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Observações elementares sobre o real e tenebroso cenário político para 2022

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Por elementar constatação empírica, algumas observações preliminares merecem o apropriado realce, na presente conjuntura (de ano eleitoral), em cotejo com as costumeiras e facciosas narrativas de ocasião, para fins de simples derivação lógica em favor de um adequado e realista exame do intrincado cenário político vigente, em seus elementos constitutivos, tendo por base o encaixe de algumas das principais (e decisivas) peças do quebra-cabeça, devidamente parametrizadas, a saber:

a) PARTIDOS POLÍTICOS - Se os partidos políticos estivessem, realmente, comprometidos com os interesses do povo e o bem do país – e não, exclusivamente, com os de suas facções internas –, jamais teriam aprovado uma legislação que protege a corrupção e o crime (autoproteção), tampouco um escandaloso Fundo Eleitoral, alimentado com dinheiro público, à revelia da vontade popular, que os exime de conquistar suporte financeiro espontâneo, junto aos respectivos apoiadores, exclusivamente por credibilidade e mérito próprio (como seria o desejável);

b) CULTURA POLÍTICA - Se a pandemia da Covid-19 tivesse sido enfrentada, suprapartidariamente, com a condigna e cabida reponsabilidade pública, assim como encarada, republicanamente, como uma guerra de todos (unidos) contra um único inimigo comum (o vírus) – e não, oportunisticamente, como “arma política”, a evidenciar, com cabal nitidez, a indignidade e o (mau) caráter das elites dirigentes –, o obituário de tão pesarosa estação e os escombros econômicos e sociais daí decorrentes, provavelmente, teriam sido outros;

c) PODER JUDICIÁRIO - Se o STF, a “Corte Suprema” (por dever, guardiã da ordem constitucional e do Estado de Direito) fosse, de fato (como de sua institucionalidade é esperado), decorosa, justa e isenta em sua atuação, jamais legislaria (substituindo-se ao Parlamento), ou agiria politicamente (como se partido fosse), ou interferiria em outros Poderes (de forma imperial), ou abusaria de sua autoridade (restaurando o arbítrio), ou perseguiria quem quer que seja (flertando com a tirania), ou falaria fora dos autos (em autopromoção midiática) ou, por fim, cultivaria, no próprio (e distorcido) espelho, tão famigerada (e doentia) egolatria de costume – que lhe subtrai, gradativamente, respeito, apreço e credibilidade institucional;

d) SISTEMA ELEITORAL - Se o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) visasse, acima de tudo e de todos, ao ensejado papel republicano de imparcial e incorruptível “chanceler” de defesa e validação da vontade popular expressa nas urnas (sem o que não há democracia possível), estaria terminantemente empenhado em garantir o máximo possível de transparência ao sistema de votação – com a incorporação de todos os dispositivos tecnológicos disponíveis que conferissem maior confiança ao processo –, ao contrário de protagonizar, na contramão de ofício, justo postura inversa, arrogando-se o equivocado e despótico papel de “supremo tutor” da nação, sem qualquer respaldo constitucional – e destilando tumulto, tensão e definitiva desconfiança em seu desempenho jurisdicional;

e) MEIOS DE COMUNICAÇÃO - Se as notícias veiculadas na grande mídia fossem verdades pautadas em fatos (como prescreve a ética jornalística), e não militantes e aleivosas narrativas, a hegemonia de suas versões jamais teria sido perdida para a malha polissêmica das redes sociais e de seus “vulgares” blogueiros e youtubers – como, por ela, hipocritamente, são reputados –, prescindindo-se, ademais, os donos do “quarto poder”, de ter, agora, de apelar, vergonhosamente, ao “tapetão” do Congresso Nacional e do STF para reaver, por anojoso cerceamento e censura de seus antagonistas, o monopólio perdido da informação;

f) PESQUISAS ELEITORAIS - Se os resultados das pesquisas eleitorais fossem, com efeito, minimamente fidedignos (tecnicamente verdadeiros), não haveria, por obviedade, necessidade da deflagração orquestrada de tamanha “guerra” em movimento, com arregimentação de tantas forças políticas, de todos os matizes, contra um único e seletivo adversário (o Presidente da República), já reputado, antecipadamente, por essas mesmas estatísticas oficiosas, como candidato inexoravelmente “derrotado”.

Este, pois, é o nefasto e inconfiável quadro “institucional” que se estampa no horizonte, sinteticamente diagnosticado em sua crua (e desesperançosa) realidade presente, a conformar o “nexo” e o “plexo” da dinâmica política ora em curso, com tendência à radicalização, nos meses vindouros, de seus ameaçadores e fétidos “atributos” – e sem qualquer outra perspectiva, a curto prazo, de reversão dos fundamentos balizadores de sua perniciosa substância e alarmante performance.

Conclusão óbvia: no Brasil (como, aliás, na maioria dos países da América Latina), a democracia “representativa” (supostamente expressiva da vontade popular) é uma farsa; a “república” (prevalência do interesse geral da sociedade) inexiste; o “Estado de Direito” (surrupiado pelo próprio Judiciário) é uma fraude; os meios de comunicação de massa e os institutos de pesquisa, de costas para a ética profissional e jornalística, manipulam, despudorada e impunemente, a informação (fake news) ao sabor de seus propósitos corporativos e financeiros; e o poder de mando efetivo do sistema político é manobrado, em última instância, por um “Estado paralelo” (deep state), não eleito (ilegítimo), sob a égide e a tutela de privativos grupos financeiros e organizações criminosas (a eles associadas), que subjugam e subalternam atores individuais e institucionais (por suborno ou chantagem) aos seus “caprichos” de ilimitada (e delituosa) lucratividade, cimentando um “mecanismo” de dominação sempre mais autoritário e totalitário, que vai se solidificando no tempo sob a capa falaciosa de um ordenamento coletivo “socialmente mais justo” e “politicamente (mais) correto”, legitimado pela alienação imperceptível das novas gerações, integralmente anestesiadas (por indução programada) em suas “bolhas tribais” de consortes identitários autorreferentes, alheadas do conjunto mais complexo e sobredeterminante da realidade, em sua totalidade – e, assim, reduzidas a meros (e “funcionais”) fragmentos(bits) da teia sistêmica, manipuláveis e substituíveis, a qualquer tempo (e sem resistência), pelos verdadeiros donos do poder.

Dito em outras (e poucas) palavras: não há, de fato, democracia “no pedaço”; logo, as eleições, no caso, são inúteis e enganosas (“eleição não se vence, se toma”); por conseguinte, a política não passa (nas condições descritas) de uma pervertida (e caríssima!) pantomima – e o povo (as massas), ao fim e ao cabo, de um burlesco e inofensivo palhaço coletivo (para deleite e alívio de seus convencionais ilusionistas).

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).

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