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O mundo de ponta-cabeça: A crise do modelo civilizatório

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O mundo inteiro está de ponta-cabeça. Em profunda crise de modelo civilizatório. E o Brasil não foge à regra.

O que era “fim”, virou meio. O que era “meio”, virou fim.

Ao invés de servirem à sociedade, é da sociedade que se servem os partidos (suas “máfias” e “caciques”), os políticos e as autoridades públicas de ocasião.

República? Já era! – nunca existiu abaixo da linha do Equador.

Tudo o que parecia “sólido” – porque aparente – desmanchou-se no ar.

Não se fazem mais “esquerdas” como antigamente. Nem “direita”, tampouco. Todos os “lados” se tangenciam (e se diluem) nos extremos – nas patifarias e nas ilusões. Não há mais utopia, sonho, valores, projeto, idealismo. O “ser” e o “dever-ser” – ao que parece – se liquefazem no “nada”.

A “sociedade da mercadoria” – hoje paradoxalmente sustentada e impulsionada por seus tradicionais adversários (e delatores) – arrebatou todos os (oportunistas) “revolucionários de circunstância” com os seus “encantos” e “delícias” – e esses passaram a gozar do “discreto charme” que, outrora, fora propriedade privada (e exclusiva) da “odiosa burguesia”.

Tudo o que os homens tinham considerado inalienável se torna objeto de troca, de tráfico, e se pode alienar.

É o tempo em que as próprias coisas que até então eram transmitidas, mas nunca trocadas; dadas, mas nunca vendidas; adquiridas, mas nunca compradas – virtude, amor, opinião, ciência, consciência, etc.; em que tudo, enfim, passou ao comércio.

É o tempo da corrupção geral, da venalidade universal, ou, para falar em termos de Economia Política, o tempo em que qualquer coisa, moral ou física, tornando-se valor venal, é levada ao mercado para ser apreciada no seu mais ‘justo’ valor” (Karl Marx, Miséria da Filosofia).

Por um punhado de moedas, a tradicional “pauta revolucionária” se vendeu ao cinismo desbotado e ao oportunismo sórdido, ao crime organizado, revelando, à luz do dia, as reais motivações de seus inautênticos e postiços demiurgos.

Os “democratas” de ontem negam os resultados eleitorais de hoje. Não acatam, democraticamente, os desfechos que lhes são adversos. Não reconhecem legitimidade em ninguém que não comungue de seus fetiches autoritários – nem quando lastreado pelo povo, quimérico “soberano”.

O povo, aliás, nunca passou de um simples “detalhe” – ou, no máximo, massa de manobra (“gado”) dos paladinos da farsa democrática.

“Salvar” a democracia passou a ser sinônimo de salvar “as instituições” (isto é, os seus integrantes), tolhendo-se ao povo – justo o desfraldado “soberano” constitucional – o direito de contestar e reivindicar, como se isso fosse “conspiração” (contra si próprio?) e “ameaça” (sic!) ao “Estado de Direito” (leia-se: aos “donos do poder”).

Os verdadeiros fascistas – lobos travestidos de cordeiros – acusam os outros daquilo que são – disformes e iludidos diante da própria imagem distorcida em seus convexos e fantasmagóricos espelhos.

Não existe ética, coerência, sinceridade, boas intenções, diálogo franco, projetos de sociedade – nada. Princípios esses, aliás, de viés “pequeno-burguês”, sustentados por “ingênuos” e “ignorantes” que não entendem ser a “real politik” – arena do poder pelo poder (e nada mais) – o terreno (por excelência) da amoralidade, onde os fins sempre justificarão os meios.

E como resultado de toda essa mixórdia de contravenções ideológicas, de fins ludibriosos, fica subvertida a correta noção (e percepção) dos valores civilizatórios por parte dos homens comuns, desnorteados em meio a tantas fabulações, trapaças e devaneios.

Sim, na atualidade brasiliana (e mundial), os verdadeiros “direitistas” são os que se dizem “esquerdistas”. Os fascistas, justo aqueles autoproclamados “revolucionários”. Em nome da “democracia” se detrata o povo, deslegitimando-se, ao fim e ao cabo, o interesse geral e a vontade da maioria. Afinal, “eleições não se ganha, se toma!” – não é mesmo!

Em terras verde-amarelas, o “socialismo caviar” – regado a whisky e serpentina – revelou-se a “quinta essência” – em versão “macunaímica” – do “capitalismo” ornitorrínico, aquele do compadrio (de protecionismo não concorrencial), válido e lucrativo tão somente para os poucos condôminos do poder – consorciados a seus “amigos campeões” de todas as horas.

Nessa ambientação perversa, fluidifica-se o caráter, a justiça, a esperança. Nem mesmo as utopias – reduzidas a meras “metamorfoses ambulantes” – se tecem e lapidam como outrora, com o suor do trabalho honesto. Viraram pó e ferrugem; trivialidade ordinária em todo esse imenso e hediondo carnaval burlesco.

Melhor que nada, são os versos satíricos do poeta paraense Emanuel Matos (em Mundo Novo, Homens Novos) que sobejam e estampam, em rima livre, todo o drama da atual sem-vergonhice:

“Chegamos ao topo / Da cadeia evolutiva. / E os ditadores tinham / razão. / Ó, que medo! / Que
decepção! / Ponha-se trava, / No mundo do povo / Porque enlouqueceram / E é preciso renovar
/ A democracia! / Proíba-se as gentes / De falar contra / As instituições democráticas / Para
salvar a democracia. / É preciso corrigir / Os erros das urnas / Em defesa da democracia. /
Passemos uma borracha / Na história. A história fede / A história precisa tomar rumo / Em nome
da democracia. / Corrijamos os escrutínios / Para nos livrarmos da burrice / Do povo para o bem
do povo / Em defesa da democracia. / Corrijamos o povo! / Corrijamos a maioria! / O povo é
beócio o povo / Precisa ser guiado na direção / Da liberdade de votar certo. / O povo é gado / E
precisa de outro cowboy / Em nome da democracia. / Na democracia é a maioria / A decidir os
rumos desde que / A minoria não tenha razão. / Em nome da democracia / Deixa-nos conduzir /
Essa massa de imbecis / Para a sua redenção definitiva. / Em nome da democracia. / Depois
mostramos / A esse povo o que é o poder. / Salvemos o povo de si mesmo.”

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).

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