Armadas, perigosas e salvas – por que armar as mulheres?

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Eu tenho certeza de que homens matam mais do que mulheres. Não é impressão, são estatísticas: 95% dos homicídios cometidos no mundo tem homens como autores.

Eu tenho certeza de que quanto mais armas a população civil detém, menor a criminalidade, o que inclui menos estupros. Não é impressão, são estatísticas, desde que se saiba comparar países semelhantes entre si. Comparar o Iêmen com a Suécia não é honesto. Comparar a Suíça com a Suécia, é. Uma em cada quatro mulheres terá sido estuprada ao longo de sua vida na Suécia. Na Suíça, tal crime é raríssimo. A Suécia tem controle de armas. Na Suíça, cada cidadão é um cidadão em armas, o que inclui as mulheres.

O Brasil aprovou o estatuto do desarmamento (não referendado, mas aplicado mesmo assim) no início da década passada. Cidadãos com ficha criminal limpa foram incentivados a entregar suas armas em nome da “paz”. Proporcionalmente, foram os alagoanos e sergipanos que mais aderiram à campanha. Hoje, Sergipe e Alagoas são recordistas em casos de homicídio e outros crimes. Na média do país, a taxa de homicídios cresceu, não diminuiu.

A Austrália também impôs leis severas de desarmamento. Resultado: 19% mais homicídios, 69% mais assaltos a mãos armadas. As maiores vítimas das leis restritivas foram as mulheres. Uma em cada seis australianas é estuprada, contra uma em cada 14 na média global. Armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas. Armas não estupram pessoas. Pessoas estupram pessoas.

Crimes sexuais geralmente não são cometidos por estupradores apontando uma arma de fogo para subjugar a vítima. Eles usam facas, canivetes ou a mera força física. Quando não a simples ameaça ou intimidação, no interior de um lar em que agressor e agredida são conhecidos, geralmente parentes entre si.

Armas de fogo, nos Estados Unidos, onde são tidas como um direito dos cidadãos na maior parte dos estados, evitam crimes sexuais em 97% das tentativas. Só 3% dos estupradores levam seu intento até o fim, após terem iniciado a abordagem, quando se deparam com mulheres armadas. E aqui não está contado o grande número de estupros contra crianças, adolescentes e outras mulheres evitados porque uma mulher armada interveio em socorro delas no momento da agressão. Porque a mulher pode ser pacífica enquanto agressora (os números o comprovam), mas se torna uma fera na defesa de vítimas contra seus agressores.

No Brasil, em que os raros estupradores condenados cumprem alguns meses de prisão e são soltos, a impunidade é regra geral, ocorrem pelo menos 50 mil estupros denunciados à polícia por ano. Uma pesquisa do Ipea, de 2011, estima os casos reais em pelo menos 527 mil todos os anos, 70% deles tendo como agressor parente, namorado, amigo ou conhecido da vítima. Os estupradores presumem, corretamente, que sua vítima não estará armada, muito provavelmente não terá como reagir, nenhum policial virá em seu socorro.

Seria necessário ter um policial a cada dois habitantes para a polícia ser eficaz na prevenção de crimes. Nenhum país do mundo confia apenas em sua polícia para coibir crimes. Nem adiantaria. As mulheres australianas e suecas sabem bem disso, pois as polícias de seus países são muito bem armadas e treinadas e não resolvem nada na hora do ataque.

Nos Estados Unidos, os estupros são mais raros em estados como o Texas, em que a lei (qualquer cidadão sem ficha criminal pode portar uma arma) e a cultura incentivam as mulheres a ter sua arma e treinarem para saber manuseá-las. Estatísticas comprovam que armas em mãos de não criminosos são utilizadas 80 vezes mais para evitar crimes do que para consumá-los. A cada ano, nos Estados Unidos, aproximadamente 200 mil mulheres utilizam armas de fogo para se proteger de crimes sexuais. Em Orlando, na Flórida, a simples iniciativa de patrocinar um curso de defesa pessoal com armas leves voltado para mulheres fez cair em 88% o número de estupros de um ano para outro.

Eu poderia preencher centenas de páginas com dados estatísticos e relatos de casos reais para provar que mulheres em geral não usam armas para agredir ou cometer crimes (há exceções? – evidentemente, mas desde quando exceções provam algo?) e que mulheres armadas e treinadas para usar armas tornam-se mais protegidas contra agressões de toda ordem, notadamente contra crimes sexuais. Não é necessário, sim? Basta você imaginar se um estuprador em potencial não irá pensar dez vezes antes de atacar mulheres provavelmente armadas e treinadas para atirar para matar, ou imaginar que possa haver uma mulher dessas por perto para proteger uma criança inocente. Eu não quero que ninguém morra. Sou contra a pena de morte e contra o bordão “bandido bom é bandido morto”, mas um estuprador que receba uma bala na cabeça em ato de legítima defesa serve de exemplo para todos os agressores em potencial muito mais do que uma condenação pelo Judiciário (pena de seis anos, solto com 1/6 da pena – um ano preso).

Em 2005, 63% dos brasileiros votaram em referendo contra o estatuto de desarmamento dos cidadãos com ficha limpa. Até hoje, os mesmos que se esgoelam para pedir respeito “à vontade popular” brigam para que a vontade amplamente majoritária dos brasileiros indefesos não seja regulamentada. O projeto de lei 3.722/2012 não foi ainda apreciado em definitivo pelo Congresso Nacional, apesar do compromisso do presidente Temer de sancioná-lo se aprovado pelo Legislativo.

Muitos gostam de falar em “cultura do estupro”. Cartazes e posts em redes sociais não protegem mulheres e crianças do inferno da agressão sexual, que destrói vidas, mói esperanças, tritura a autoestima das vítimas. Cartazes e posts em redes sociais não comovem agressores sexuais. Só servem para dar falsas esperanças às vítimas em potencial. Eu quero que as mulheres de minha família tenham em suas bolsas uma pistola automática de fácil manuseio e, ao mesmo tempo, de brutal potencial ofensivo. Eu tenho certeza de que elas não irão utilizar a arma para cometer crimes. Eu tenho certeza de que uma pistola nas mãos de uma mulher que sabe atirar é a mais eficaz, a mais potente arma contra a cultura do estupro e da violência em geral, pois mulheres, comprovadamente, não gostam de violência.

Aurélio Schommer

Fonte: Feminino e Além

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