A ressurreição de Allende e o segundo suicídio do Chile

20/12/2021 às 11:01 Ler na área do assinante

Como aconteceu em 1970, a sociedade chilena, livremente e nas urnas, decide sucumbir ao desastre coletivista. Tudo foi mais rápido e fácil do que parecia. Na primeira manhã, até mesmo cenários complexos de debates na Justiça foram discutidos e supostos boicotes relacionados ao transporte foram denunciados. No entanto, não demorou mais de uma hora e dez minutos após a abertura das urnas para confirmar que Gabriel Boric será o próximo presidente do Chile.

José Antonio Kast ligou para ele e reconheceu a derrota.

Com metade dos votos apurados e os distritos metropolitanos apurados, a vantagem do candidato socialista ultrapassava os dez pontos, então tudo foi dito logo no início.

Pela segunda vez, depois de 21 anos, os chilenos decidem se suicidar nas urnas. Chegando às 8 da noite, hora local, e com mais de 90% dos votos apurados, a diferença permaneceu a mesma.

Naquela época, podia-se pelo menos culpar o sistema eleitoral. Sem segundo turno e apenas com a necessidade da maioria, em 4 de setembro de 1970 Salvador Allende obteve 36% dos votos. Com 35% nas mãos de seu concorrente mais próximo e 28% na terceira força (espaços moderados e centristas), o comunista derrubado por Augusto Pinochet não teria chance em uma votação. Aqui o desastre foi premeditado.

Kast optou por não soar os alarmes e parabenizou o vencedor, como se fosse apenas mais uma opção no jogo democrático. Ele sabe que não, mas, dessa forma, procurou contribuir para não colocar lenha na fogueira.

O Parlamento terá um papel fundamental no que está por vir, para onde o Poder Executivo irá para a concentração de poder e a gestão absoluta da economia. Resta saber se Gabriel Boric, ao aprofundar o modelo populista, continua contando com a coalizão que o ajudou a chegar ao poder.

A diferença foi maior do que o esperado, já que os analistas tinham um cenário mais equilibrado, mas não. É evidente que a maioria dos chilenos decidiu voltar às horas sombrias do passado, embora tenham os resultados em tempo real do exacerbado estatismo cruzando a cordilheira.

Noite negra para a região. Comemore o fantasma de Allende e o projeto San Pablo Forum. Um grande investimento no campo das ideias, que ousou sonhar que até mesmo o exemplar Chile poderia cair nas garras do socialismo. Assim foi. Será necessário começar a dar os debates no campo intelectual e moral, visto que, com resultados no campo econômico, desenvolvimento e bom senso, é evidente que não basta.

Marcelo Duclos. Nasceu em Buenos Aires em 1981, estudou jornalismo na Taller Escuela Agencia e concluiu o mestrado em Ciência Política e Economia na Eseade. É colunista de opinião e músico.

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