As escolhas erradas de Geraldo Alckmin e suas más companhias

01/05/2022 às 09:58 Ler na área do assinante

Se o título desta matéria fosse "Alckmin associa-se ao crime", como ficaria?  Já se verá que, juridicamente, não teria sustentação, ao menos por ora. Mas, nem por isso estaria desprovido de sentido. Por quê? Por uma esdrúxula e, até há pouco, inimaginável combinação de fatos.

Em 2017, quando ainda era tucano, Alckmin assim falou a respeito do PT e de Lula: 

"Mas vejam a audácia dessa turma! Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime".

E agora Alckmin faz uma aliança eleitoreira com Lula, que ele classifica como criminoso em razão de ilícitos. O que ele quer que pensemos?

Será que Alckmin esqueceu que Lula segue sendo réu em vários processos?

Será que ele espera que o eleitor acredite na mentira propagada em redes sociais, isto é, a falsa inocência de Lula?

Saliente-se, Lula não foi inocentado no STF, que apenas mandou os processos em que ele já estava condenado em três instâncias voltarem à estaca zero para ele poder candidatar-se.

Já se falou aqui sobre os 50 anos de carreira política de Alckmin. Não há por que repeti-lo. Basta dizer que é uma carreira brilhante.

É isto que deixa muitas pulgas atrás da orelha: o que terá convencido Alckmin a jogar no lixo a reputação e o currículo, e a desconsiderar a estima de eleitores históricos? O que é que o fez trair a própria consciência e esquecer o que, em 2017, ele próprio havia denunciado?

Na ocasião, com dados objetivos, ele lembrou a roubalheira do PT na PETROBRAS, destacando a herança maldita de Dilma Rousseff: a maior recessão da história do país e mais de 15 milhões de desempregados (nem a pandemia desempregou tanta gente!).

Haja sido coragem ou mero senso de oportunidade, fato é que ele muitas vezes acusou o lulopetismo de praticar a corrupção para enriquecimento patrimonial e, o que é pior, a corrupção dos valores morais e espirituais que sustentam a nossa sociedade.

Que cálculos terá ele feito agora para julgar que vale a pena incinerar a própria biografia e se aliar a alguém que, "Depois de ter quebrado o Brasil, quer voltar ao poder (...), voltar à cena do crime"?

Ele jamais saberá quantos milhões de brasileiros estarão a perguntar: Alckmin perdeu a vergonha? Ou nunca a teve e sempre enganou o eleitor? Por que é que Alckmin não resistiu ao assédio de quem vai notadamente usá-lo para "voltar à cena do crime"?

Fica a metáfora sobre a qual ele, que se declara cristão, deveria meditar: ninguém abraça o diabo sem sair chamuscado...

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Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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