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Ambição

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Posto que vá se falar de Júlio Cesar, começo parafraseando seu grande pupilo e correligionário Salústio (86 a.C. a 34 a.C.) quando proclamava que: ‘a ambição e o ressentimento são os piores conselheiros do homem’. Por conta destas Cesar morreu.

Considerado, por historiadores de nomeada, como um dos maiores erros da humanidade, o grande ditador romano Júlio Cesar, mesmo contra os conselhos de muitos, quis marcar presença em uma sessão do Senado romano e acabou por ser esfaqueado até à morte por dezenas de homens, inclusive por Brutus, seu mais fiel amigo.

Realmente, no mês de março de 44 a.C., o líder do partido dos populares, Gaius Julius César – nomeado tribuno e ditador vitalício da República após pôr fim à Guerra Civil, autointitulado “Prefeito dos Costumes”, e conclamado “Pai da Pátria” e Imperador pelo Senado e pelo Povo de Roma (Senatus Populusque Romanus) - foi assassinado por 60 colegas com 23 facadas numa sessão da Casa no Capitólio, o templo da diviníssima trindade: Júpiter, Juno e Minerva. Após entregar o cadáver ao imediato de César, o general Marco Antônio, os líderes da conspirata, Brutus e Cássio, vão ao Fórum, dar ao povo explicações.

A vida e o trágico final deste líder militar e político foram imortalizados na obra do maior escritor inglês e o mais influente dramaturgo do mundo, William Shehapeare (1564/1616), The Tragedie of Jullius Cesar (1599), que retratando a conjura contra o déspota romano, trouxe, na 2ª Cena do 3º Ato, a fala de Brutus, justo quem lhe desferiu a derradeira facada, como adiante se transcreve em tradução livre:

PLEBEUS
Queremos explicação! Exigimos explicação!
BRUTO
Então venham comigo e me ouçam, meus irmãos.
Tu, Cássio, vai agora àquela outra rua
E divide os ouvintes em dois grupos.
Quem deseja me ouvir, permaneça comigo;
Quem quiser ouvir Cássio, vá com ele agora.
E públicas razões serão apresentadas
Para a morte de César.
PRIMEIRO PLEBEU
Vou escutar Bruto.
................................................
TERCEIRO PLEBEU
Silêncio! O nobre Bruto está no púlpito.
BRUTO
Escutem com paciência até o fim. Romanos, conterrâneos, camaradas, ouçam a minha causa e façam silêncio para que possam ouvir. Acreditem-me por minha honra, e reconheçam minha honra para que possam acreditar. Avaliem-me com sua sabedoria e despertem seu juízo para que possam corretamente julgar. Se houver alguém nesta assembleia, algum zeloso amigo de César, a ele eu assevero que a amizade de Bruto por César não era menor que a sua. Se esse amigo então perguntar por que Bruto se ergueu contra César? Esta é a minha resposta: não foi por amar menos a César, mas por amar Roma ainda mais. Preferiam ter César vivo e morrerem como escravos, ou verem César morto e viverem em liberdade? Porque César foi meu amigo, eu o choro; porque ele foi venturoso, eu me alegro; porque ele foi valente, eu o respeito; mas porque ele foi ambicioso, eu o matei. Há lágrimas por sua amizade; alegria por sua fortuna; respeito por sua valentia; e morte por sua ambição. Quem de vocês é tão vil que deseje ser um escravo? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Quem de vocês é tão abrutalhado que não deseje ser um romano? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Quem de vocês é tão abjeto que não ame o seu país? Se houver alguém, que fale: a ele eu ofendi. Faço uma pausa e aguardo a réplica.
TODOS
Ninguém, Bruto, ninguém.

Relembro a história para falar dos tempos de agora.

Diante da atual ditadura dos togados; da perseguição odienta da classe política colocada fora do Planalto; da pressão dos insensíveis empresários e da banca voraz, sempre sedentos de dinheiro; dos insultos e dos desmamados da “artistalha” rouanet; dos chupins da máquina pública ciosos de suas benesses e regalias; da militância esquerdista da rede “globolixo”, bem como de seus vassalos e dos seus associados órfãos dos cofres públicos; então, por mais incrível que pareça, as milenares perguntas vociferadas por Brutus na tribuna do Senado nunca foram tão atuais.

Quem é tão vil que deseje ser um escravo dos Mandarins do STF? Se houver alguém, que fale: este eu desprezo. Quem é tão vendido que não deseje ser um brasileiro de respeito? Se houver alguém, que fale: deste eu me envergonho. Quem é tão vermelho que não ame o seu país? Se houver alguém, que fale: que em relação a este desejo que vá para Cuba ou para Venezuela e deixe a Pátria em que nasceu seguir em paz.

A rigor toda aquela trupe, que se resume nos “Contras” da atualidade e nos “Terceirovistas” de ocasião, é movida pela ambição, agravada por um ressentimento em razão do muito que perderam e do que não podem mais voltar a chupitar, porque o Capitão não rouba e não deixa a caterva roubar. Este é o desespero daquelas pessoas. É a doença que lhes açoita noite e dia. Não tem salvação porque uma desmedida ambição de dinheiro e de poder gangrenou seus espíritos.

Tomemos como exemplo o caso do “Ogro” de nove dedos, solto pelo STF para fustigar e comprometer a liberdade de nossa gente. A ira que deixa transparecer não advém da cadeia que o Brasil do bem lhe trancou por uns bons meses e que lá o quer de volta, pois por onde ele passa joga pedra e grita: “Lula ladrão seu lugar é na prisão”. O mau sentimento e a vingança contra o Brasil que o rejeitou se resume no fato de que sua roubalheira e o de sua quadrilha são hoje fraturas expostas que os impedem de acessar os cofres públicos com a desenvoltura de outrora e isto enlouquece os ambiciosos ou os gananciosos.

O imperador ia tirar a liberdade dos romanos, morreu por isso. Quão sortudos são esses vermelhos de hoje, que diariamente ameaçam tirar a liberdade de nossa gente tornando-a escrava de um regime desigual perverso e assassínio, onde só os donos do poder e seus apaniguados nada perdem e com o qual ficam seguros de que não terão o mesmo destino de Cesar. Será que não?

Depois de passar décadas desdenhando do povo que os sustenta, aqueles que hoje pensam que podem tudo, de fato não avaliam a força descomunal dos tais imbecis que tanto desprezam. Seus ressentimentos os impedem de ouvir o grito de liberdade da Nação Verde e Amarela e sua desmedida ambição os levará à miséria ou à morte cívica.

Talvez devessem entender que são mais vulneráveis do que podem imaginar. Poderiam para começar ouvir menos o ladrão internacional que libertaram e ler mais Vieira, mais conhecido como Padre António Vieira, o grande filósofo, escritor e orador português da Companhia de Jesus, para quem: “Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem”.

Foto de José Maurício de Barcellos

José Maurício de Barcellos

Ex-Consultor jurídico da CPRM-MME. É advogado.


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