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O ódio não é caso isolado. Está endêmico. É endêmico

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Guilherme Irish tinha só 20 anos de idade. Estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás. Foi morto pelo próprio pai. Em seguida, o homem que contribuiu com o sêmen para trazê-lo ao mundo tirou a própria vida.

Duas mortes. Uma família destroçada. Uma cidade perplexa. Um país desfigurado pela intolerância, pela incapacidade de pessoas celebrarem o simples e o digno da convivência entre si. É a falta de interesse em respeitar-se mutuamente. É a ojeriza absurda de aceitar que liberdades individuais e coletivas são elementos objetivos de afirmação humanista e de paz.

Os corpos de Irish e do pai jamais serão casos isolados. Porque a extrema e inconformada reação do pai não residiu somente no nicho da angústia paterna ou dos sub-valores do afeto dominial. O gesto que procurou anular um pensamento silenciando-o em definitivo nada tem de diferente de profusas manifestações de ódio estampadas no dia-a-dia dos embates políticos e ideológicos calçados pela fúria e pelo destempero.

A maledicência, a infâmia gratuita, os julgamentos pré-concebidos e generalizados, a ilusão de que se controla as verdades, os xingamentos e as abordagens escatológicas na tentativa de desqualificar quem pensa diferente estão na raiz dessa tragédia - que não é goiana, mas é brasileira.

O jovem Irish, fosse ele esquerda ou direita, já vinha sendo covarde e abertamente assassinado por mãos, atitudes e consciências (consciências?) que em passeatas necessárias contra a corrupção "dos outros" praticavam a "corrupção" de indignados enforcando bonecos de adversários ideológicos, desenhando imagens depreciativas, apregoando a morte e outras desgraças para quem, não fosse o ódio, deveria ser exigida a democrática e republicana intervenção das leis que regem a vida e o comportamento dos brasileiros.

Irish queria exercer o que a liberdade e a democracia lhe deveriam garantir: o direito de ser o que quisesse, assumindo as consequências naturais e legítimas de suas escolhas.

Que os arautos da intolerância e as vozes "criativas" a serviço do ódio, do rebaixamento da convivência, do desrespeito e da hipócrita investidura ética - e nesse contexto a chamada grande imprensa tem papel preponderante - se olhem nos espelhos de sua alma e de suas mentes. E se encarem. E orem por todos os Irishs e por todos os pais de Irishs que seguem trafegando por ruas onde a paz e a convivência entre divergentes deveriam ser soberanas.

Edson Moraes

da Redação Ler comentários e comentar