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A difícil arte de viver no Brasil de hoje

O Brasil carece de solidariedade.

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É avassaladora a indisposição que toma conta dos nossos desejos a qual têm nos deixado inertes em meio às grandes transformações em que passamos neste novo século aqui em nosso país. Não é uma passeata ou uma greve que irá desmentir o fato de que estamos perdidos a tal ponto que não temos a mínima noção de como sair dos e resolver os nossos problemas.

Um ponto chave e central esta no conceito da ética; tema negligenciado e fadado as discussões apoteóticas dos intelectuais dos cursos da área social e filosófica. Trazer o tema a discussão em um bar regrado a tira-gosto e cerveja não é mais viável quando o tema principal recai exclusivamente a uma tendência pós-democracia que é o: “só o que me favorece me importa”.

Sabemos que o mar de corrupção em que estamos sendo todos os dias expostos sempre existiu e nunca morrerá, e que o nosso famoso jeitinho brasileiro é histórico e institucionalmente estabelecido na cultura brasileira; mas me custa aceitar que estejamos em um nível de tolerância tal que qualquer manifestação contra soe apenas como aquela discussão apoteótica já citada.

Quando se vê professores em greve serem tratados como terroristas e castigados por exigirem melhores salários e estrutura de trabalho, e quando do outro lado de quem deveria vir à organização e a administração, surgir apenas o cabuloso autoritarismo démodé de truculência e violência, e para ao fim observarmos o silêncio e a inércia do cidadão que vê tudo em choque e cegueira, se presume que pelo choque e pela perda da força o cidadão se vê congelado e conformado em meio ao caos.

Em um pensamento breve sobre Edgar Morin me recordo de sua ética coletiva, quando para esse o interesse individual deveria se traduzir como comunitário ou do mesmo princípio de Kant da universalidade da lei moral -, se não quero o mau para mim, por que deveria querer para o outro? Ou mesmo: se não quero sofrer, por que me permitiria o silêncio dos inocentes?

Creio que mesmo com o fim dos anos de chumbo e a aurora da democracia no Brasil, ainda estamos na infância do nosso desenvolvimento social, e por isso, como crianças [birrentas] em meio a um mundo ao qual exige cada dia mais adultos no comando, nos ressentimos de maior maturidade para podermos fazer melhores escolhas.

Estamos ainda longe das estruturas mais elementares de um pensamento complexo. Outro dia ao construir crítica sobre o pensamento de cidadãos de sistemas políticos ditatórios, ou seja, de Estados fechados como, por exemplo, a Coréia do Norte, surgiu à idéia de que esses povos vivam uma forma de estrutura de pensamento totalmente ilusória e de pouca profundidade em demérito a toda informação existente para se construir o saber complexo. É fato que um olhar unidimensional ao fenômeno acarreta idéias fechadas e integristas.

Conseguir olhar além do próprio preconceito é um passo importante para propagar uma ética mais solidária, ainda defendida por Morin como a ação, estimulação, organização e a comunicação como fonte de religação entre os seres. Quem sabe, os policiais que esta semana pagaram a fiança do sujeito que haviam prendido por furto (furto de comida), mas que logo depois descobriram se tratar de um pai desesperado em poder alimentar seu filho faminto, acabaram ao fim também lhe ofertando o alimento; quem sabe ai um sinal de um reflexo de pensamento solidário.

O Brasil carece de solidariedade. “Redistribuição” de renda como fonte de responsabilidade social é antiquado quando pensamos na diferença entre o lado do egocentrismo do discurso e o altruísmo realmente aplicado; qual a verdadeira necessidade coletiva? Onde se estabelece nesses termos de uma política focada no individual e nas necessidades imediatistas o vínculo social? Será que constituímos ao fim uma histeria coletiva e o chauvinismo?

O Brasil é hoje polarizado a partir dos rótulos constituídos a uma direita conservadora e uma esquerda progressista e que nada mais é que imaginativo e ofuscante, ainda mais se pensarmos que essa postura é inflexível e por si egocentrada: onde esta nosso altruísmo?

Volto à questão do: “o que me traz benefício?”; fazemos aquilo que nos gera dividendos, protestamos contra aquele ou aquilo que nos trouxe prejuízos, mas nunca protestamos ou tomamos partido contra o prejuízo coletivo. É como a eleitora que disse votar em X candidato (a), pois este ou esta lhe trazia uma vantagem social e econômica, nada mais se encaixaria como comentário a esta se não parafraseando Mario Sergio Cortella haver a maquiagem de um discurso ético cheio de hipocrisia, uma ética muito mal usada e utilizada como uma fachada de bons cidadãos.

Vivemos nos dias de hoje num Brasil das glórias do passado e maquiado pela falsa moral dos santos, da falsa autenticidade de pecadores, e da falsa bondade dos bons samaritanos, de verdadeiro apenas a exposição das vísceras sociais em algum reality show o qual choca pelo seu abuso de verdade em meio às máscaras as quais usamos quando tentamos esconder a nossa verdadeira face. Como esta difícil viver nesse Brasil de hoje!

Robson Belo

Psicólogo, Psicopatologista e Psicoterapeuta

Clínica, Educação e Empregabilidade

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Robson Belo

Psicólogo

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