A nova plumagem tucana

02/10/2016 às 07:14 Ler na área do assinante

A meteórica ascensão de João Dória Jr, concomitante à vertiginosa queda de Celso Russomanno, aos baixos índices de Fernando Haddad, Luiza Erundina e também de Marta Tereza indica a emergência de uma nova era política que poderá se consolidar em 2018. Ou não se sustentar até lá, com uma forte reação das forças agora em baixa.

João Dória Jr representa a emergência de uma nova centro-direita, que tem como base eleitoral uma classe média jovem moderna. Ela sai às ruas e tem como principal bandeira a contestação aos políticos tradicionais - todos caracterizados como "ladrões" - e tem a adesão da classe pobre "imobilizada".

Dória Jr foi o precursor dos grandes movimentos de rua da classe média, ao liderar, cerca de 10 anos atrás o movimento "Cansei".

Não teve grande êxito, a sociedade estava encantada com a nova liderança, vinda da classe operária, com ações inovadoras. E em 2006 reelegeu Lula, vencendo Alckmin, o representante desse novo movimento, ainda embrionário. Ainda era cedo. 

Em 2013, com Dilma no Governo Federal, eleita como um "poste" na esteira da hegemonia do lulismo, contra o "velho PSDB" representado por José Serra, um político da esquerda não populista, os "novos cansados" foram às ruas. 

Não foram eles que começaram. O começo foi por um pequeno grupo de jovens de esquerda, contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos públicos. O início confundiu a percepção dos fundamentos do movimento. No seu subsolo, alimentando as raízes estava a contestação ao quadro político percebido como tomados pela corrupção. 

O PT que havia se tornando a maior força política organizada nacionalmente, com a sua bandeira da "ética na política", foi abalado com o "mensalão", mas conseguiu sobreviver, reelegendo Dilma Rousseff em 2014. Dessa vez vencendo o "hibrido" Aécio Neves, um herdeiro da "velha politica mineira", recepcionado pela centro-esquerda tucana, como herança das coligações dos movimentos anti-ditadura dos anos oitenta. 

Esses movimentos que promoveram a redemocratização se cindiram - após a vitória - gerando uma tricotomia que está chegando ao fim. A era do grande embate entre o PT e o PSDB, a cisão da esquerda do movimento e do PMDB controlando o legislativo. Este chegando ao poder, sempre de forma indireta.

Em 2014 a "Operação Lava-Jato" já havia iniciado, mas ainda sem a repercussão que alcançou em 2015, e a jovem classe média paulistana, por iniciativas dispersas, não partidárias, voltou às ruas, com uma bandeira específica - o "impeachment" de Dilma - e uma bandeira mais ampla "Fora Todos". Não precisou voltar com a mesma força para que o impeachment afinal se efetivasse. E, coerentemente, com a sua bandeira geral, é favorável ao "Fora Temer", embora pouco se manifeste publicamente.

A sua manifestação de massa está na eleição de João Dória Jr, um esperto, competente e oportunista "néo político" que "montou no cavalo certo, no momento aparentemente certo". Com o apadrinhamento do Governador Alckmin,

o mentor desse nova plumagem ou bico tucano. 

O PSDB tem origem na centro-esquerda, unindo a democracia-cristã de Franco Montoro com a social - democracia de Mário Covas. Com o suporte intelectual e político de Fernando Henrique Cardoso.  Reunindo diversos militantes de esquerda, como José Serra, Aluysio Nunes Ferreira, José Aníbal, entre os mais evidentes. Dissentindo dos companheiros José Dirceu e outros que embarcaram e assumiram o barco petista, com Lula, na proa. Uma histórica dissensão dentro da esquerda entre a social democracia e o socialismo. Inteiramente reconfigurado dentro da cultura brasileira. Mas que dominou amplamente a política brasileira nos últimos 30 anos. É uma era que está chegando ao fim. 

O PSDB que emerge como suposto vitorioso é apenas o vencedor de um confronto decisivo, mas não de todo o campeonato. 

O PSDB que se sairá melhor que o PT em 2016, não é a efetiva social democracia das suas origens. Alckmin não é um autêntico social-democrata. Como também João Dória Jr e João Leite não o são.

Mas poderiam representar uma nova social democracia, cujos contornos ainda não estão claros. Mas percebe-se que agrada ao eleitorado. Da mesma forma que a bandeira lulo-petista - com grande suporte financeiro - seduziu, no início do século, o eleitorado.

Enganam-se os que analisam 2016 como um tradicional embate entre os antigos PSDB e PT. Este último continua o mesmo. O PSDB não. 

E para entender melhor o processo de 2016 é preciso ir além, com duas questões que ainda não consigo apreender com alguma clareza: o mistério do novo PSDB, o PSDB alckimista, e a derrocada do populismo. Embora esse marque algumas vitórias importantes. 

Jorge Hori

Jorge Hori

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