Surge nova evidência de que Sérgio Moro votou pela aprovação da nomeação ao STF de Flávio Dino

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Foi na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado que se deu o espetáculo deprimente dos efusivos abraços, dos sorrisos largos e olhares cúmplices entre Sérgio Moro e Flávio Dino, antes da edulcorada sabatina deste, como indicado do ‘Princeps Corruptorum’, Lula da Silva, a uma cadeira cativa no Supremo Tribunal Federal, o notório STF. 

A partir daquele constrangedor espetáculo surgiu a forte suspeita de que Moro – por razões que a razão conhece – teria cometido suicídio moral e político e votado a favor da indicação feita pelo seu condenado mais vistoso por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato: Lula da Silva.

Após a indecente aprovação de Flávio Dino para sentar seus imensos glúteos em uma cadeira do STF, o senador Sérgio Moro (União-PR) recebeu uma mensagem de um tal de "Mestrão" pedindo para ele "ficar frio", não ligar muito para as escandalosas fotos que já inundavam a Internet. 

Mestrão ainda adverte Moro de que "só não pode ter vídeo de você falando que votou a favor":

“Sergio, o couro está comendo aqui nas redes, mas fica frio que jaja (sic) passa, só não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, senão isso vai ficar a vida inteira rodando. Estou de plantão aqui, qualquer coisa só acionar”.

Moro, em resposta, escreve:

“Blz. Vou manter meu voto secreto”.

Só não entende este diálogo como coisa mafiosa quem, na tentativa desesperada de manter a esperança viva, fecha os olhos para não ver o evidente. Não adianta, o santo só é santo enquanto não comete um pecado definitivo, imperdoável. Também sofro, já que reconheço o passado glorioso de Moro como Juiz da Lava Jato. Moro era uma figura em que eu votaria para qualquer cargo federal, desde deputado até presidente da República. Hoje, não mais. Isto me dói muito!

Moro depois veio a público informar que o sigilo do voto é uma “prerrogativa” do parlamentar. Sim, é uma PRERROGATIVA, mas não uma OBRIGAÇÃO. Bem ao contrário, o eleitor tem o direito de saber como atua, e porque assim atua, o parlamentar em quem depositou seu voto.

Esta vergonhosa história também doeu e dói em Deltan Dallagnol, antigo coordenador da Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba. Eis um texto de Dallagnol que revela sua profunda tristeza e decepção, sem citar o nome de Moro:

"Senadores que votaram no Dino por emendas parlamentares ou por MEDO DE VINGANÇA violaram o dever que têm com seus eleitores. Se você permite que o sistema o controle com dinheiro ou ameaças, você virou sistema. Mesmo tendo sido cassado eu não me arrependo de nunca ter aceito emendas e cargos do governo e de nunca ter baixado a cabeça para os donos do poder. Eles podem tirar de mim a paz, mas não a coragem; o cargo, mas não a luta; o salário, mas não o valor"

Moro também afirmou que mantinha sigilo sobre o seu voto “para evitar represálias”. Em um artigo que publiquei e cujo link ofereço aqui, perguntei: "represálias de quem"? Do STF/TSE ou dos eleitores? Moro não explica! As novas evidências, entretanto, explicam: represálias dos eleitores. Tudo indica, ante os fatos novos, que Moro temia (e por uma boa razão!) a represália futura dos eleitores.

Vamos, então, aos novos fatos. Flávio Dino foi aprovado na CCJ com 17 votos a favor e 10 votos contra. Os votos a favor e contra foram – ao contrário do voto de Moro – declarados por seus depositantes. Eles estão agrupados em uma planilha elaborada pelo empresário Gulherme Kilter (Partido Novo). Esta planilha é oferecida abaixo. Nesta planilha constam dez votantes a favor de Dino, outros dez contra e sete não declarados. 

Moro está entre os que não declararam os votos. Ora dez votos (declarados) a favor somados a sete votos (não declarados) somam precisamente os dezessete votos depositados a favor de Dino. Ficou claro, pois não? A menos que haja algum equívoco na planilha de Kilter (hipótese difícil de conceber!) fica evidente que Moro votou, sim, em Flávio Dino. 

Dallagnol, como muitos potenciais eleitores de Moro, temos toda a razão do mundo para estarmos chocados. Sim, as evidências indicam que Moro escondeu seu voto para evitar represália de seus antigos e potenciais novos eleitores. A emenda saiu-lhe pior do que o soneto. Poderá custar-lhe, além da perda do mandato, a sua carreira política. 

Foto de José J. de Espíndola

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.

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