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Execução de ex-vereador expõe o perigo de viés político na federalização do caso Marielle

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Lembra o Caso Celso Daniel? Todos os envolvidos, testemunhas e informantes estão mortos – absolutamente todos! É impressionante o requinte da esquerda para apagar os rastros de sangue de seus crimes. Pois bem, a história se repete.

Nesta segunda-feira, dia 7, foi executado a tiros em Guadalupe, um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, mais uma testemunha do Caso Marielle.

Dessa vez foi assassinado o ex-vereador Jair Barbosa Tavares, mais conhecido como Zico Bacana.

Uma execução sem nenhuma cerimônia, tanto que mataram também o seu irmão que o acompanhava no momento da execução.

O crime só não ocorreu a céu aberto porque as vítimas estavam dentro de um estabelecimento comercial. Ainda morreu uma terceira vítima, mas o crime organizado enxerga isso como dano colateral e a imprensa brasileira nada de braçada nesse oceano de indiferença com a vida humana, pois sequer divulgou o nome desse pobre coitado.

Antes de ser eleito, Zico Bacana foi citado na CPI das Milícias como um dos chefes de grupos paramilitares que atuavam na região de Guadalupe e Ricardo de Albuquerque, mas nunca foi sequer indiciado.

Se no Caso Celso Daniel os verdadeiros mandantes, os poderosos chefões, estão impunes e, quiçá, no comando do país, nesse caso da Marielle Franco não será diferente, pois é de muito pior elucidação.

A investigação no caso de São Paulo era uma linha reta – e eles conseguiram embaralhar, camuflar, esconder e apagar pistas e provas, resultando num show em que ao final do espetáculo a plateia aplaudiu a impunidade. O caso da Marielle também pode ser de natureza política, só que, além disso, envolve a polícia e a milícia, tudo isso no berço do crime organizado do país – o Rio de Janeiro.

Um personagem como Zico Bacana pode ter sido queima de arquivo de políticos, de milicianos ou até mesmo de maus policiais. É mais complexo que o Caso Celso Daniel.

Vocês lembram da Raquel Dodge, a Ex-Procuradora Geral da República? Ela tentou federalizar o caso da Marielle e perdeu na Justiça. Transitou em julgado e fez coisa julgada. É impressionante a sede do Ministro da Justiça em querer federalizar o caso, mesmo com a decisão da Justiça.

Sagaz, elaborou uma manobra jurídica e executou. Disse que compete à Polícia Federal investigar os casos de direitos humanos de repercussão internacional. Nomeou seu delegado de confiança para chefiar a Polícia Federal no Rio e assim foi instaurado inquérito, ou seja, federalizou o caso.

Sabe-se que foram diversos personagens políticos ventilados durante a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual, muitos deles políticos de expressão. Federalizar o caso pode ser o mesmo que entregar o galinheiro para a raposa tomar conta.

Por outro lado, neutraliza a influência de ex-policiais e milicianos, o que pode acabar revelando novas informações.

A delação premiada do Queiroz pode até revelar finalmente o mandante do crime (não se sabe ainda porque só foi divulgada a primeira parte da delação), mas causa estranheza as autoridades federais não procurarem o caminho mais fácil para se chegar aos mandantes. Já que estavam dispostos a procederem para uma delação, por que não ofereceram isso ao Ronnie Lessa, o autor dos disparos e líder dos criminosos?

Ora, quem poderia ter uma linha mais reta com o mandante do que o líder?

Quem vai delatar necessariamente tem que “entregar” o seu companheiro hierarquicamente superior, no caso, o mandante.

Quem melhor que o Ronnie Lessa pra isso?

O que causa mais estranheza ainda é o fato de que o próprio Ronnie Lessa acenou em dezembro/janeiro, que estaria disposto a realizar delação premiada. Seria fácil.

Agora executam um personagem político/miliciano, antes mesmo de revelarem o inteiro teor da delação premiada do Queiroz.

Será que alguém teve acesso a informação privilegiada e precisou apagar um arquivo vivo?

São conjecturas, mas são conjecturas “bem reais”.

Nessa esteira de raciocínio, se o caso foi federalizado por alguma motivação política e alguém realmente teve acesso a informações privilegiadas, tai uma linha de investigação que a Polícia Civil Estadual saberá trabalhar com maestria.

Seremos obrigados a aguardar as cenas dos próximos capítulos, mas não criem muitas expectativas.

Afinal, estamos no Brasil, o país dos inocentes.

Foto de Carlos Fernando Maggiolo

Carlos Fernando Maggiolo

Advogado criminalista e professor de Direito Penal. Crítico político e de segurança pública. Presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro – AMO-RJ. 

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