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Quem é a mãe?

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Subjetivamente a mãe se realiza no seu bebê, a geradora da vida, a idealizadora de futuros e a mantenedora da vida; mas é a mesma que gera neuroses transferenciais e racionaliza a vida de seu filho diante a perspectiva projetiva de seus anseios.

É interessante a perspectiva de ser filho de alguém ser diferente do: “ser marido de uma mãe”, como é mais ainda estranho ao psicoterapeuta de uma criança e sua mãe.

Nesses tantos anos de psicoterapia, tanto com as crianças e adolescentes, como com os adultos, a mãe é objetivo de percepção física e afetiva em tal grau que crianças e adultos estão igualmente envolvidos nas transferências as quais geraram igualmente as fantasias inconscientes que carregam consigo nas diferentes fases da vida.

É notório que crer, e como muito se fala erroneamente da teoria de Freud quando se citam maldosamente: “a culpa da mãe”, na ideia da centralização desta mãe na vida do sujeito, obscurecendo e diminuindo a participação de outros sujeitos formadores do que chamamos de apego humano. Sou a favor da notória utilização e aplicação do termo “holding” de D. W. Winnicott, fazer do ambiente um campo facilitador, o suporte necessário da confiabilidade, a mãe é um espelho e uma integradora ao ambiente para a experiência continuada da criança em seu meio. Diria muito simploriamente: ninguém vai ao mundo se não antes pela mãe (o bebê não existe fora da relação com a mãe).

Todo esse processo é primeiramente físico, ora quando a mãe embala no colo, dá o banho no bebê, fala, canta, sorrir, abraça, beija... isso ajuda seu bebê a superar um estado puramente animal (instintivo) a outro categoricamente da percepção criativa do mundo – o ser real – uma realidade compartilhada. Segurar e manipular bem a criança como diria o próprio, favorece o processo de maturação psicológica do bebê, o contrário gera desadaptação, é o contexto da “mãe suficientemente boa”.

Um bebê é um ser incapaz de gerir-se sozinho, sempre irá necessitar do apoio de seus cuidadores primários e não somente a mãe. John Bowlby refere-se também aos cuidados primários que envolvem primeiro as condutas de satisfação animal: fome, sede, calor, abrigo e etc., e em segundo o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e sociais. Esses são mecanismos básicos que formam o que já citei o chamado apego: é homeostásico (equilibração), está focado basicamente na proteção e segurança, dependendo do tipo de relação de afeto que tenha se estabelecido entre a criança e seus cuidadores primários, isso irá afetar o estilo de apego do indivíduo em sua vida adulta.

Por isso, e por outras, informei que as vivências infantis eclodem na vida adulta, mas obstante há a refutação da ideia de que somos determinados por isto. Contudo, é interessante notar que nossos estilos de comportamento de proximidade com os outros que é biológico, mas que pelo “holding” passam a ser também psicológico, ou seja, é um sistema de adaptação necessário para a sobrevivência da espécie, como é um sinal aprendido de trocas de afeto que formalizam as relações sociais e a adaptação do sujeito agora como personalidade na realidade e no contexto ao mundo e as pessoas.

A. T. Beck o pai da Psicoterapia Cognitiva diria se tratar da formação do que ele define como tríade cognitiva: quem sou? Quem são os outros e onde vivo? Como será o meu futuro? E é interessante nas experiências clínicas perceber o quando cada paciente necessita encontrar e reencontra a figura materna para poder achar a chave da sua relação consigo, com as pessoas/mundo e seus anseios refletidos nas percepções de seu futuro.

Tudo bem, eu disse que a mãe não é um fundamento em si, e que sozinha nada constrói se o ambiente não é favorável, aliás, é exatamente o ambiente que gera aprendizagens, mas a mãe é o ambiente espelhado ao mesmo que é o espelho que reflete o ambiente para seu filho, vejam, falamos tanto das mães que geraram seus filhos como as mães adotivas, e isso é uma lacuna que esbarramos muito nos trabalhos com nossos pacientes.

A culpa é da mãe? Várias vezes fui confrontado pelas mães (biológicas ou adotivas) sobre sua culpa no problema do filho. Continuo dizendo que não! A culpa é de quem? De ninguém. Ninguém controla todos os acontecimentos e os manipula a bel prazer.

Vejam, a mulher contemporânea é a mulher voltada ao mundo do trabalho, a mulher descrita em muitos estudos clássicos era a mulher doméstica, e é preciso sempre olhar essa questão de quem é a mãe no contexto atual, sempre com o olhar voltado a pós-modernidade e por isso, a mãe do tempo. Do tempo? Ao tempo do cuidado, a mãe suficientemente boa e a mãe de apego saudável, é mãe do tempo de qualidade, a questão nunca foi quantitativa.

É verdade que bebês necessitam de proteção e segurança nos primeiros anos de vida, mas é verdade também que o papel de integração ambiental vai diminuindo com o passar dos anos com o amadurecimento da criança, contudo, mesmo que a mãe seja obviamente a maior protagonista na relação familiar, haja vista, a dualidade compreendida na intimidade entre mãe e filho, a figura paterna é singular.

O homem, “marido de uma mãe”, diria Winnicott, este não vai poder reconciliar-se com sua mãe, tornando-se mãe, apenas o cabe se aproximar da consciência do “ser mãe” a partir da relação saudável estabelecida no seu lar, onde é facilitador de um ambiente favorável para a esposa-mãe e seu (s) filho (s). Causando uma certa polêmica não poderia me furtar em afirmar que ser mãe é antes de tudo saber escolher um pai “suficientemente bom” para o filho (futuro).

Esse é o outro paradigma da relação paciente-mãe: o pai. É notório que a reconciliação com a mãe suficientemente boa, sempre passa por um pai ora, negligente, ora ausente, ora imaturo, ora autoritário, e em tantos casos, terem levado a mãe a perder a capacidade de confiança do seu filho, e sendo o espelho refletor de todo o desarranjo familiar.

A mãe não consegue ser natural, seus comportamentos são emitidos por suas frustrações e inseguranças, e este fenômeno é cada dia mais comum, afinal, mães contemporâneas buscam por pais contemporâneos, ou seja, por pais mais presentes e participativos.

Pai é o porto seguro tanto da esposa-mãe como do filho, ele possibilidade a dualidade mãe-filho o que já vimos ser importante, por simplesmente, ele também se fazer duplicar: pai e mãe.

O olhar do psicoterapeuta que foi filho, e que lida com mães e filhos não é totalmente vazio de sentimentos, contudo cisivo, é o olhar de quem faz a observância sobre quem é a mãe no sentido objetal, mas que nunca pode se refutar de ser um ser que já possui uma identidade moldada por suas experiências infantis e maternas. A mãe é neste caso o centro, o equilíbrio e o fiel da balança da vida de qualquer sujeito, o molde e a inspiração de todos os dias.

Robson Belo

Psicólogo, psicopatologista e psicoterapeuta 

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Psicólogo

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