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Direita, centro, esquerda: o que é isso?

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Nazismo (Adolf Hitler disse: ‘Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão’) e fascismo (Benito Mussolini afirmou: ‘Somente um país inferior, ordinário, insignificante, pode ser democrático. Um povo forte e heroico tende para a aristocracia’) são considerados extrema direita. O filósofo e jurista Norberto Bobbio, referindo-se ao nazifascista, diz que ele “fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta e agride, como se fosse puro e honesto. Mas é apenas um criminoso comum, um sociopata que fez carreira na política”. É uma opinião um tanto exacerbada, mas verdadeira.

O comunismo (Joseph Stalin apregoava que “As ideias são muito mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, por que deveríamos permitir que tenham ideias?”, e Mao Tsé-Tung complementou: “Disciplina partidária exige, entre outras coisas, que a minoria submeta-se à maioria”) é a extrema esquerda. O comunismo tornou-se, no Brasil, execrado devido a forte e permanente campanha desenvolvida pela Igreja e pela “guerra fria”.

Entre esses pontos teóricos (nazifascismo e comunismo) há dezenas de hipóteses ideológicas e fisiológicas para escolha dos militantes políticos. Fisiologismo, na política brasileira, significa “conduta ou prática de certos representantes e servidores públicos que visa à satisfação de interesses ou vantagens pessoais ou partidários, em detrimento do bem comum”. É o que não falta nas 35 siglas reconhecidas pelo STE, e que recebem as benesses do Fundo Partidário e o horário gratuito de rádio e televisão, entre outras quirelas orçamentárias.

 “Dá igual” é uma expressão espanhola que significa que não há diferença alguma entre os itens em análise ou debate. No sistema político nacional, nos últimos trinta anos, não há diferença entre as várias correntes partidárias de esquerda, de direita ou de centro, uma vez que todos os políticos são iguais no fisiologismo em busca do poder e das benesses governamentais emanadas dos cofres públicos.

Para efeito de campanha eleitoral, a “esquerda” buscaria o discurso da melhor distribuição da renda e da riqueza, maior igualdade social (como se isso fosse possível sem mexer na estrutura de propriedade individual) e melhores políticas sociais (educação, saúde, previdência social e cultura popular). A “direita”, por sua vez, seria mais conservadora e protegeria a estrutura de propriedade dos meios de produção, defendendo o lucro máximo, a concentração da renda e da riqueza e a limitação das políticas sociais. O “centro” seria um meio termo procurando, demagogicamente, o equilíbrio no jogo dos interesses sociais.

Na prática brasileira essas três correntes, ao assumirem o poder, se confundem: querem tirar o máximo proveito, no curto prazo, para seus grupos e dividem as quirelas com o populacho para não serem perturbados com possíveis convulsões sociais. Claro que há exceções em ambos os extremos, mas não muitas, do ponto de vista teórico. No discurso (nas críticas aos adversários e nas promessas aos eleitores) se diferenciam, principalmente em épocas eleitorais.

Não se está falando, praticamente, em fascista, nazista, socialista, comunista ou em outras ideologias decorrentes da formação teórico-prática que caracterizam alguns regimes políticos. Trata-se, aqui, de uma observação partidária onde 35 siglas de aluguel se locupletam no fundo partidário, no caixa dois e em outras artimanhas financiadoras de militantes políticos. Vale tudo para se conquistar o poder, e muito mais para não perde-lo. E o povo paga a conta em todas as situações.

Com a vitória de Fernando Henrique Cardoso, que se dizia social democrata, a política brasileira tendeu para um “centro-esquerda” no discurso, mas na prática consolidou o neoliberalismo de direita. O sindicalista Lula da Silva assumiu a presidência com uma longa proposta dita de esquerda, mas já na posse se entregou ao neoliberalismo de direita, mantendo o discurso e a mensagem demagógica de um possível “socialismo bolivariano”. Da privataria para o mensalão e daí para o petrolão e outras maracutaias: dá tudo igual. Com Michel Temer observou-se uma guinada para a direita, sem mudanças estruturais, apenas a mensagem e algumas promessas mudaram.

As eleições municipais de 2016 mostraram o desencanto da população com o sistema político e o desejo de mudanças. O ruim da história é que a mensagem da extrema direita ganhou espaço, lembrando os tempos que levaram os extremistas de direita ao comando de nações importantes do planeta. Mas o fenômeno não é brasileiro, é mundial. Percebe-se uma tendência ao isolamento nacionalista, antiglobalização, uma luta campal contra os povos subdesenvolvidos. Há um renascimento camuflado do sentimento de divisão dos povos em raças: as superiores e as inferiores, que lembra os tristes tempos do nazifascismo.

Os fenômenos Trump nos EUA e o brexit no Reino Unido são os exemplos típicos de um nacionalismo acirrado de direita. A rejeição declarada contra os migrantes que fogem da fome e da miséria é outra característica preocupante para o mundo civilizado porque significa um retrocesso social. Na América Latina, por incrível que pareça, o racismo demagógico contra os pobres e excluídos sociais se acentua, ao mesmo tempo em que os “vendedores de milagres” constroem igrejas, cobram dízimos, vendem a remissão dos pecados, vencem eleições e assumem cargos importantes na administração pública.

Infelizmente os políticos nacionais, mesmo percebendo que as coisas caminham para um desfecho desagradável, continuam fazendo remendos na Constituição para deixar tudo como está, mantendo os privilégios escorchantes contra o povo brasileiro. Os congressistas e governantes estão construindo as condições favoráveis ao aparecimento de um “salvador da pátria” do tipo “caçador de marajás”, ou pior do que isso. E os novos vereadores eleitos nas últimas eleições não representam renovação, em termos de qualidade ideológica.

LANDES PEREIRA. Economista com mestrado e doutorado. É professor de Economia Política.

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Landes Pereira

Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.

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