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“A Nomenklatura” ou a sociedade dos “sem-mérito”

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Não há diferença entre comunismo e socialismo, exceto nos meios de alcançar o mesmo fim: o comunismo se propõe a escravizar os homens pela força, o socialismo – pelo voto. É apenas a diferença entre assassinato e suicídio”. (Ayn Rand).

O leitor Martins Jr., ao comentar meu texto “Ressignificando...”, pediu um artigo sobre “nomenklatura”. No livro de Michael S. Voslensky, publicado no Brasil em 1980, “A Nomenklatura”, ele explica ao mundo o “arcabouço invisível” que encerrava, direcionava e oprimia com mão-de-ferro os habitantes da União Soviética. Esse modelo de governo Stalinista foi exaltado, exportado e copiado por todos os países onde o comunismo/socialismo se estabeleceu.

Voslensky, escritor, cientista e diplomata, esteve no âmago das entranhas do poder: ele pertencia a “Nomenklatura” da URSS. Seu livro foi traduzido em 14 línguas e impresso em várias edições. Ele foi perseguido, fugiu para Alemanha Ocidental onde deu aulas na Universidade e perdeu a cidadania Soviética.

O termo “nomenklatura” deriva do latim nomenclatura que, assim como em português, significa uma “lista de nomes”.

A “Nomenklatura” incluía altos funcionários do partido, devidamente hierarquizados, intelectuais, acadêmicos, artistas ou escritores, gozando de vantagens e mordomias inacessíveis aos habitantes da antiga União Soviética.

O livro “A Nomenklatura” desvenda o que era o comunismo real: uma mistura de “O Processo” de Franz Kafka, somado ao “Inferno” de Dante, acrescentando aí toda crueldade e organização da Máfia italiana. O caldo de ficção cientifica resultante dessa mistura que envolvia o país, era pura realidade, terror, brutalidade, mas era adocicado e exaltado pela máquina de propaganda comunista que enchia os países ocidentais de mentiras, deslumbrando incautos com as delícias do paraíso-comunista na terra.

Apoiado em abundante documentação, a obra de Voslensky analisa nas 433 páginas de seu livro os seguintes tópicos: I – A classe escondida; II – O nascimento da nova classe dominante; III – A classe dirigente da sociedade soviética; IV – A classe dos exploradores da sociedade; V - A classe dos privilegiados; VI - A ditadura da nomenclatura; VII – A classe que aspira a hegemonia mundial; VIII – Uma classe parasitária.

- “Esses dirigentes consolidaram uma burocracia tentacular de dominação da sociedade, para viver às suas expensas e ampliar seu poder através da violência progressiva. Com o nome de ditadura do proletariado, o novo regime confiscava todos os recursos da sociedade para si, representando a si próprio com o nome de outra classe”.

A lista ou “nomenklatura” era usada para preencher a enorme quantidade de cargos do governo russo, empregando o critério de “fidelidade partidária”, e não o de competência, como no Brasil.

- “Durante os numerosos anos em que vivi na URSS, raramente encontrei pessoas verdadeiramente talhadas para o posto que ocupavam. E era precisamente com as pessoas competentes que se causavam mais dificuldades: como não correspondiam ao critério habitual de seleção de quadros, pareciam ocupar os postos que jamais deveriam ocupar...” (p. 71-72).

Pertencer ou ser da “Nomenklatura” anunciava poder, significava pertencer a uma lista onde constavam apenas pessoas importantes: uma “classe” ou “casta” que decidia tudo, recebia benefícios, privilégios e era invejada por todos.

Os filiados ou membros do Partido precisavam mostrar serviço: vigiavam os vizinhos, escutavam sorrateiramente o que diziam os colegas no trabalho, em casa, em conversas de bares, em palestras e quanto mais eles denunciassem, mais eram queridos, incentivados e mostrados em reuniões como exemplos de defensores do socialismo contra todos aqueles que queriam destruir a “revolução comunista”. Assim subiam de cargo. Desse modo os cidadãos soviéticos foram transformados em “espiões-policiais” sem fardas.

Importante dizer que todos vigiavam todos. Eram os “apparatchikos” ou  agentes do aparato, indivíduos que desempenhavam tarefas burocráticas nos níveis mais baixos, de não liderança e queriam subir na escala da “Nomenklatura” a qualquer preço.

Tudo isso resultou em uma sociedade de bajuladores, lambe-botas, pessoas cínicas, desprovidas de qualquer ética, pois a única coisa que interessava dentro dessa sociedade comunista era participar das benesses do poder. No dia-a-dia procuravam desesperadamente os contatos certos, os padrinhos. No fundo desenvolveram uma espécie de estratégia de sobrevivência. Essa estratégia se aplicava a todos: dos burocratas às famílias mais humildes; dos intelectuais aos esportistas; dos professores aos médicos...

Segundo Mikhail Voslenski, esse esquema se estendeu a cerca de três milhões de pessoas na década de 1980.

Agindo assim, teriam oportunidade de participar ou pertencer a elite soviética.

No texto “Os oficiais soviéticos gozavam de muito luxo”? do “site Rússia Beyond”, destacamos:

- “Além de serem bem cuidados, os filhos de oficiais do governo russo também parece que tinham garantido um emprego a sua escolha”. No livro “Os dez da Rússia” (em tradução livre), Iliá Stogov conta como os filhos da nomenklatura iam a escolas especiais que lhes garantiam um futuro brilhante.
- "Depois de obter seus diplomas, eles podiam ir para o exterior como diplomatas, representantes comerciais, jornalistas - o que quisessem", escreveu Stogov.

A sobrinha de Brejnev, Luba Brejnev, também contou um pouco sobre a doçura que era a vida dos herdeiros da nomenklatura em seu livro de memórias “The World I Left Behind” (em tradução livre, “O mundo que deixei para trás”).

Em seu franco retrato da elite soviética, Luba revela como ela tinha, assim como os filhos de outros altos funcionários, empregos com pouca ou nenhuma responsabilidade, e ocupava seu tempo pintando as unhas ou escrevendo poesia.

- “Alguns se voluntariavam a trabalhos duros simplesmente porque não suportavam aquele tédio”, escreveu ela.

“Nomenklatura” tornou-se sinônimo de privilégios, pois “os membros do Partido Comunista ganhavam apartamentos luxuosos para morar, recebiam atendimento médico em clínicas especializadas, inacessíveis ao cidadão comum, punham seus filhos com mais facilidade em universidades e conseguiam alimentos e roupas a preços mais baixos”.

Em nosso país, o modelo da “Nomenklatura” foi replicado pelo PT, de 2003 a 2016. Cargos e criação de mais cargos para saciar a sede dos “cumpanheros”.

- “Se há um ponto importante em comum entre as práticas políticas de bolcheviques e lulopetistas, ele reside na forma de organizar o poder para, a pretexto de agir em nome do povo, assegurar a permanência do partido governante”. (Álvaro Vargas Llosa, especialista em política na América Latina).

Aparelhar o Estado e dominar empresas estatais para financiamentos de campanhas do PT são os instrumentos preferidos pelo partido. Eis alguns exemplos recentes, na nova era dos comunistas/petistas/socialistas que neste ano de 2023 dominam o Brasil:

“Dois casos recentes são particularmente escandalosos... O presidente da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil), o ex-senador Jorge Viana (PT-AC), promoveu, em março, uma mudança no estatuto do órgão em benefício próprio, excluindo a exigência de inglês fluente para ocupar o cargo responsável por divulgar os produtos brasileiros no exterior. Segundo a assessoria de Jorge Viana admitiu ao jornal, ele não domina a língua inglesa. Fala, 'mas não a ponto de fazer um discurso'."

Em tempo: o salário de Jorge Viana na Apex-Brasil é de 65 mil reais, sem ter competência e sem falar inglês.

“O segundo escândalo envolve, vejam só, a Petrobras. O governo de Lula da Silva indicou nomes para o Conselho de Administração da empresa de capital misto. O setor de governança da empresa rejeitou 4 dos 11 indicados pelo governo, em razão da existência de conflito de interesse ou de não preenchimento dos requisitos e condições legais. Diante desse parecer, o mínimo que o Palácio do Planalto deveria fazer era indicar outros nomes, por respeito à empresa, por respeito à legislação vigente que protege a empresa e por um mínimo de cuidado depois de todos os escândalos do PT envolvendo a Petrobras.
No entanto, o governo de Lula da Silva considera-se acima das regras de compliance. Ignorando o parecer da Petrobras, o Ministério de Minas e Energia reiterou a indicação de nomes que haviam sido vetados”. (Estadão -  O desprezo do PT pelo que é público – 20/04/2023).

Tentando enganar os brasileiros e criar uma cortina de fumaça para encobri o fracasso de sua administração em 100 dias de governo, o PT bancou milionária propaganda  gastando milhões do orçamento público, segundo a Revista Veja:

“Entre 8 e 10 de abril de 2023, marco dos 100 dias do novo governo Lula, Globo, Record, Band, SBT e Rede TV faturaram pelo menos 32 milhões de reais da Secom de Paulo Pimenta. Foram quase quarenta minutos de propaganda oficial na TV aberta.
Segundo a empresa Controle da Concorrência, foram 55 inserções (de 30 e 60 segundos). A Globo faturou 11,6 milhões de reais. Já o SBT de Silvio Santos levou 9,8 milhões de reais. A  Record recebeu 6,6 milhões de reais e ficou em terceiro lugar nos repasses. Band (3,7 milhões de reais) e a Rede TV (854.000 reais) fecham a lista”.

É o “pai dos pobres” em ação, “desenvolvendo” o Brasil abraçado com o PT, “os artistas”, “o consórcio de imprensa”, “os intelectuais”, “os universiotários”, “os influenciadores”, “os índios”, “as ONGs”, “os sindicatos”, “os professores marxistas”, “as comunidades” e demais partidos que o apoiam instituindo uma nova “Nomenklatura”.

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

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