Pastor Jorge prefere morrer a ficar trancado na Papuda, sem qualquer motivação e injustamente

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O pastor Jorge Luiz dos Santos, 58 anos, está preso desde 8 de janeiro no Presídio Papuda, após refugiar-se dentro do Palácio do Planalto para fugir das bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha da Polícia Federal. Um vídeo apresentado pela família mostra o momento exato em que um policial faz o pastor levantar-se e dá um tranco de forma que ele cai e quebra a rótula do pulso.

Após ser agredido pelo policial, ali mesmo no Palácio do Planalto ele recebeu o primeiro tratamento antes de ser encarcerado, onde permanece até hoje, inclusive sem o atendimento de saúde adequado às suas comorbidades. Falta pouco para completar um ano de prisão e o julgamento dele está marcado para 2 de fevereiro de 2024.

No dia 9 de setembro, a Procuradoria Geral da República (PGR) emitiu o parecer de soltura do pastor, porém ele permanece preso. Somente no dia 18 de dezembro, dois dias atrás, o ministro Alexandre de Moraes deu parecer sobre a decisão da PGR indeferindo, com o argumento de que Jorge tem antecedentes criminais referentes aos artigos 180 e 171. De pronto o filho Wanderson Luiz Lisboa dos Santos, 37 anos, foi atrás da documentação para provar que seu pai é réu primário, um cidadão de bem, que nunca cometeu qualquer crime.

“Buscamos a Certidão de Antecedentes Criminais do meu pai, porque o ministro Moraes está copiando e colando e não se deu o trabalho de verificar que esses crimes não foram cometidos por meu pai, que é um pastor e tem uma índole ilibada”, diz Wanderson.  Caso a justiça agisse com isonomia nos casos de 8 de janeiro, Jorge já deveria estar em liberdade, porque outros presos com julgamento em andamento e sem parecer favorável da PGR, como é o caso de Josiel Gomes de Macedo, já estão em casa em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.

Desde 29 de maio, foi determinado pela Juíza de Direito, Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que o pastor Jorge passe por procedimento cirúrgico devido a um problema de hemorroidas nível 4, sem que ele tenha sido atendido.

“Meu pai sempre teve problema com pressão alta e dores de cabeça. Lá no presídio ele não conseguiu a medicação para tratar esse problema. Sabemos que enquanto o Dr. Frederico estava lá como preso político, meu pai foi socorrido por ele quando passava mal. Aliás, o Dr. Frederico era chamado pelos guardas não só para atender os presos políticos, mas também atendia os presos comuns. Ele nunca recebeu atendimento médico e nas vezes que foi para o ambulatório se sentiu humilhado por ter que ficar nu e agachar diante de policiais femininas. Ele decidiu que não vai mais procurar ajuda, por ter vergonha dessa situação. Quanto ao caso das hemorroidas, que é uma situação de cirurgia, até hoje não evoluiu, mesmo com a juíza tendo determinado o encaminhamento”, conta o filho.

QUEM É O PASTOR JORGE

Jorge é pai de cinco filhos e é casado com Creusa Maria Lisboa Maia Santos, 57 anos. Moram no município Conselheiro Lafaiete, que fica a 50 km de Ouro Preto, MG. Ele é pastor numa comunidade humilde do interior do município chamada Itaverava, onde locou uma casa para levar a palavra de Deus uma vez por semana. Para sustentar a casa, Jorge vende caldo de cana que ele mesmo produz: raspa a cana, moe e faz o caldo. Desse trabalho vem o sustento do casal e da neta Adriele, que estava grávida quando foi preso e que agora é mãe do pequeno Rael.

O trabalho com o caldo de cana é a única fonte de renda e cobre o aluguel da igreja também. Pastor desde os 33 anos, mesmo preso Jorge não autorizou o fechamento do local de oração por entender que aquelas pessoas muito humildes precisam de oração e pregação. Lá de dentro do Papuda deu ordens aos filhos e esposa para convidar um pastor amigo para fazer o seu serviço até que ele volte de Brasília para Conselheiro Lafaiete.

“Todos os domingos minha mãe acompanha este pastor até Itaverava, como meu pai pediu. Eu não vou porque preciso fazer a venda de biscoitos de polvilho para conseguir recursos para ajudar a família toda. Não temos muitas condições e estamos nos dedicando ao máximo para cumprir com todos os pagamentos dos honorários advocatícios. Não podemos deixar o nosso pai sem um ótimo advogado e o Dr. Daniel Guimarães, de Brasília, DF, tem feito um bom trabalho na defesa”, relata Wanderson. 

O pagamento das parcelas de R$ 700,00 para a defesa tem sido desafiador, porque junto a ela somam-se outras despesas domésticas, com as despesas com o pequeno Rael que nasceu em meados desse ano, além de outros custos decorrentes da prisão do patriarca.

BOM COMPORTAMENTO

E prossegue o filho:

“Meu pai tem trabalhado dentro do Presídio Papuda. Foi escolhido como um classificado e serve almoço, limpa banheiros, lava o chão e faz a interface entre os presos e os advogados nos agendamentos. Por conta disso, trocamos muitas correspondências com ele, o que compensa o fato de não podermos visitá-lo no presídio por ser muito caro para nós. Porém, desde a morte do Clezão, os presos políticos mudaram de ala e passaram a conviver em celas lado a lado com presos comuns. Desde então, meu pai deixou de ser um classificado”.

E revela:

“Nós lamentamos muito o fato do meu pai não ter saído até agora, mesmo com o parecer favorável da PGR. O bisneto dele nasceu e ele não pode conhecer. Numa das cartas que ele nos enviou escreveu ter medo de perder a mãe antes de se despedir dela. E de fato a minha avó está com um câncer alastrado pelo corpo (pulmão e intestino), coisa que não tivemos coragem de contar para ele. Sabe que está doente somente. Numa outra carta ele fala da tentativa de suicídio do patriota Jorginho, que foi difícil conter, e numa terceira carta ele fala que prefere morrer a continuar lá dentro”.

Ana Maria Cemin. Jornalista.

Publicado originalmente no site Bureau.com

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