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Dois Dinos e a Insustentável Leveza do Ser

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“Não é meia dúzia de malandros de volta à cena do crime que vão roubar minha alegria de viver”. (Caio Coppolla).

Em 1984, Milan Kundera escreveu o livro “A Insustentável Leveza do Ser”, onde faz reflexões sobre o erotismo, a existência, a felicidade, além de descrever o tempo histórico das personagens como “politicamente opressivo”, faz ponderações sobre a experiência do amor-livre, procurando decifrar o comportamento dos casais nos anos 60/70, época em que aconteceu a “Primavera de Praga” na República Tcheca. 

No inicio dos anos 90 era lançada a série “A Família Dinossauro”, cuja trama mostrava o dia a dia da família de Dino da Silva Sauro. No enredo, o mundo é dominado pelos dinossauros, que se comportam como pessoas, enquanto os seres humanos são animais selvagens e quando domesticados se tornam bichos de estimação dos dinossauros.

Em 2014, Flávio Dino, o comunista, era eleito Governador do Maranhão, quebrando 50 anos de domínio da dinastia Sarney na região e prometendo vida boa a todos os maranhenses.

Os três acontecimentos tem um ponto em comum: a ideia de peso x leveza.

No livro “A Insustentável Leveza do Ser”, Milan Kundera expõe aos leitores a história da vida de quatro personagens: Tomas, Tereza, Sabina e Franz e a cadela de estimação Karinênin. Tomas, um médico metido a playboy, é uma espécie de predador sexual e constantemente trai a esposa, Teresa. Apesar de saber da traição do marido, Teresa, fotógrafa, celebra sua experiência amorosa e solitária, mas vive amargurada. Franz, professor universitário, prega que as relações amorosas devem ser livres, é amante de Sabina. Esta, por sua vez, é uma das amantes de Tomas.

O peso que se abate sobre todos os seres da história é estar atados às relações sexuais pelo casamento. A leveza é a liberdade promíscua de fazer sexo livremente com qualquer um a qualquer hora, sem vínculos amorosos, sem responsabilidades, apenas mantendo relacionamentos.

Na série, “A Família Dinossauro”, todos os personagens são carnívoros. Lá assistimos as desavenças da família de Dino da Silva Sauro, cujo emprego é derrubar árvores da floresta para construir casas e que se gaba de ser o “Poderoso Megalossauro”, mas é covarde, dissimulado e medroso. A esposa Fran, é uma perfeita dona de casa. Os filhos adolescentes Bobby, cheio de maneirismos, cabelo punk e jaqueta de motoqueiro, jovem rebelde que faz Dino pensar que também ele se tornará um “poderoso megalossauro”, mas tem posturas efeminadas e em alguns episódios decide se tornar herbívoro, é um aluno medíocre e desinteressado e sua motivação é divertir-se e Charlene da Silva Sauro, uma adolescente fútil que venera presentes e dinheiro dos pais, uma mocinha deslumbrada por qualquer moda que surja. E Baby, uma adorável e perversa criança-dinossauro, além da mãe de Charlene que odeia Dino. A família Silva Sauro é viciada em televisão e nunca perde nenhum programa.

A série é politicamente incorreta, ácida, e suas críticas cheias de humor, ironizam a sociedade de consumo, os comportamentos, os conflitos familiares, a rebeldia dos adolescentes e os problemas no trabalho.

Aqui, os corpos dos gigantescos dinossauros se apresentam como um peso caminhando em um mundo onde todas as coisas ao seu redor se exibem menores, frágeis. O enorme corpo dos dinossauros passa a ideia de poder sobre tudo e todos e as relações entre eles são a leveza, pois os corpos gigantescos ao se deslocarem sem delicadeza podem destruir tudo ao seu redor e é desse modo que a leveza se apresenta. 

No Maranhão, em 18 de novembro de 2014, o comunista Flávio Dino, ex-presidente da Embratur, apoiado pela Presidente Dilma Rousseff, foi eleito Governador. Ele conseguiu convencer os partidos (PC do B, PSDB, PP, SD, PROS, PSB, PDT, PTC, PPS) a se juntarem em uma grande coligação intitulada “Todos pelos Maranhão”, contra a oligarquia da família Sarney. Dizia ao povo: "o Estado pulsa de esperança em dias melhores para o Maranhão".

Miserável, corrupto, com problemas monstruosos na segurança pública, saúde precária e sem nenhuma educação de qualidade, na época com mais de 6,5 milhões de habitantes, de acordo com o Censo 2010 do IBGE, o Maranhão apresentava a menor expectativa de vida na média de homens e mulheres (68,6 anos), cinco a menos que a média nacional (73,76).

Tornou-se presa fácil para o discurso falacioso dos comunistas.

No Maranhão o peso que se abatia sobre a população era representado pela corrupção e a miséria patrocinada pela oligarquia Sarney. A leveza era concebida pelo comunista Dino, que prometia aliviar a carga de maldades que os Maranhenses suportaram durante décadas. 

O livro de Kundera, “A Insustentável Leveza do Ser” é ficção. É uma espécie de ensaio filosófico, e retrata as escolhas que as pessoas fazem durante a vida e a influencia que os regimes comunistas exerceram sobre o destino das famílias, interferindo em suas individualidades, preferencias, privacidade de modo opressivo:

- “Quando uma conversa entre amigos diante de um copo de vinho é divulgada pelo rádio, uma coisa fica evidente: o mundo transformou-se num campo de concentração”. (A Insustentável Leveza do Ser, pag. 130).

Vale a pena ler o livro e refletir sobre ele.

A série,“A Família Dinossauro”, também é ficção. É sátira da melhor qualidade, pois não poupa nada nem ninguém. Critica acidamente comportamentos, problemas não resolvidos, feminismo, machismo, com piadas mordazes, corrosivas, sem medo de ser feliz, sem pieguismos ou vitimismos, inicia sempre com o “Poderoso Megalossauro”, Dino, avisando ao chegar em casa:

- “Querida, cheguei”!

E Baby gritando histericamente:

- “Não é a mamãe!”, “Não é a mamãe!” e “Eu sou o Baby, você tem que me amar”!

Vale a pena assistir, dar boas gargalhadas e refletir sobre o que nos tornamos.

O Maranhão, onde Flávio Dino assumiu o poder em 1º de janeiro de 2015 e prometeu transformá-lo em um paraíso, não é ficção. É dura realidade. Nua e crua realidade. Vejam as manchetes de blogs, jornais e revistas sobre sua administração:

- “Tragédia humana: Flávio Dino arrastou 400 mil maranhenses para a miséria em 5 anos”. (Daniel Matos - 25 de setembro de 2021).  
- “Fracasso e covardia: após aumentar miséria no Maranhão, Flávio Dino abandonará o barco”. (luiscardoso.com.br). 
- “Flávio Dino, nova estrela da esquerda, não brilha no governo do Maranhão/ Educação e saúde melhoraram, mas o desemprego quase dobrou e a miséria aumentou”. (Revista Veja - Publicado em 13 fev. 2020).
- “De como Flávio Dino empobreceu ainda mais o Maranhão após sete anos de governo”. ((Marco Aurélio D’Eça), em 31/05/2022).
- “Flávio Dino é o responsável pelo aumento da pobreza no Maranhão. Em 2015, Dino encontrou o Maranhão com 21 municípios no mapa da miséria e deixou cargo com o dobro”. ( g7ma. - junho de 2022). 
Disse a Revista Veja em longa reportagem: - “... Como se não bastasse, ele conseguiu uma “façanha” às avessas: em sua gestão, a miséria aumentou ainda mais no mais miserável de todos os estados brasileiros. Como “remédio”, o governador vem abrindo de forma temerária os cofres. Nesse aspecto, provou ser um comunista. Os últimos três anos do Maranhão foram no vermelho, com déficits consecutivos”.
Dino conseguiu algo impensável: dobrou a miséria no Maranhão, deixou mais de 400 mil habitantes abaixo da linha da pobreza, o Estado com o pior acesso à saúde pública, 65% trabalhando sem carteira assinada, aumentos escorchantes de impostos e o pior saneamento básico do país. Ele abandonou o governo e assessorado por um batalhão de marqueteiros candidatou-se ao Senado. Durante a campanha a realidade miserável maranhense foi transformada: tornou-se virtual, virtuosa, espetacular.

- “Então, o que escolher”? O peso ou a leveza? 

Foi a pergunta que Parmênides fez a si mesmo nó século VI antes de Cristo. Segundo ele, o universo está dividido em duplas de contrários: a luz e a obscuridade, o grosso e o fino, o quente e o frio, o ser e o não-ser. Ele considerava que um dos pólos da contradição é positivo (o claro, o quente, o fino, o ser), o outro, negativo. Essa divisão em pólos positivo e negativo pode nos parecer de uma facilidade pueril. Menos em um dos casos: o que é positivo, o peso ou a leveza? 

Parmênides respondia: o leve é positivo, o pesado negativo. Teria ou não razão? Essa é a questão. Uma coisa é certa. A contradição pesado-leve é a mais misteriosa e a mais ambígua de todas as contradições”. (A Insustentável Leveza do Ser, pag. 8).

E Dino, apesar de ter dobrado a miséria no Maranhão, virou Senador.

Perguntado sobre isso no primeiro mandato, respondeu que o culpa pela pobreza era do Grupo Sarney. Ao final do segundo mandato, com o aumento de miseráveis, não há mais Sarney, agora Dino e Sarney estão juntos, o culpado, acreditem, segundo ele, é o Presidente Bolsonaro!

Dino parecia a leveza. Parecia. Mas é um peso dobrado. Insustentável.

Como prêmio o ex-presidiário e semi-analfabeto nomeou essa “saliente criatura”, que quando discursa mexe as mãos e balança os braços como as pás de um moinho de vento, ao cargo de Ministro da Justiça do Brasil!

A “Insustentável Leveza do Ser” e a “A Família Dinossauro” são ficções. Mas a tragédia que Flavio Dino perpetrou no Maranhão como governante é real. Ele parece querer reeditar tudo de novo, agora em todo Brasil, pois só fala em prender, caçar, repreender, censurar...

Não, não vale a pena assistir de novo!

Endereços para pesquisa sobre Flávio Dino: (https://www.blogsoestado.com/danielmatos/2021/09/25/tragedia-humana-flavio-dino-arrastou-400-mil-mar... (https://luiscardoso.com.br/politica/2021/11/fracasso-e-covardia-apos-aumentar-miseria-no-maranhao-fl... barco/)/(https://veja.abril.com.br/politica/flavio-dino-nova-estrela-da-esquerda-nao-brilha-no-governo-do-mar....

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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