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A quem interessa manter policiais dentro de containers em uma área sob total domínio do tráfico de drogas?

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Diante da deterioração de todos os órgãos destinados a proverem a segurança pública do Brasil, uma merece maior preocupação no momento – a Polícia Militar.

Num país em que uma Universidade Federal (a do Paraná), promove um evento pregando o fim das polícias (ocorrido na última sexta-feira e denominado “Quem nos cuida da polícia?”), onde os palestrantes esbravejavam frases como “a polícia tem que acabar”, “ninguém tem que ser preso” ou ainda “a polícia trabalha para matar”, você lutar pelo aprimoramento da atividade policial é o mesmo que remar contra a maré.

São jogadas ensaiadas de um governo federal ‘policiofóbico’.

O fato é que os ataques às instituições policiais ocorrem diariamente, sejam ou não jogadas ensaiadas. A ideia de desmilitarizar a PM em breve ganhará corpo e as páginas da grande mídia, sempre cúmplice quando o assunto é desgastar a classe policial.

Portanto, cada governador que zele pela sua PM.

No Rio de Janeiro, o Governo do Estado poderia aproveitar a ocasião para consertar um erro grave do passado – deveria acabar com as UPPs.

Entretanto, é compreensível que jamais tome essa atitude, pois seria um suicídio político. Graças a grande imprensa, a sociedade tem uma percepção errada das UPPs.

Pensam que as Unidades de Polícia Pacificadora instaladas nos altos das comunidades cariocas, de alguma forma trazem segurança para o povo local, mas não trazem. A mídia passa essa mensagem para a população – uma percepção equivocada da realidade.

As UPPs foram lançadas em 2008, pelo então governador Sérgio Cabral. No Morro Santa Marta deu certo – a primeira, o projeto piloto – em mais lugar nenhum ela funcionou.

Mesmo no D, Marta, hoje, já não dá mais certo.

Ao todo se conta 38 unidades instaladas que ficaram esperando chegar o resto do Estado com suas atividades sociais, mas nunca chegaram. E ainda que chegassem, na maioria das comunidades continuaria sem dar certo.

Não se pode criar um projeto padrão e implantá-lo em todas as comunidades, jamais iria dar certo. Porém, o governo Cabral estava fechado com a Globo e o projeto das UPPs se transformou num show midiático.

Na época o alerta foi dado! Dois verdadeiros ícones da Polícia Militar se posicionaram veementemente contra esse projeto descabido e fadado ao insucesso: o Coronel Cony e o Coronel Príncipe. Porém, suas vozes foram únicas e ainda assim abafadas pela envergadura de um programa que seria o grande marco do governo Sérgio Cabral, que visava a sua reeleição (isso tudo ocorreu em 2008).

Passados exatos 15 anos, o que são as UPPs hoje, no alto dos morros?

A quem interessa essa modalidade de policiamento mentiroso, falaciano, sem qualquer finalidade, em uma área sob total domínio do tráfico de drogas, sem a presença das demais instituições relacionadas na ideia inicial do projeto?

Pra que a Polícia Militar nesses locais onde o poder não é do Estado?

O projeto da UPP é uma falácia mesmo, na sua essência. A população não tem noção de como é a rotina de um policial (seja homem ou mulher), que serve numa unidade dessas. Como é a entrada na comunidade do policial que vai tirar um serviço de 24 horas, já imaginou? Qual a segurança da UPP na proteção do policial, se a maioria delas são containers?  

Ora, é só perguntar aos policiais militares se preferem trabalhar numa UPP ou nas rondas de ruas, nas viaturas, nas cabinas e demais formas ostensivas de policiamento. Nenhum PM quer ser designado para UPP, pois é o mesmo que viver cada dia participando de uma roleta russa.

Agora as perguntas que não querem calar: passados os 15 anos, onde existe uma UPP, em qual localidade deixou de ter tráfico de drogas?

Qual o número de prisões de traficantes por integrantes de uma UPP?

Qual o número de armas apreendidas por UPP?

É por tudo isso que o projeto das UPPs é uma falácia.

E as meninas da PM? Vejam o fado de 15 anos de um projeto estapafúrdio. Quantas são as policiais femininas hoje licenciadas pela psiquiatria por terem sido formadas e jogadas nas bocas dos leões (as UPPs)?

Acabar com as Unidades de Polícia Pacificadora é tarefa difícil. A grande mídia enraizou esse falso conceito positivo no inconsciente coletivo muito antes da população despertar para as narrativas tendenciosas da imprensa brasileira.

Por fim, antes tarde do que nunca. A nossa PM seria muito mais eficiente concentrando sua força nos batalhões e realizando suas incursões nas comunidades sempre que necessário – tenha certeza disso, Governador.

Nada contra a implantação de projetos dessa natureza, desde que sejam factíveis, pontuais, focados numa determinada comunidade e observando suas peculiaridades.

UPP é um projeto macabro, danoso para a PM e para a sociedade.

Foto de Carlos Fernando Maggiolo

Carlos Fernando Maggiolo

Advogado criminalista e professor de Direito Penal. Crítico político e de segurança pública. Presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro – AMO-RJ. 

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