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Qual o devido valor de Olavo de Carvalho?

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O escritor, filósofo e professor Olavo de Carvalho teceu críticas ao presidente Bolsonaro em uma live denominada ConservaTalk. Ao demonstrar desânimo com o atual governo utilizando o tom ácido corriqueiro, Olavo recebeu em troca comentários negativos de alguns bolsonaristas – que viram nas suas críticas um rompimento ou mesmo tentativa de derrubar o presidente.

Algumas coisas precisam ficar bastante claras a respeito deste assunto. Não tenho a menor intenção de jogar mais lenha em uma fogueira que não deveria sequer existir. Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro não são inimigos, seus admiradores estão no mesmo barco e é pouco inteligente provocar uma troca de farpas entre ambos. Meu compromisso é com a realidade dos fatos, e é por isso que faço este humilde artigo com o objetivo de esclarecer a questão.

Algo que realmente me incomodou foi a tentativa de desmerecer o professor Olavo, julgando-o totalmente dispensável para o ressurgimento da direita brasileira e a consequente eleição do presidente Bolsonaro em 2018. Tal equívoco é, na melhor das hipóteses, o começo do novo limbo para os direitistas, além de demonstrar que eles não aprenderam nada com seus pares antepassados – postos para fora da vida pública a pontapés pelos comunistas.

O trabalho dos intelectuais é o fator que garante uma continuidade histórica a qualquer projeto ou corrente política. Hugo Von Hofmannsthal já dizia que ‘’ nada está na política de um país que não esteja na sua literatura’’. O dramaturgo austríaco está coberto de razão: primeiro vem o pensamento, depois a ação. A literatura registra o imaginário para depois a política confirmá-los na prática. Um exemplo é o banditismo no Brasil. Antes um traço repudiado por todos, a criminalidade foi abraçada pela esquerda e louvada primeiro nos livros, como o clássico ‘’Capitães de Areia’’, de Jorge Amado. Depois disso, ela foi relativizada ao ponto de nosso país possuir mais de cinquenta mil homicídios por ano – mais que muitos países em guerra.

Pois bem, qual era o universo intelectual do Brasil antes do trabalho de Olavo de Olavo? Hegemonia esquerdista total em todos os meios da vida pública. Nas escolas, nas igrejas, nos partidos políticos, no jornalismo e no show business a régua mental da esquerda era a única medida utilizada pelos seus integrantes, sendo proibido qualquer traço direitista possível. Os comunistas começaram por ocupar os espaços culturais até dominar tudo e culminar na celebração do ex-presidente Lula por não haver nenhum candidato de direita nas eleições presidenciais de 2010.

Olavo de Carvalho conseguiu fazer a direita ressurgir das cinzas apenas com seu trabalho jornalístico. A coletânea de dez volumes intitulada Cartas de um Terráqueo ao Planeta Brasil – que reuniu seus artigos no Diário do Comércio – é a melhor prova disso: Olavo introduziu conceitos de ciência política, filosofia e história que não circulavam no país, além de noticiar fatos jogados para debaixo do tapete pela grande mídia.

A sua ação individual no campo das ideias mudou o curso dos acontecimentos no Brasil. Termos como ‘’socialismo fabiano’’, ‘’teatro das tesouras’’, ‘’marxismo cultural’’ e ‘’gramscismo’’ passaram a ser mainstream na direita brasileira por sua causa. Negar a importância do seu trabalho e mesmo a contribuição para a guinada à direita dada pelo eleitorado que escolheu Jair Bolsonaro em 2018 é cegueira acompanhada de uma burrice incurável. Alguns dizem orgulhosamente nunca ter ouvido falar de Olavo de Carvalho antes da eleição do presidente Bolsonaro, como se a ignorância fosse uma régua do que é bom ou ruim, do que existe ou não. É a ostentação da incultura como troféu – traço dos medíocres.

Se Olavo fosse mesmo insignificante e a direita não dependesse dele para existir, por que diabos o país ficou tanto tempo preso aos grilhões da hegemonia esquerdista? Se Bolsonaro não deve nada a ele e sempre foi um legítimo conservador, qual a razão de ter votado em Lula em 2002, ter um histórico de defesa estatista e nunca ter apresentado um programa autenticamente conservador antes? Olavo de Carvalho já falava do Foro de São Paulo e da ameaça comunista representada pelo triunfo do petismo antes mesmo da primeira vitória de Lula.

O presidente Bolsonaro mudou suas ideias a respeito da economia, passou a combater o aborto e a defender de maneira mais incisiva esses valores na política. Graças a Deus. Suas mudanças foram bastante positivas, merecedoras de elogios sinceros. Não foi por outra que ele venceu a eleição de 2018 e ocupa a presidência da República. O ambiente intelectual propício para a sua ascensão foi criado por Olavo de Carvalho.

Ou vocês acham que o establishment comemorou o afastamento dos seus alunos mais destacados do governo por qual razão – a não ser a sua antipatia ao homem que revelou suas nuances outrora ocultas? A esquerda odeia Olavo de Carvalho pelo seu papel intelectual, bem como por enxergar na sua influência um risco ao seu predomínio histórico. Quando alguns militares governistas resolveram cuspir na sua obra e disparar impropérios a ele – motivados pela inabilidade política corriqueira dos homens de farda –, a grande mídia e a classe política ficaram do lado dos generais em uníssono.

Olavo de Carvalho tem o mérito de ter reabilitado uma corrente política que jazia sem que ninguém desse por sua falta. Isso é fato inegável e seus inimigos reconhecem isso. Renegá-lo e difamá-lo por críticas ao presidente Bolsonaro – que nada mais são do que conselhos de quem o quer bem – é um erro imperdoável. A direita não pode se dar ao luxo de cometê-lo.

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Carlos Júnior

Jornalista

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