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O posicionamento ideológico de Moro está claro: É a terceira via de esquerda

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O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro anunciou publicamente a sua filiação ao Podemos com a intenção de concorrer à presidência da República em 2022. Mesmo sem a confirmação pessoal, o ato mira a disputa pelo Planalto – os próprios integrantes do partido reafirmam tal constatação aos quatro cantos.

Deu a lógica. O Podemos já protagonizou inúmeros rachas em votações no Congresso Nacional, mas se uniu de forma coesa em um único ponto: a defesa da Lava Jato. Se tem algo que se pode colocar como marca registrada do partido é o lavajatismo. Moro fez a escolha mais óbvia possível dentre as opções apresentadas na atual gama de agremiações partidárias.

Falem o que quiserem e o que bem entenderem sobre a figura de Sérgio Moro como juiz da Lava Jato. Ele não é mais um mero funcionário público – mesmo com poderes infinitamente maiores do que a grande maioria. Ele é político, com ideias mais ou menos claras a respeito dos nossos desafios como nação.

Ao analisarmos o que Moro pensa em palavras e atos, a conclusão inescapável é a de um candidato nada diferente dos demais, entregando as mesmas soluções oferecidas pelos membros da dita terceira via. Além disso, pelo fato de Moro não deixar nada a desejar em matéria de esquerdismo, ele nada mais é do que a terceira via da esquerda, atrás apenas de Lula e Ciro.

Moro defendeu o aborto em sua tese de doutorado, mais especificamente a decisão da Suprema Corte americana no caso Roe vs Wade. Para quem não sabe, o caso envolvia uma texana que desejava realizar um aborto ao alegar ter sido estuprada – algo que não aconteceu. A questão chegou até a Suprema Corte, que deu ganho de causa e reconheceu o ‘’direito’’ dela de abortar. Tal decisão criou a brecha para o aborto ser legalizado nos Estados Unidos, virando um símbolo para a causa macabra.

Quando era ministro da Justiça, Moro nomeou Ilona Szabo para o Conselho de Políticas Criminais. A sra. Ilona é uma esquerdista convicta, daquelas de fazer inveja a qualquer militante de DCE.

Como diabos o então ministro nomeia alguém com ideias totalmente opostas às do governo que ele fazia parte?

Ou é muito desconhecimento, ou é má intenção. Seja lá o que for, Moro provou que não é direitista coisa nenhuma. Nunca se viu uma defesa sua de qualquer pauta liberal ou conservadora. O contrário, sim.

Sua candidatura não passa de uma versão mais ou menos arrumada das principais apostas da esquerda. A rusga que as esquerdas têm com Moro pela Lava Jato não será suficiente para colocá-lo na direita.

Moro sempre negou a sua entrada na política. Em meados de 2016, quando ainda era juiz e símbolo da Lava Jato, disse não ter perfil de político. Não julgo a sinceridade da sua posição – ou mesmo a falta dela. Todos nós podemos pensar uma coisa, e com o decorrer do tempo, mudar de ideia. Mas é muito significativo que o sr. Moro entrou na política e confirmou praticamente todas as acusações de seus críticos a sua atuação como juiz.

Os defensores mais ardorosos de Sérgio Moro e da Lava Jato gostam de posar como defensores únicos do combate à corrupção. É quase um atestado inquestionável de caráter. Se o sujeito é lavajatista, automaticamente ele é um herói de gibi em um país de bandidos desavergonhados, um cavaleiro solitário da ética – a menos que esteja do lado de outros lavajatistas. O monopólio das virtudes tão praticado pela esquerda – só ela detém as boas intenções e sentimentos – cai como uma luva nesse caso.

Tenho uma péssima notícia aos partidários da Lava Jato: ela não é tão virtuosa assim. Ilegalidades foram cometidas nas investigações, nas denúncias e nas sentenças, ferindo o devido processo legal. Aqui já não é uma questão de acreditar na inocência dos políticos envolvidos na operação – eu mesmo não creio que figurinhas tarimbadas do establishment nada tenham feito com a chave do cofre. Quando uma ilegalidade é cometida, um precedente é aberto, e no Judiciário, um precedente aberto ilegalmente é perigoso. Não por acaso eu reafirmo que a Lava Jato é pai e mãe dos inquéritos do fim do mundo abertos pelo STF. O combate à corrupção feito de qualquer maneira pode ser utilizado como pretexto para perseguição política, e é justamente isso que está acontecendo com a caçada aos conservadores.

Falando nisso, o que Moro disse quando cidadãos foram presos, censurados e perseguidos nos supremos inquéritos dos deuses togados?

“A prisão de radicais que, a pretexto de criticar o STF, ameaçam explicitamente a instituição e seus ministros, é correta.”

Ou seja, ele é no mínimo um cúmplice da ditadura togada que apequena e ridiculariza o Brasil. Aos liberais que pensam em votar no sr. Moro, lembrem-se de Rui Barbosa: “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer.”

Em suma, a candidatura de Sérgio Moro é mais do mesmo. O que difere a sua plataforma das outras defendidas pelos enésimos representantes da terceira via? Absolutamente nada. Mais: em matéria de esquerdismo, o sr. Moro não fica atrás de Lula e Ciro Gomes. Mesmo com apoio de tipos como Catarina Rochamonte e Felipe Moura Brasil, ele não será direitista. Quem é liberal ou conservador – não somente antibolsonarista histérico – não deveria sequer cogitar o voto em Moro.

Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista

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