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O barbeiro do Planalto: Calmamente ele passa a navalha no bigode de Bonner, e põe talco para não arder

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“La ran la lera, laran la Lara
Largo al factotum della città, largo
La ran la, la ran la, la ran la, la
Presto a bottega, ch'è l´alba è già, presto”
(Ópera - O Barbeiro de Sevilha).

Diferente da Ópera, Bolsonaro não só jantou, como fez o cabelo da Renata, aparou e refez a barba e o ralo bigode do Bonner.

A entrevista começou com Bolsonaro passando creme de barbear na cara do Bonner e mostrando que ele é um grande produtor de fake news.

Passou a navalha pelo bigode do entrevistador boçal e, sereno mostrou que continua o mesmo contestador. Bonner, por sua vez começou a vomitar uma enxurrada de acusações sem nexo, sempre destacando aspectos negativos da administração do Presidente.

Tranquilo, o Barbeiro mostrou que não era bem assim, que a conversa estava atravessada, que o Brasil não era nada daquilo que Bonner afirmava, mas que o rumo tomado pelo Brasil era correto, basta ver o que foi feito: ajuda a população, melhoria no desemprego, gasolina baixa, a implantação do Pix ...

“Os números da economia são fantásticos, levando-se em conta o resto do mundo. Se fosse apenas o Brasil com esse problema, eu seria o responsável"...

Bonner e Renata rebolaram nas cadeiras e foram repassando questões repetitivas, que enchem o saco de qualquer um, como a pandemia que os brasileiros querem ver bem longe da nação.

Depois Bolsonaro passou xampu e fez o cabelo da Renata. Ligou o secador de cabelos e deixou a cabeleira da dublê de entrevistadora impecável.

Renata deveria agradecer, mas desfiou uma algaravia de acusações, misturando resultados do governo, comportamentos, urnas eletrônicas, pandemia e alianças políticas...

E o Barbeiro Bolsonaro, pacientemente, foi limpando os pêlos dos dois.

Explicou o problema da Pfizer, mostrou que as vacinas no mundo só apareceram em dezembro e que em janeiro já estavam sendo aplicadas nos braços dos brasileiros...

Bonner socorreu o desastre da fala de Renata, cortando a fala do Presidente.

Grosseiros, debochados, prepotentes, desrespeitosos, os dois apresentadores se esmeraram em não deixar Bolsonaro falar de suas realizações.

Sua técnica de comunicação consistia em fazer uma longa pergunta, não deixar o entrevistado responder imediatamente, recheá-la de respostas para o que foi perguntado e só depois indagar ao entrevistado “como não concordar isso?”

Notem que a pergunta feita a Bolsonaro, sempre era respondida por Bonner e Renata e só então era dado a Bolsonaro o espaço para resposta.

Foi uma entrevista invertida, onde os dois arrogantes apresentadores posaram de estrelas e o seu discurso era o que importava, não as respostas do entrevistado.

Se deram mal. Quem brilhou foi Bolsonaro.

Se vivo fosse, o velhão Marinho, dono da Globo, demitiria os dois logo após a entrevista.

E nessa toada, Bonner voltou ao ataque e tentou jogar Bolsonaro contra os deputados, contra o tal centrão. Usou a mesma técnica: perguntou, respondeu, afirmou, respondeu e só então deu espaço a Bolsonaro para resposta.

O Barbeiro, calmamente, passou a navalha pelo bigode do Bonner e afirmou que ele estava querendo transformá-lo em um ditador. Bonner, surpreso, não se deu conta da bofetada...

“Não, não, não quero isso não”.

Bolsonaro puxou uma tesoura e terminou de acertar o bigode do Bonner:

- “Sem os deputados, nenhum Presidente aprova qualquer projeto. Quem aprova os projetos são os deputados”.

Game over. Fim de Jogo.

Barbeiro zeloso, Bolsonaro, ao final, passou talco nos dois e loção após a barba para não arder muito.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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