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João de Deus é condenado novamente, mais de 370 anos de cadeia e segue em prisão domiciliar

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Eram oito as condenações criminais de João Teixeira de Faria, o João de Deus. Porém, na última segunda-feira (10), ganhamos mais uma árdua batalha e esse monstro foi condenado em mais três processos que tramitavam em Abadiânia, recebendo 100 anos de prisão, totalizando mais de 370 anos de cadeia em 11 processos criminais.

Ainda faltam quatro processos a serem julgados e a expectativa é que o total de sua pena ultrapasse a de outro psicopata – o Sérgio Cabral.

E o que esses dois mega-apenados têm em comum? Ambos estão em prisão domiciliar.

Quem não lembra daquela campanha da Globo que dizia “Esse é o Brasil que eu quero”? Pois bem, parece que eles conseguiram o país que queriam – estamos vivendo no apogeu da impunidade.

Um é predador sexual em série. O outro é predador do dinheiro público, também em série.

A Ciência diz que não têm cura, enquanto viverem serão uma ameaça velada e constante para a sociedade, mas estão em “liberdade domiciliar”, ou melhor, em prisão domiciliar.

Nesse país, conseguir uma condenação criminal de gente poderosa, mafiosa, e bem articulada, é como tirar água de pedra.

Esse verme era amigo dos homens de Brasília e se relacionava com quadrilhas até de tráfico de pessoas – esse é o pior perfil de um réu quando se batalha por uma condenação criminal.

Não fossem três guerreiras destemidas e determinadas ao sacrifício da própria vida pela luta das vítimas desses criminosos bestiais, possivelmente o cenário seria outro. São elas: Maria do Carmo Santos, Vana Lopes e Sabrina Bittencourt – a quem dedico esse artigo.

Maria do Carmo é a Presidente do Grupo Vítimas Unidas, um grupo de expressão nacional e internacional que atua em diferentes demandas e de forma voluntária para acolher e apoiar vítimas de todos os tipos de violência. Vana Lopes é a fundadora do grupo e foi a primeira vítima a denunciar os crimes do Roger Abdelmassih. Vana ficou doente e Deus a levou de nós nesse ano – uma enfermidade adquirida em consequência das angústias e aflições que vivia constantemente na guerra contra esses predadores sexuais.

Sabrina Bittencourt foi quem me trouxe para o grupo e também perdeu a sua vida.

Mas o caso da Sabrina é sinistro.

Ela tinha um estilo mais atirado, mais atrevido. Sabrina investigava fundo e não se intimidava com represálias – denunciava o que descobria. Foi obrigada a deixar o país quando mergulhou no Caso João de Deus. Sabrina tinha muitas provas e seguiu denunciando o falso médium do exterior. A cada denúncia, a cada áudio e a cada vídeo, Sabrina estava em um lugar diferente do Planeta, sempre em local incerto e não sabido. Vivia como fugitiva, com medo de morrer.

Sabrina denunciou que esse canalha era proprietário de um garimpo ilegal no meio da mata. Disse ter provas de que diversas mulheres eram trazidas para os alojamentos dos garimpos seduzidas por ele – pois receberiam muito dinheiro e alimentação farta na troca de favores sexuais com os garimpeiros. Essas mulheres acabavam sendo escravizadas no garimpo. Quando engravidavam era melhor ainda para esse psicopata, pois logo após o parto as crianças eram vendidas a preço de ouro. 

Sabrina foi encontrada morta na Espanha. A família sustenta que foi suicídio e temos que respeitar.

O fato é que a Maria do Carmo está à frente do Grupo Vítimas Unidas há muitos anos, não é de agora. Ela é uma guerreira da Luz, uma ativista imbatível e incansável. A diferença é que hoje ela faz o trabalho pelas três.

Ela diz que não: “sozinha eu não faria nada disso”, completando que sempre conta com a ajuda de pessoas dispostas a cooperar com as boas causas, me incluindo nesse exército de soldados do Bem. Contudo, ela que é obrigada a andar escoltada, sempre em lugares diferentes e primando pela discrição, tanto que não se pode falar mais que isso sobre a vida pessoal desse anjo na forma humana. 

Maria do Carmo desabafa:

“Espero que a condenação desse indivíduo encoraje as mulheres vitimadas nesse Brasil a denunciarem esses monstros. O Grupo Vítimas Unidas sempre estará aqui para ampara-las, seja através de um simples apoio psicológico até uma assessoria jurídica criminal. É com você mesmo (Maggiolo), que eu conto nessas horas. O que eu não consigo entender é como que um ser abominável como esse pode estar cumprindo sua pena em prisão domiciliar. Chega de manobras jurídicas! Esse monstro tem que estar enjaulado e trancado a sete chaves”.

Não carece de razão a Presidente do Grupo. Enquanto cometia seus crimes impunemente, João de Deus manipulava toda a cidade. Motoristas de taxi, hotéis, farmácias, todos viviam em função dos visitantes do falso médium – e acobertavam seus crimes. Esse cafajeste é um manipulador nato. Prisão domiciliar para um criminoso dessa envergadura é temerária. Tanto é que ele contraiu casamento em regime de prisão domiciliar – casou com a sua advogada.

Ele precisava de alguém que dedicasse a vida para salvar a sua cabeça das penas da lei, que manobra mais genial que seduzir a sua própria advogada?

Sem entrar no mérito da advogada, é assim que funciona a cabeça de um psicopata.

E vão deixar esse ser da escuridão em prisão domiciliar?

Já não passou da hora da Justiça rever a sua decisão?

Se teve a capacidade e discernimento para casar, é porque tem condições de cumprir a pena devidamente recolhido à prisão.

Foto de Carlos Fernando Maggiolo

Carlos Fernando Maggiolo

Advogado criminalista e professor de Direito Penal. Crítico político e de segurança pública. Presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro – AMO-RJ. 

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