coletivo (mais uma vez, refletindo nossa política). Acredito que milhões de brasileiros também passam por situações semelhantes e tem aquela vontade de ir no grupo de Whatsapp do condomínio pra falar o que sente. Querem protestar, mas acabam deixando pra lá e “vão levando”, torcendo pra acabar logo.

Pois hoje não tive "papas na língua” e “descasquei o abacaxi”.

Não quero aqui incentivar brigas ou rixas condominiais, mas fazer o brasileiro pensar. Seja no seu local de moradia, seja na rua, no bairro, na cidade, no país. A não ser que você entenda que está sendo muito bem representado por seu político eleito ou acredita que tudo está tão bom que não precisa mudar.

Confiram, abaixo, o que enviei (não vou postar aqui, mas dezenas já me responderam e apoiaram .. até agora, ninguém rebateu).

Boa tarde a todos. Não sou de falar ou escrever muito aqui no grupo, mas acho que não da mais pra observar e aceitar certas decisões sem contestar parte delas. Resolvi descer um pouco no condomínio pra caminhar. Tarde linda, céu azul e temperatura muito agradável apesar do Sol forte.
Na quadra menor estavam dois garotos (com seus 13, 14 anos de idade), jogando bola tranquilamente, sem importunar, sem aglomerar, sem se fazerem notados. Mas, às 17h em ponto, foram retirados, e o local fechado.
Observei a tristeza de quem ficou o ano todo trancado em aulas online e cujas férias se encerram em poucas semanas. Acompanhei-os de longe e vi que se juntaram a outros dois meninos que estavam sentados no chão (pois os bancos sob os pergolados estão interditados!!!!???).
Sem alternativa, se sentaram nas cadeiras em torno de uma das mesas da churrasqueira principal. Ficaram ali uns 2 minutos no máximo, em silêncio, sem criar problemas, sem bater, sem arrastar, sem depredar, apenas curtindo o "prazeroso direito de fazer nada". Foram convidados a se retirar (sim, eu sei, são as regras!!!!????).
Saíram caminhando aleatoriamente e acabaram 'dando de encontro' com outros pequenos grupos que estavam na mesma situação. Se tornaram dois grandes grupos, agora com sete, oito jovens cada. Desta vez, sem nada para fazer, a não ser caminhar e falar e, principalmente, se aglomerar (justamente o que uma série se regras que para mim fazem pouco ou quase nenhum sentido tenta e não consegue impedir).
Hoje, São Paulo voltou à fase amarela e aqui pulamos para o que acabei de apelidar de "vermelho +", e que simplesmente nao tem o efeito desejado. Eu, por exemplo, o 'velho que trabalhou e se aglomerou lá fora' e que pensou em se sentar por meia hora aqui em baixo pra relaxar, também está andando aleatoriamente e observando duas dezenas de crianças se amontoando em poucos brinquedos, já que a metade deles está interditada. Isso lembra até um certo rodízio de automóveis que um certo prefeito de uma tal gigantesca metrópole tentou impor.
Nenhum carro e poucos ônibus entupidos ... a velha e boa regra do separar para aglomerar.
Regras, aliás, que os políticos, celebridades e figuras públicas seguidas, obedecidas e admiradas pelos brasileiros adoradores do supérfluo e do medíocre, ditam, proclamam, vigiam, mas não pensam duas vezes em burlar quando em suas vidas íntimas. Na tela e na página social são os exemplos do fique em casa. Na intimidade, estão em Miami, nos paraísos tropicais e nas festas com amigos e familiares.
Ah, mas aumentaram os casos em Jundiaí, aumentaram os casos no condomínio e etc. Pois os casos aumentaram no mundo, resultado típico e natural pós processo de reabertura. Algo que qualquer infectologista pode explicar. Estou dizendo aqui que não temos que tomar mais cuidado? Não.
Estou dizendo que o cuidado, baseado em regras que em momento algum foram tomadas com base na ciência, tende a piorar e ter o efeito contrário (e não adianta afirmar que estão resolvendo tudo com base na ciência, pois é uma mentira vergonhosa, principalmente quando vimos todos os governos do mundo e entidades como OMS e ONU batendo cabeça, indo e voltando em suas decisões que não passam de verdadeiros balões de ensaio.
Viramos cobaias da brincadeira politica de uns poucos e, confesso, estou me sentindo como um hamster em uma gaiola. Só que amanhã, tenho várias reuniões, portanto, tenho que sair, contatar outras pessoas e voltar pra casa, passando por dentro do condomínio (estou treinando para levitar, mas ainda não consegui). Em seguida vou ter contato com esposa e filhos, que vão descer e ter contato com outras crianças e pais.
Daí, a exemplo do que tive que fazer semanas atrás, em alguns dias tenho que pegar um voo comercial, também a trabalho, também lotado e compartilhando o mesmo ambiente hermeticamente fechado, por horas.
Faço o exame e dá negativo (meu irmão, médico, disse que a confiabilidade do diagnóstico, positivo ou negativo é de apenas 50%, e deve saber o que fala, pois testa centenas de trabalhadores da coleta pública, todos os dias). Então volto pra casa e continua a rotina de contatos que não podem ser impedidos (a não ser que as famílias se internem em bolhas e entrem em hibernação para conseguir sobreviver por mais seis meses).
Bem vou parar por aqui, mas não sem antes contar que os bancos não interditados, no fundo do condomínio, estão cheios como nunca antes estiveram. Afinal, ja que nçao dá pra se espalhar em um espaço tão amplo, vamos "ficar grudados" em um espaço reduzido.
O vírus agradece. Feliz 2021!!!

Bem, caros leitores, é isso. Confesso que recebi algunas centenas de aplausos no grupo (estou até pensando em me candidatar pra conseguir uns 200 votos nas próximas eleições municipais), mas podem ter certeza de que serei alvo de alguns olhares fulminantes, escondidos nas sombras, nos próximos dias. Talvez siga o conselho da minha sogra, cheia de superstições e tome um banho de pipoca pra espantar o mau olhado!!!

Uélson Kalinovski. Jornalista.

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