O Boi é o culpado

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 Alguns anos atrás a cidade de Copenhague foi escolhida para a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática e levou a população mundial, através das facilidades da globalização dos meios de comunicação, a inteirar-se do grave problema dos desastres climáticos. São cenários apavorantes visualizados até hoje: enchentes, secas, degelo polar, aumento do nível dos oceanos, ilhas e pequenos países desaparecendo debaixo d’água, dentre outros. Parece até o “fim do mundo” bíblico. A coisa é séria e os responsáveis são bem conhecidos.

A resposta é simples, pois os maiores culpados pelos desastres da natureza são os países ricos e industrializados que, movidos pela ganância e pelo controle de poder, estão destruindo o nosso planeta. Neste grande evento se reuniram representantes de 192 países, além de uma multidão de pessoas não convidadas que fizeram um barulho danado pelas ruas da histórica cidade, enfrentando a polícia e, apesar da doce ilusão, não lograram influenciar em absolutamente nada nas decisões dos governantes.

Isso faz lembrar o velho Congresso de Viena de 1815, uma reunião realizada na Europa para refazer o seu mapa após as guerras napoleônicas. Em tese, o evento dizia respeito a todos os atingidos pelo expansionismo napoleônico, fossem nações, povos, tribos, clãs familiares e demais atingidos. Mas, o que se viu foi o controle das grandes nações que manobraram as decisões em benefício próprio e em detrimento dos demais.

Os resultados recentes de Copenhague não foram diferentes. Basta relembrar o Protocolo de Kyoto, que pretendia, ou melhor, exigia que os países industrializados reduzissem em 5.2 suas emissões de gases de carbono, ou seja, de gases estufa na atmosfera, em relação aos níveis de 1990.  O que aconteceu?  Os EUA da era Bush recusaram-se a ratificá-lo com a alegação descarada de que seria danoso à economia norte-americana, sem levar em conta que o país, na época, era responsável por 36,15% da emissão do gás estufa de todo o planeta.

Desse modo os países ricos dividem os prejuízos com os chamados países emergentes (nos idos tempos da “guerra fria” eram chamados de países “em vias de desenvolvimento”). Como era de se esperar, o Brasil na época esteve na alça de mira, pagando o preço de sonhar em viver no mesmo plano que as nações ricas e poderosas. E pareceu mesmo. Esbanjando riqueza, o Brasil levou para Copenhague uma “pequena” comitiva de aproximadamente 800 pessoas.

Esse encontro serviu também para mostrar um fato relativo ao efeito estufa, no mínimo, inusitado. Um estudo apresentado por pesquisadores da Universidade de Brasília chegou à conclusão que somente a pecuária é responsável por 50% do gás estufa emitido em nosso território. Nisso estão incluídos o desmatamento para a formação de pastos e as queimadas provocadas para a renovação do capim. Nessa composição desastrada, que parece cômica se não fosse trágica, está a fermentação intestinal bovina que produz quantidades surpreendentes de gás metano, um dos gases de maior efeito negativo sobre o aquecimento global. Em um jornal televisivo, a Globo por autocensura afirmou que eram “arrotos” dos bois. Não é não. São os fétidos “puns” dos bois. O que me assusta é que só no Pantanal existe milhões de cabeças de gado, produzindo estes gases e, por consequência natural e fisiológica, muita matéria fecal.  Felizmente, boi não voa...

Mas creio que não preciso ficar preocupado, pois o ex-presidente Lula, quando governava, falou abertamente na “merda”, só não sei se era de boi ou de gente mesmo. Por isso não me surpreendi ao ler nos jornais de todo o país, durante uma das assinaturas de contratos do programa Minha Casa, Minha Vida, ao saber que o então presidente disse em seu discurso: “Eu quero é saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra”.

Digamos que a primeira parte ele acertou, posto que disse o que todo mundo já sabia.  Quanto à segunda, .... sem comentários!

Agora, na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, declaramos simbolicamente que o planeta precisa recuperar o verde, as florestas, o clima e nosso ambiente natural como um todo. A mensagem também focou a multidiversidade cultural étnica, racial e de gêneros.

Foi bonito. Precisa colocar em prática.

Valmir Batista Corrêa

Foto de Valmir Batista Corrêa

Valmir Batista Corrêa

É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

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