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HoMENS & “hOMINETES”: Raízes éticas e culturais da crise brasileira

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Existem duas categorias de pessoas em atuação nos domínios da jurisdição pública do poder: os Homens (com “H” maiúsculo) e os “hominetes” (com “h” minúsculo”) – “homens”, aqui, entendidos não como gênero, mas como espécie.

Os primeiros se distinguem por algumas características proeminentes: regem-se por valores e princípios; visam, por conta disso, servir ao público (à coletividade) e, não, servir-se do público (das vantagens de sua condição); têm sempre em mente, em suas decisões e ações, o bem  comum e a justiça; detém a plena consciência de que a sua função (cargo) é maior do que a sua  pessoa, tornando-se-lhe imperioso, por conseguinte, o fiel cumprimento das expectadas  obrigações; primam pela isenção e pela ética (republicana) de comportamento, negando-se,  assim, à prática de regalias faustosas, da corrupção e do compadrio.

Os integrantes do segundo grupo, à sua vez, na contramão e antinomia ao primeiro, evidenciam outros distintos e desconformes atributos: costumam ser amorais e pragmáticos em seus  objetivos; servem-se do público e, não, ao público; visam às vantagens pessoais e serventias corporativas; julgam-se maiores do que o cargo que ocupam, substituindo-se, costumeiramente, à função e, mesmo, à própria instituição (quando em posição de mando);  desvirtuam a sua atuação (e os princípios que a regem) sempre em favor de seus interesses  privados de ocasião; cedem, com facilidade, à perversão comportamental, seja por motivações  oportunistas, propósitos ilícitos ou impulsos egocêntricos.

Ambos os tipos permeiam os vários espaços e escaninhos do poder público e esferas estatais  (Executivo, Legislativo e Judiciário), disso resultando (conforme a predominância de uma ou  outra orientação) a boa ou má qualidade do serviço público e do ambiente político-institucional  em prevalência.

Aqui se encontra a raiz (e a explicação) de toda a duradoura e, até aqui, intransponível crise estrutural da (in)civilização brasileira contemporânea, na medida em que os filtros institucionais  vigentes não têm conseguido selecionar, predominantemente, aos espaços decisórios mais  sensíveis e estratégicos do sistema, atores e agentes formatados com uma mentalidade virtuosa  e republicana, mas, ao contrário, consciências degeneradas pela ganância, pelo oportunismo e  pela desonestidade – por vezes, ainda (para completar), sem competência técnica adequada.

Os mecanismos de seletividade, há muito, demonstram-se falhos, equivocados – ou, talvez, por  adulterada intenção (já como resultado avançado de toda a devassidão institucionalizada), ardilosamente eficazes em seu viciado intento –, promovendo às posições hierárquicas mais  influentes do poder público os piores perfis de caráter e hombridade possíveis – salvo  minoritárias e honrosas exceções.

Dos partidos políticos emergem, majoritariamente, demagogos e oportunistas (com  candidaturas priorizadas entre pares cumpliciados), assim como progridem e se impõem, no  meio jurídico, os carreiristas mais sedentos de status e poder. Disso redundam parlamentares e governantes desconectados da vontade popular, da mesma forma que magistrados (e, dentre  esses, juízes) descompromissados com o espírito das leis, o Estado de Direito e a justiça.

Segue-se a todo esse “círculo vicioso”, como corolário do contínuo processo de deterioração ética e moral em marcha, não a equidade, mas a injustiça; não a paz social, mas a insegurança;  não a liberdade, mas a opressão; não o progresso, mas o subdesenvolvimento; não a ordem,  mas a anarquia; não a verdade, mas a farsa.

Por tudo isso é que o Brasil, além de cronicamente subdesenvolvido, nunca foi, efetivamente,  uma democracia, muito menos uma república (só na letra da lei). Ao contrário, dominado por  corruptos, picaretas e ególatras de todos os naipes, em permanente revezamento (não importa  a coloração ideológica dos protagonistas), o regime político tupiniquim não passa, na prática, de  uma oligarquia cleptocrática ou, por disposição terminológica inversa (a ordem dos fatores não  altera o produto), de uma cleptocracia oligárquica, formatada, justo, para beneficiar, tão  somente, os consuetudinários e patrimonialistas “donos do poder” (a sua permanência nos  espaços de mando e os correspondentes privilégios), em detrimento do fictício (e simulado) “soberano”, por esses (apesar de seu único mantenedor) continuamente abominado e  desdenhado: o povo.

São os “hominetes” que, ao fim e ao cabo, disfarçadamente paramentados em togas e gravatas,  à la “sepulcros caiados”, dominam a cena político-institucional do país, atuando como  sanguessugas nos tecidos mais adiposos de seus suntuosos e enclausurados gabinetes, palácios e tribunais, quase sempre em desfavor do progresso, da equidade e dos genuínos interesses do  país. Precisamente aqueles que, por algumas “moedas”, proporcionalmente ajustadas à sua  mesquinhez e mediocridade, sem se aperceberem da efemeridade de sua momentânea (e  ilusória) significância – além de mau exemplo para filhos e netos (a quem, por suas condutas,  condenam) –, vendem o futuro da pátria sem qualquer compunção ou remorso, imperturbáveis  em sua inflexível impostura, cinismo e presunção.

Sim, faltam Homens (com “H” maiúsculo) no topo do serviço público e da hierarquia política  nacional. Indivíduos que, com gestos e exemplos, saibam honrar e dignificar, perante a nação, a  representatividade que, por delegação (e apenas temporariamente), ostentam – e que sabem,  de antemão, não lhes pertencer –, colocando-se de corpo e alma à empreita incansável das  causas verdadeiramente republicanas e socialmente prioritárias, almejando (e se bastando),  unicamente, a felicidade de todos e o bem comum.

Toda a transformação da realidade brasileira depende, em última instância, dessa “guerra” de  substância ética e cultural, expressa na competição entre valores, comportamentos e visões de  mundo – para o que desempenham papel determinante todas as instâncias de formação (e  informação) da sociedade civil: famílias, escolas, igrejas, universidades, clubes, meios de  comunicação, etc.

Para onde penderem as tendências e orientações da educação, nesses variados e  complementares ambientes, propenderá a natureza e o tipo de sociedade nas gerações  seguintes. O que se planta hoje, colhe-se amanhã. O que se semeia no presente, coleta-se no  porvir – conforme a espécie e o quilate das sementes lançadas. 

O plantio mais recente, semeado ao longo das últimas décadas, fracassou redondamente na  qualidade de sua messe, como estão a demonstrar os frutos nitidamente nauseantes e  apodrecidos da infecunda e baldia “Nova República” – desde a origem permeada (e condenada)  por lúgubres ervas daninhas, que se encravaram, sorrateiramente, nas entranhas mais esponjosas do novo tecido político em formação, desapercebidas (da maioria) em seu já então nocivo processo de degeneração.

Urge, assim, pois, nesse imenso deserto de infertilidade e podridão, uma nova “genética” na formação de grãos; uma mais vigorosa e florescente semeadura, cultivada por “agricultores”  mais virtuosos e inovadores (Homens com “H” maiúsculo), em vista de uma safra vindoura qualitativamente mais proveitosa, profícua e saudável.

Este é o principal, premente e intransferível desafio intelectual, ético e moral da atual e das  próximas gerações, de impulsionamento árduo e laborioso, mas, pelo alcance de seus efeitos,  potencialmente transformador, em favor de uma sociedade politicamente mais decente, economicamente mais próspera, socialmente mais justa e comunitariamente mais patriótica.

O Brasil do futuro dependerá, diretamente, desse movimento de reação e da maior ou menor  determinação coletiva em transmudar, integralmente, as características intrínsecas do DNA da defectiva e corrompida realidade presente. Ou vem a guinada – acompanhada de uma reforma  política radical dos métodos e requisitos de seletividade dos homens públicos –, ou se instala,  em definitivo, em terra patris, o reino da delinquência oficializada e do atávico barbarismo, de irreversível e calamitoso desmoronamento civil – onde haverá condenação ao retrocesso  civilizatório, ao crime institucionalizado e ao crônico e irresolúvel pauperismo.

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).

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