desktop_cabecalho

Manuel, Joaquim... E Bruno Laje ou tem coisas que só acontecem ao Botafogo

Ler na área do assinante

Pois é amigos, tem coisas que só acontecem ao Botafogo.

O glorioso andava por baixo, fruto de más administrações, então do nada aparece um milionário e se apaixona pelo Botafogo. O homem botou a casa em ordem, dispensou os parasitas, emplacou nova administração e trouxe um técnico português.

E, desconfiados, ficamos pensando assim: Portugal nunca ganhou nada de importante no futebol, seus técnicos jamais foram agraciados com prêmios respeitáveis ou tiveram destaques em competições internacionais. Portugal nunca ganhou um mundial, Na verdade, nunca nem sequer chegou à final da competição. A melhor campanha foi em 1966, quando ficou em terceiro lugar. A seleção Portuguesa ganhou uma única vez a Eurocopa, seus times são pouco conhecidos e também venceram pouquíssimas vezes campeonatos importantes, como o Mundial de Clubes, do qual o Benfica foi vice, perdeu para o Penãrol em 1961 e para o Santos de Pelé em 1962.

Então por que um técnico português?

Os portugueses são malandros ou talvez pensem que são. Procuram disfarçar a arrogância fazendo cara de Manuel/Joaquim/Zé das Couves/padeiro, Bruno Laje, ela vem de longe, vem do tempo em que os portugueses tomaram o Brasil dos índios, mataram, escravizaram. Depois, no Brasil Colônia, foram buscar escravos na África e durante 300 anos submeteram esse povo a trabalhos forçados. E quando o Brasil se tornou independente quem deu o grito foi um português, não um brasileiro, e o português se tornou rei e continuou mandando no Brasil Império independente por mais 70 anos. Eles continuam acreditando que a terrinha que tomaram dos índios, roubaram e levaram todo ouro para Portugal, ainda pertence a eles. E a culpa de tudo isso e pela escravidão cabe aos brasileiros que aqui ficaram, segundo os canhotas “intelectuais orgânicos”, que alienam o país.

Os brasileiros se vingam fazendo milhares de piadas com os portugueses, chamando-os de Manuel e Joaquim e Bruno Laje, e dizendo que eles são burros. E é aqui que volto ao assunto de que existem coisas que só acontecem ao Botafogo.

Então as coisas funcionaram com o técnico português convidado. Isto é funcionaram mais ou menos como a música dos Mamonas, “O Vira”:

“Fui convidado pra uma tal de suruba
Não pude ir, Maria foi no meu lugar
Depois de uma semana, ela voltou pra casa
Toda arregaçada, não podia nem sentar”

O time, milagrosamente, disparou no campeonato Brasileiro e na Sul Americana. Mas quando tudo parecia que ia bem e têm coisas que só acontecem ao Botafogo, um árabe atravessou o caminho e levou o português embora.

“Quando vi aquilo, fiquei assustado
Maria, chorando, começou a me explicar
Daí, então, eu fiquei aliviado
E dei graças a Deus porque ela foi no meu lugar”.

O milionário Presidente do Botafogo não se deu por vencido e trouxe o técnico brasileiro Cláudio Caçapa. Ele chegou, olhou e como entende de futebol, não mexeu na estrutura do time, incentivou os jogadores e ganhou seis partidas em seqüência com o time:

“Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba
Já me passaram a mão na bunda
E ainda não comi ninguém”.

Pois é, o Botafogo ainda não tinha ganhado nada, quando novamente o destino interferiu e o milionário trouxe outro técnico português: Bruno Laje. Ele é muito parecido com o Zé das Couves ou qualquer outro português que trabalha em padaria e tem cara de português. Fato é que o português resolveu inventar e começou a mexer no time que estava ganhando. Foi disputar as quartas de final da Sul Americana e trocou todo time: meteu 10 reservas e empatou o jogo dentro do Nilton Santos. Foi vaiado. Foi esculhambado, escrachado. E a torcida ferida, com o coração dolorido, reclamava:

“Ô, Manoel, olha acá como eu estou
Tu não imaginas como eu estou sofrendo
Uma teta minha um negão arrancou
E a outra que sobrou está doendo”.

E cheio de orgulho e vaidade o Zé das Couves, o Manoel padeiro, que também se chama Bruno Laje, respondia para a torcida:

“Ô, Maria, vê se larga de frescura
Que eu te levo no hospital pela manhã
Tu ficaste tão bonita “monoteta”
Mais vale um na mão do que dois no sutiã”.

E foi para o segundo jogo na Argentina e repetiu a dose: metade do time reserva. Perdeu o jogo e o Botafogo perdeu quatro milhões e foi eliminado da Sul Americana. Mesmo magoada a torcida recebeu o time no aeroporto. Então chegou o jogo mais esperado, contra o maior rival, o Flamengo. O que fez o português? Escalou um jogador uruguaio, juvenil, que nunca tinha jogado em qualquer time titular, muito menos no time do Botafogo, na lateral direita para marcar o Bruno Henrique, o melhor atacante do Flamengo. E um tal de JP.

O pobre garoto foi driblado dezenas de vezes no primeiro tempo. Todo mundo no Nilton Santos via que aquilo estava errado, que o rapazola deveria ser trocado, sair. Mas voltou para o segundo tempo e de drible em drible o miúdo ficou tonto e Bruno Henrique fez o gol e o Flamengo ganhou a partida. Bruno Laje, o portuga vaidoso, cantou para torcida do Botafogo:

“Ô, Maria essa suruba me excita
(Arrebita, arrebita, arrebita)
Então vá fazer amor com uma cabrita
(Arrebita, arrebita, arrebita)
Mas, Maria, isso é bom que te exercita
(Bate o pé, arrebita, arrebita”)

Gritaram de volta os botafoguenses:

“Manoel, tu na cabeça tem titica
Larga de putaria e vem cuidar da padaria”.

Não, o vaidoso 'Manoel' Laje padeiro, depois de todos os erros cometidos, não foi cuidar da padaria. Foi dar entrevista e mandou ver:

– Sinto que sobre essa coisa de só olharem para o meu percurso no Botafogo acho que é muita pressão nos meus jogadores e isso não admito. E só há uma forma de libertar dessa pressão. Estou aqui perante vocês, não conversei com ninguém, pensei aqui e estou colocando o meu cargo à disposição do diretor, da administração. Tenho contrato com o Botafogo até dezembro. Não posso permitir que a pressão sobre mim seja exercida sobre meus jogadores. Isso minimamente tem que ser extirpado – afirmou Bruno Lage logo no começo da curta coletiva.

– Eu tenho contrato com o Botafogo até dezembro, é muito dinheiro de salários, tenho prêmios que já estão praticamente garantidos por ir à Libertadores. Tem o prêmio de campeão, mas não tenho nenhum problema de abdicar disso, porque não sou guloso pelo dinheiro. O que não posso permitir é que a pressão que está sendo exercida sobre mim seja exercida sobre meus jogadores. É isso que eu tenho para dizer. Meu lugar está à disposição de quem manda, sem qualquer outra coisa para dizer. Boa-noite, obrigado – finalizou o técnico português, deixando a sala de imprensa.

“Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Neste raio de suruba
Já me passaram a mão na bunda
E ainda não comi ninguém
Vamos lá, todo mundo dançando, raios
Todo mundo comigo
Uou, uou, uou, a Maria se deu mal, vamo lá
Ai, como dói”.

Pois é, amigos, o Botafogo sofreu uma suruba igual a Maria e o milionário John Textor, apaixonado pelo Botafogo se deu mal, a torcida se deu mal, o Botafogo se deu mal e o português se deu bem.

Atentem para suas palavras:

“... essa coisa de só olharem para o meu percurso no Botafogo acho que é muita pressão nos meus jogadores e isso não admito... muito dinheiro de salários... tenho prêmios garantidos por ir a Libertadores... Meu lugar está à disposição de quem manda, sem qualquer outra coisa para dizer “

Interpretando o que o espertalhão disse: o dinheiro do Botafogo ou do milionário John Textor já está no meu bolso; prêmios também; todos devem ficar calados, pois não admito pressão mesmo perdendo 4 milhões, escalando mal o time, jogando pior ainda, perdendo a Sul Americana e descambando no Brasileiro. Se quiser me demitir, não levo saudades! Boa-noite.

Ao deixar o cargo a disposição o português simplesmente disse: seu eu perder o campeonato a culpa é de vocês. Eu entreguei o cargo. Calem-se!

Ou John Textor e o torcedor do Botafogo compreendem o que o português quis dizer quando deixou o cargo a disposição, isto é, criou um clima de “eu me demiti e vocês é que estão insistindo comigo”. Fico e terei o mesmo comportamento, as mesmas patetices, o cargo está a disposição. Escalarei quem eu quiser, sem nenhuma responsabilidade fazendo experiências em jogos importantes. Cale-se. O cargo está a disposição.

Corra, John Textor, traga de volta Claudio Caçapa, deixe o portuga como auxiliar ou como “aspone”, pois perder por perder é melhor perder com quem quer ganhar!

Corra, John Textor, traga de volta Cláudio Caçapa!

Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Ler comentários e comentar