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O mais cínico dos cínicos

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“A história conta que um dos cidadãos atenienses, impressionado com o grau de pobreza em que Diógenes vivia, aproximou-se dele e perguntou-lhe:

- ‘Por que as pessoas dão dinheiro aos mendigos e não aos filósofos?’

Diógenes pensou por um momento e então respondeu:

- ‘Porque eles pensam que, algum dia, podem se tornar inválidos ou cegos, mas filósofos, nunca’. (Site – ‘A mente é maravilhosa’).”

Notem que Diógenes, “o cínico”, arranjou uma maneira talentosa de dizer que a compaixão é calculista.

Não, não vou falar do “Cinismo”, corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. Nem de seu discípulo mais famoso, Diógenes de Sinope, que é visto como modelo de filósofo “cínico”, porque não se interessava pela sociedade e vivia de acordo com a natureza. Diógenes rejeitava todas as noções que envolvessem dinheiro, poder ou fama e tentava dessa forma viver uma vida virtuosa e feliz. Estes eram os princípios da filosofia cínica.

Vou falar de outro tipo de cínico. De outra corrente. Não de filósofos, mas de ladrões que se acreditam filósofos. Os adeptos dessa corrente pregam aos brasileiros 7 princípios, que não estão escritos, mas estão nas entrelinhas de suas falas: arrogância, atrevimento, fingimento, hipocrisia, insolência, ousadia e ignomínia. O mais famoso representante dessa “corrente moderna de larápios” foi “descondenado” e hoje, para o espanto e a vergonha dos brasileiros que possuem um pouco de ética, é candidato a presidente da república do Brasil.

Com desenvoltura impressionante, essa “corrente moderna de larápios”, apresenta aos eleitores brasileiros seus atributos marcantes, pedem apoio e votos. Essas qualidades já foram esplanadas no parágrafo acima, mas para que você entenda esses conceitos não-escritos é preciso torná-los visíveis e compreensíveis, trazê-los à luz, “partejá-los”, como dizia o filósofo grego Sócrates. Ei-los, vocalizados todos os dias pela boca do “ladrão-mor” e divulgados sem nenhum pudor pelo “consórcio de imprensa”:

Arrogância: se vendem como defensores das liberdades e dizem que vão promover a paz nacional. Quando estavam no poder, o país inteiro assistiu o PT, partido da “filosofia cínica”, pregar a luta do “nós” contra todos aqueles que não comungavam de suas falcatruas. Era uma guerra sem tréguas.

Atrevimento: a “corrente moderna de larápios” não dá a menor importância a argumentos lógicos, quer fazer vítimas e amealhar votos. A mentira é a verdade. Seu atrevimento é tanto que o pregador-chefe afirma que foi completamente inocentado, tudo com aprovação da justiça e do “consórcio de imprensa”, envenenando a nação e armando uma teia para capturar desavisados.

Fingimento: convidam outros partidos para juntos, derrotarem Bolsonaro numa grande aliança. É a raposa chamando a galinha para a armadilha. É o sonho stalinista se tornando realidade.

“Vamos superar nossas diferenças. Deem-nos novamente o poder, pois o Brasil está um caos, está prestes a cair no abismo, vai tornar-se uma ditadura”, afirmam todos os dias. A realidade brasileira os desmente, mas isso não importa. Querem o poder a qualquer preço para novamente assaltar a nação.

Hipocrisia: chamam de “fascistas” aqueles que são livres, os que não acreditam em suas mentiras. Devem ser excluídos todos aqueles que não confiam que o PT é um partido democrático, que não subornou deputados e comprou votos no congresso com dinheiro roubado dos cofres públicos, conforme publicaram os jornais da época.

Insolência: afirmam que vão fazer uso social da Petrobras. Quando governaram assaltaram a empresa junto com grandes empreiteiros e financiaram campanhas políticas com o dinheiro surrupiado. A Lava Jato conseguiu recuperar parte do dinheiro roubado e devolveu para empresa cerca de 6 bilhões de reais. E com mais atrevimento ainda usam a fala de seu Vice, que atacava o chefão petista e o chamava de ladrão. O Vice, agora, serve para produzir engodos e mentiras. Acreditam que a fake news produzida com a união dos dois é digna dos brasileiros, pois acham que todos são otários.

Ousadia: se fazem de vítimas e afirmam que a “mulher que estocava vento” sofreu um golpe de Michel Temer, crentes que os eleitores tem memória fraca e não possuem a plena consciência da dimensão dos prejuízos causados ao Brasil pelos governos petistas. Apresentam-se como os salvadores do país arrasado por Lula e Dilma e saqueado pelo PT.

Ignominia: exigem que os brasileiros esqueçam toda roubalheira, esqueçam o maior esquema de corrupção já montado em um país, em toda história da humanidade e neles confiem, pois, seu candidato foi ungido e solto pelos Ministros que se creem deuses e fazem leis conforme a própria vontade.

Assim, deslembrem tudo brasileiros, estamos de braços abertos para roubá-los novamente.

Essas ideias petistas-cínicas, não escritas, mas concluídas de fatos e afirmações, lembram o “Humanitismo”, nome da filosofia fictícia, também cínica, criada por Quincas Borba, personagem de Machado de Assis, e exposta no romance de mesmo nome. Eis a filosofia:

- “Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição.
A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói.
Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
- Mas a opinião do exterminado?
- Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias”. (“Quincas Borba”, Capítulo VI- Machado de Assis).

Sim, amigos, para os cínicos da “corrente moderna de larápios”, os cidadãos brasileiros são “bolhas que fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água”, como afirma a filosofia do “Humanitismo” de Quincas Borba, pois essas ideias são convergentes com os 7 princípios não-escritos, mas deduzidos de seus discursos diários.

E para o mais “cínico dos cínicos”, o chefão-pregador descondenado, solto e parido pelas ideias da “corrente dos larápios”, os cidadãos brasileiros aos quais ele e sua trupe pedem votos “são bolhas transitórias”, não pessoas que tem vergonha na cara, mas homens-bolhas que se desfazem por qualquer promessa ou dinheiro.

Só que não. O país ainda tem uma maioria absoluta de cidadãos honestos que fazem a defesa do progresso, da retidão e acreditam em ideais elevados como a democracia, a ordem constitucional e a liberdade.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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