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O colecionador de histórias

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Ele sempre quis ter uma biblioteca em casa. Sonho antigo, protelado, guardado em caixas e mais caixas ao longo dos anos. Mudanças de casa, de cidade e lá estavam elas, impávidas e pacientes! A cada nova moradia, a grande chance de aparecer pro mundo. Os livros lotados de poeira sempre estavam nessa expectativa.... Assim foi, ao longo de 6 anos. Só aumentando a coleção, mas mostrá-la em definitivo, que nada! O nomadismo ainda não tinha chegado ao seu destino final.

Ao longo dos anos, ele foi amealhando tudo o que encontrava pela frente, independente do autor, título, ranking, top trends ou qualquer outro critério. O que o move é ter o que deixar para a posteridade; neste caso não é qualquer coisa, é uma senhora biblioteca! A sua, a história dos seus dias, ao juntar tantas e tantas outras histórias. Meio ao acaso, meio biografia mesmo. Até livro de sua autoria tinha! E música também!

As traças tomaram parte do enredo e fizeram a festa em meia dúzia de autores de clássicos da literatura mundial, em formato pocket. Idos de 1960.... Já era hora de dar um destino! Esse era o critério dela, que acompanhava a trajetória dele desde muito tempo. Já que não podia ter de tudo, o critério dela era o estado - deplorável – de alguns exemplares. Mas antes, muita explicação, entendimento, convencimento até. Aí sim, ele se dava por vencido! E ainda ganhava um beijo por cada desapego!

Finalmente, o destino final. A calmaria, o renascimento, a renovação! Hoje, a biblioteca está pronta! À vista de todos que aparecem e ao alcance das mãos dela, sempre sedenta em descobrir o que existe nas entrelinhas, o que há por detrás do que foi escrito, o suspiro transformado em ponto final. A exclamação no lugar da interrogação.

Por vezes, encontrava um registro feito à mão e a imaginação ia longe. Talvez naquelas páginas, ela encontre algo que tenha feito o coração de alguém bater mais forte, uma surpresa, a chave de algum mistério. Inúmeros sentimentos!

Um misto de orgulho e de nostalgia ao folhear cada volume.... Quem já teria passado os olhos por aquelas palavras? Qual o sentimento que assaltou a alma? A reação ao chegar a última página?

No fim de tudo isso – se é que isso tem fim – ele sempre a encantou. Quem, meu Deus, tem o desejo entranhado em construir uma biblioteca em casa? Ele e seus mistérios; ela e suas descobertas. No fim, a biblioteca tão esperada estava lá! Monumento erguido para celebrar ainda mais uma vez a reunião do antigo com o novo, do mistério com a descoberta. Do que era, é, e sempre será: o amor destes dois seres. Simples assim.

Luciana Brandalize

Foto de Luciana Brandalize

Luciana Brandalize

Articulista e redatora que transforma sentimentos em palavras. 

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