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Encontro com assassino do pai, traz sensação de impunidade e faz advogado desistir da profissão

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O primeiro caso de um jovem advogado, o fez desistir da profissão.

Por força de um cruel destino, Rafael Guimarães, no início deste ano, em Porto Alegre (RS), resolveu atuar como assistente na acusação do assassino de seu próprio pai.

O assassino, Guilherme Antônio Nunes Zanoni, matou por esfaqueamento, no dia 05 de novembro de 2015, Oscar Vieira Guimarães Neto, pai do advogado Rafael Guimarães.

Zanoni, logo após o crime, foi preso em flagrante.

Todavia, na última sexta-feira (15) por decisão dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o réu foi colocado em liberdade, por força de um habeas corpus.

Para os magistrados, pelo fato de Zanoni também ser advogado, ele deveria ficar preso em uma sala com instalações e comodidades adequadas a alguém com Ensino Superior, a chamada ‘Sala de Estado Maior’. Então, prosseguindo no absurdo entendimento, como em Porto Alegre não existe uma sala nessas condições, o criminoso, tido como extremamente perigoso e psicopata, segundo Rafael, foi colocado em prisão domiciliar.

O encontro de Rafael Guimarães com Guilherme Zanoni aconteceu na rua, conforme ele relata: ‘Eu vi ele passando e não acreditei que era, porque sabia que ele estava preso. Passei reto. No fim da rua, virei pra trás e ele estava me olhando. Nesse momento tive certeza de que era ele e que também me reconheceu’, lembra.

Após o encontro, Rafael diz que perdeu a confiança na Justiça e no Facebook fez o desabafo e anunciou a sua desistência de seguir na profissão. Leia abaixo: 

‘A partir de hoje não sou mais advogado. Se precisarem de algum, não me procurem. Aliás, não procurem nenhum, principalmente se vocês forem acusados de assassinato, afinal a lei já vai te garantir liberdade e mais um monte de benefícios.

Eu achei que era forte.

Há 8 meses perdi meu pai da forma mais brutal que alguém pode imaginar. Precisei de muita força pra suportar a situação e de mais força ainda pra atuar, juntamente com o Ministério Público, no processo, como assistente de acusação. Foram diversas audiências cara a cara com o assassino, que, até então, estava recolhido no presídio central. O fato de ele estar preso amenizava a dor que eu sentia, que eu sinto. Fiz o que pude pra manter o assassino preso, por mais que eu não atue nessa área.

Ontem, saindo do meu trabalho, me deparo com quem na rua?

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul concedeu habeas corpus para que o assassino do meu pai (aquele que matou com golpes de faca, deixando meu pai agonizando até a morte, sem motivo algum) possa responder ao crime fora da cadeia.

Quem será a próxima vítima até que seja julgado daqui a vários anos?

Fico pensando no quanto eu estudei pra me tornar advogado, pra chegar agora e minha vida se encontrar nessa situação. Eu confesso que tenho vergonha da profissão que escolhi. Por isso, a partir de hoje, não me procurem mais nesse sentido. Eu peguei minha carteira da OAB há bem pouco tempo, mas já tenho vergonha de andar com isso.

O assassino está fora da cadeia. Repito: um assassino. Não é um ladrão de galinha, nem um ladrãozinho de carteira. É alguém acusado de homicídio triplamente qualificado e que confessou o crime. Vocês sabem o que é isso? Se não sabem, procurem ler do que se trata, porque como falei, eu não sou mais uma pessoa que pode falar sobre isso.

Eu me formei em Direito, mas não sei responder qual direito eu tenho. O assassino tem direito de estar com a família, respondendo ao processo em casa. Que direito eu tenho? Não me garantiram nenhum direito, nenhum. O único direito que eu tive foi o de enterrar meu pai.

O único que continua preso e sem direito a advogado é o meu pai. Habeas corpus nenhum tira ele de onde está. Ele nunca mais sairá do lugar onde foi colocado por essa pessoa que falei que está solto por aí.

Na verdade, eu e meu irmão também estamos presos, pra sempre. Presos à ideia de que nunca mais veremos nosso pai.

Já o assassino, está a desfrutar do direito que lhe foi concedido: estar em casa com a família.

Eu achei que era forte, mas desisto.’ 

da Redação

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