Entre a desonra e o mandato de Senador (veja o vídeo)

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“Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra.” (Winston Churchill (1874-1965))

Encontro organizado por Hermann Göring, comandante da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) e marechal do Reich nazista, em setembro de 1938, reuniu em Munique o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, Adolf Hitler, Benito Mussolini e Édouard Daladier, da França, entre outros. Foi o momento mais vistoso da história da “política de apaziguamento”, defendida ardentemente por Chamberlain, bem mais do que Daladier, por exemplo.

Hitler queria, após a anexação da Áustria, a adição da região dos Sudetos, na atual República Tcheca, cujos ocupantes eram, majoritariamente, de ascendência alemã. Chamberlain assinou o vergonhoso “Acordo de Munique” com Hitler, concedendo os Sudetos ao ditador alemão, sem que a antiga Tchecoslováquia, onde ficavam os Sudetos, fosse ouvida. Foi algo como se Lula concedesse, hoje, a região de Essequibo, 75% da área da Guiana, ao ditador da Venezuela, Maduro, sem ouvir o povo da Guiana.

Chamberlain voltou sorridente, triunfante mesmo, para a Inglaterra, abanando o indecente papel assinado por ele e Hitler. A ridícula cena com o discurso de Chamberlain de volta ao Reino Unido pode ainda ser achada, hoje, na Internet.

Aquele discurso, de 30 de setembro, foi proferido no antigo aeroporto de Heston, em Londres, e recebeu o pomposo título “PEACE IN OUR TIME” (Paz em nosso tempo). Hitler era referido naquele discurso de forma respeitosa, civilizada por Chamberlain, como se fosse um estadista sério e pessoa confiável.

Winston Churchill, então membro do Parlamento Britânico na época, inconformado com a civilidade e cortesia deferida por Chamberlain a Hitler, pronunciou uma de suas frases mais impactantes e premonitórias:

“Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra.”

É a frase que citei lá em cima, mas que repito aqui para ressaltar sua importância histórica e moral.

A premonição de Churchill confirmou-se: em 10 de março de 1939, quando Hitler invadiu toda a antiga Tchecoslováquia. Em 01 de setembro, a Alemanha de Hitler ataca e invade a Polônia. É o início da Segunda Guerra Mundial. Chamberlain cai em desgraça e Winston Churchill assume como Primeiro Ministro do Reino Unido, para levar o País à vitória contra a Alemanha, junto com os demais aliados.

Este breve texto serve, como uma luva, de introdução ao surpreendente e chocante comportamento do senador Sérgio Moro, durante a chamada sabatina de confirmação para uma vaga ao Supremo Tribunal Federal (STF) de Flávio Dino, indicado pelo - nada mais nada menos - corrupto confirmado e ex-presidiário Lula da Silva. O ex-juiz da Lava-Jato foi espontaneamente à mesa onde estava sentado Flávio Dino e não apenas o cumprimentou formalmente (o que, de fato, não era necessário nem protocolar), mas abriu-se em explícita manifestação de alegria, sorrisos íntimos, gargalhadas cúmplices e abraços suspeitíssimos. Nada disso se confunde com o que Moro depois qualificou de “comportamento civilizatório”. Nada há de civilizatório na confraternização entre anjo (que se pensava Moro ser) e demônio, que se tem certeza o comunista Dino é. Nada há de civilizatório no gesto de Moro, como nada houve de civilizatório na Munique de 1938, quando da reunião cordial entre Hitler e Chamberlain e a assinatura de tratado de “paz” com o monstro nazista. A História mostrou que Chamberlain envergonhou o Reino Unido, como Moro agora envergonha a sua própria biografia.

Sempre admirei Moro pela sua ação durante o processo de limpeza moral do Brasil – conhecido como Lava-Jato - quando então processava e condenava grandes corruptos do País, Lula da Silva à frente e acima de todos. Sempre o defendi – inclusive em artigos publicados no JCO e na Gazeta do Povo – contra a “fritura explícita” – aliás, o título de um dos artigos mencionados -, conduzida por Bolsonaro contra Moro, enquanto Moro não admitia interferência política na Polícia Federal. Jamais concordei – aliás, sempre refutei - com a cruel campanha lançada contra ele quando de sua saída do governo Bolsonaro, que o apontava como “traidor”. Na ocasião Moro não traíra Bolsonaro, apenas defendera bons princípios de administração pública.

Sempre me indignei com a perseguição “jurídica” contra Moro, Dallagnol e outros combatentes da alta corrupção pública, em campanha sempre imoral, desumana, injusta e política deslanchada pelo sistema Executivo/STF/TSE.

Votaria, sempre que pudesse, em Moro para qualquer cargo federal, inclusive a presidência da República. Tudo isso, entretanto, até a malfadada sessão de suposta sabatina de Flávio Dino,13/12/2023. Hoje, após os afagos nada republicanos e altamente comprometedores, não mais.

Talvez nunca se possa provar que Moro fez o impensável: ter votado em seu detrator, comunista, inimigo da Lava-Jato, criador do Grupo Prerrogativas de advogados também inimigos da Lava-Jato. O próprio Moro já declarou sigilo para “evitar represálias”. Represálias de quem mesmo? Dos seus antigos admiradores, ou do sistema STF/TSE? Tudo indica que, sim, votou em Flávio Dino. Esta é a impressão que fica e ficará, até que Moro confesse o seu voto.

Estaria Moro acometido da ilusão de Neville Chamberlain de 1938? Houve, a exemplo de 1938 em Munique, um acordo de bastidor, não publicado, entre Moro e Dino? Coisa do tipo: “Vota em favor da minha indicação ao STF que eu garanto reverter, com colegas do STF/TSE, a cassação do seu mandato no TRE-PR.”? Nunca teremos prova de que houve tal conluio, embora a confraternização entre Moro e Dino pareça indicar que sim. Mas, se houve tal acordo, pobre Moro. Demonstrou, se tal acordo houve, cabal ingenuidade, entre outras coisas. A esquerda, como o Hitler de 1938, se lixa para acordos. Ela os aceita apenas até que veja conveniência em tais acordos. Cabe, então, uma paráfrase à frase de Winston Churchill, cita lá atrás:

“Entre a desonra e teu mandato, escolheste a desonra e perderás o mandato.”

Segue abaixo um vídeo sobre as repercussões do tema tratado neste texto.

Foto de José J. de Espíndola

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.

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