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As eleições em Campo Grande (MS)

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Muitas mudanças políticas aconteceram em 2016, algumas boas e outras nem tanto. De qualquer forma o ano passará para a história. Estraçalharam o PT e empurraram os petistas para outras siglas partidárias, mas não acataram as denúncias feitas contra o PSDB e o PMDB. Coisas da tradição brasileira. Tudo em nome da luta contra a corrupção e os desmandos administrativos e eleitorais, mas ao que parece, as mudanças não foram suficientes.

Lê-se no Painel da Folha de S. Paulo: “Ao cruzar informações, a Justiça Eleitoral vem desnudando o que suspeita ser uma nova frente de fraudes: doações milionárias de quem, aparentemente, nada tem. O TSE identificou 21.072 pessoas que, mesmo em situação de pobreza, transferiram juntas mais de R$ 168 milhões a campanhas municipais. Uma delas, cuja última renda conhecida é de 2010, doou R$ 93 mil. Outras dez desembolsaram mais de R$ 1 milhão, mas não têm renda compatível com tamanha generosidade”.

O TCU vai além e divulga que 34% das doações para as eleições municipais são irregulares. O Tribunal identificou 38.986doadores, dos 114.526 cadastrados, com problemas sérios e não compatíveis com as exigências para serem doadores. Os gastos dos candidatos que lideram as pesquisas são suspeitos, e 2,3% das empresas que prestam serviço às campanhas (1.426 das 60.952 fiscalizadas) apresentam irregularidades.

Em Mato Grosso do Sul, apesar dos indiciamentos e prisões de alguns políticos de alto coturno, nos bastidores pouca coisa mudou e se vê muito abuso do poder econômico. Aliás, piorou muito, em se considerando o padrão técnico administrativo apresentado pelos atuais candidatos, em todos os municípios, principalmente nos mais importantes, tais como Campo Grande, Dourados, Corumbá e Três Lagoas.

É um grande retrocesso, sem dúvida.

Particularmente, há um acentuado desencanto da parte dos eleitores campo-grandenses frente à exagerada pulverização partidária e de candidatos a prefeito. Dos quinze postulantes ao cargo, mais de dois terços não são levados a sério pelos cidadãos reféns dos proprietários das 35 siglas. Mesmo assim, os que encabeçam a lista de candidatos, não são bem vistos devido ao passado recente, onde participaram de “malfeitos” denunciados oficialmente. Os demais 12, de certa forma, são desconhecidos, ou não são levados a sério.

Para uma visão primeira, pode-se dividir, para efeito de análise, em três blocos de candidatos: os que lideram as pesquisas – Marco Marcello Trad (PSD), Rose Modesto (PSDB) e Alcides Bernal (PP); os que mostram algum potencial político (Alex do PT, Athayde Neri, Marcelo Bluma e Coronel Davi); e os demais. O interessante é que alguns candidatos a vice são melhores preparados que os titulares das legendas.

Marquinhos Trad  lidera a pesquisa (que não é muito confiável), até agora, ainda no vácuo da participação política familiar (pai, tio e irmãos). Entretanto, o apoio ostensivo de Nelson Trad Filho, ex-prefeito envolvido na operação Coffee Break, e da irmã do empreiteiro João Amorim, ex-cunhada, não o deixam deslanchar.

Trad é citado em processo por envolvimento em suposta compra de voto para cassar o atual prefeito. Na véspera do julgamento que poderia levar à cassação de Alcides Bernal, o vereador Flavio César Mendes de Oliveira (PSDB), segundo a revista Veja, pediu ao ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB) que acionasse o irmão, deputado Marquinhos, para “garantir” votos anti-Bernal. “Fala pro Marquinhos ligar para o Coringa (vereador) só pra não ter surpresa”, diz Flávio César. Nelsinho confirma ter conversado com o irmão: “(...) vai falar com ele e garante”.

Em segunda posição aparece Rose (PSDB), que se auto intitulava “a Morena Bonita de Campo Grande” quando era da base política (esquema) de Gilmar Olarte; conta com o apoio do governador Reynaldo Azambuja e da máquina governamental, mas patina porque seu discurso não entusiasma o eleitorado, apesar de ser vice-governadora.

A ex-vereadora Rose Modesto, segundo o Blog do Nélio, dava sustentação ao fracassado governo de Gilmar Olarte (que está preso junto com sua esposa) na área de educação. Ela teve o terminal telefônico grampeado com autorização da Justiça e suas conversas revelam que era a responsável pela negociação com os fornecedores, principalmente no que dizia respeito aos pagamentos.

O prefeito Alcides Bernal (PP), apesar do desgaste de uma polêmica deposição levada a efeito pelos vereadores, e de uma administração considerada ruim, aparece em terceiro lugar nas pesquisas. Foi vereador por quatro mandatos, deputado estadual (2010) e prefeito eleito em 2012 com 62,55% dos votos válidos. É o mais experiente e a máquina da Prefeitura, evidentemente, poderá ajudar no desempenho eleitoral.

Infelizmente, ao que parece, haverá um segundo turno entre dois deles. Entretanto, se ao invés das urnas tivessem que passar por uma entrevista para conseguirem o emprego, nenhum deles apresenta as condições técnicas e administrativas exigidas para o cargo. Entretanto, o eleitorado não tem alternativa.

No segundo bloco quatro candidatos são vistos com simpatia por grupos de militantes, mas sem chance de chegarem ao segundo turno. O vereador Alex do PT, militante histórico do partido, em quarto lugar na pesquisa, surpreende porque não está sendo hostilizado pelos “caçadores de petistas”, e tem uma aguerrida militância ao seu lado – apresenta um moderado discurso de esquerda, sem agressividade. Não tem estrutura para alavancar sua candidatura.

O engenheiro Marcelo Bluma (PV) é conhecido dos campo-grandenses porque já foi vereador, tem um bom discurso mas não tem estrutura de campanha; poderá crescer um pouco. Athayde (PPS) é um bom candidato, conhecido do eleitorado, já foi vereador, mas seu discurso é fraco, apesar de ele ser advogado e ex-secretário de cultura – além do mais, o PPS é visto como sendo linha auxiliar do PSDB; dizem que ele saiu candidato para que a vereadora Luiza Ribeiro não levasse o partido para uma coligação com Bernal. Coronel Davi (PSC), ex-comandante da PM, de direita, poderá perder votos se continuar com o atual discurso.

Os demais candidatos estão aí apenas para justificarem as cotas do Fundo Partidário, e tentarem a eleição de alguns vereadores. São aventureiros, mas nada é impossível no atual contexto político, será muito difícil algum deles entusiasmar o eleitorado, a não ser por um milagre. O PMDB que comandou a política local por mais de vinte anos não tem candidato a prefeito, desapareceu do cenário político regional, apenas tenta manter alguns vereadores, sem qualquer comprometimento programático ou ideológico.

No que diz respeito aos candidatos a uma vaga na Câmara de Vereadores, é um cenário nostálgico, muito triste devido ao baixo padrão cultural médio dos postulantes. Pincipalmente ao se analisar o comportamento dos que pretendem a reeleição, não escapa um. Infelizmente alguns deles se reelegerão devido aos redutos mantidos pelos cofres públicos.

Campo Grande sofrerá muito, qualquer que seja o resultado das urnas.

LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.

Foto de Landes Pereira

Landes Pereira

Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.

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