A caixa de Pandora

Ler na área do assinante

“Vou contar-lhe um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele realiza-se todos os dias”. (A Queda, pag. 42 - Albert Camus).

A eleição de Lula, condenado a 12 anos de cadeia, descondenado para disputar eleições, abriu a “caixa de Pandora” sobre o país. Metade da nação optou por deixá-la fechada. A outra metade + um por cento, cheia de curiosidade, sem qualquer cautela, sem nenhuma prudência, preferiu abri-la.

As consequências desse ato deplorável que não se pode reverter, são lamentados todos os dias pelos insensatos que destamparam a caixa, sofrem seus castigos, e pela outra metade que admoesta com palavras duras os irresponsáveis, pois sobre essa segunda metade que não queria abrir a caixa também recaem os males.

No livro de poemas (“Teogonia”), escrito por Hesíodo durante o século VII a.C., encontramos o “Mito de Pandora”.

Eis “O Mito de Pandora” traduzido pelo site português “Olimpvs”:

- “Em tempos muito, muito longínquos, não existiam mulheres no mundo, apenas homens, que viviam sem envelhecer, sem sofrimento, sem cansaço. Quando chegava a hora de morrerem, faziam-no em paz, como se simplesmente adormecessem.
Mas um dia, Prometeu (cujo nome significa “o que pensa antecipadamente”, isto é, Previdente) roubou o fogo a que só os deuses tinham acesso e deu-o aos homens, para que também eles pudessem usufruir desse bem, na defesa contra os animais ferozes, na confecção dos alimentos, na garantia de aquecimento nas noites frias.
Ora, o rei dos deuses (Zeus) não podia deixar passar em branco a afronta de Prometeu e concebeu um castigo terrível para a humanidade.
Mandou então que, com a ajuda de Atena, Hefesto, o deus ferreiro, criasse a primeira mulher, Pandora, que significa (‘todos os dons’), e cada um dos deuses dotou-a com uma das suas características: Afrodite deu-lhe beleza e poder da sedução; Atena fê-la arguta e concedeu-lhe a habilidade dos lavores femininos; mas Hermes deu-lhe a capacidade de mentir e de enganar os outros.
Zeus ofereceu-a então de presente a Epimeteu, que era irmão de Prometeu. O seu nome significava exatamente o contrário do irmão, pois Epimeteu quer dizer ‘o que pensa depois’, isto é, Irrefletido. E, de fato, sem pensar duas vezes e contrariando a advertência do irmão, que lhe dissera que nunca aceitasse nenhum presente vindo de Zeus, ele deixou-se seduzir pela bela Pandora e casou-se com ela.
Pandora trazia consigo um presente dado pelo pai dos deuses: uma jarra (a’ caixa de Pandora’), bem fechada, que estava proibida de abrir. Mas, roída pela curiosidade, um dia decidiu levantar só um bocadinho da tampa, para ver o que lá se escondia. De imediato dela se escaparam todos os males que até aí os homens não conheciam: a doença, a guerra, a velhice, a mentira, os roubos, o ódio, o ciúme…
Assustada com o que fizera, Pandora fechou a jarra tão depressa quanto pôde, colocando-lhe de novo a tampa. Mas era demasiado tarde: todos os males haviam invadido o mundo para castigar os homens. Lá muito no fundo da jarra, restara apenas uma pequena e tímida coisa, que ocupava muito pouco espaço, a esperança. Por isso se diz que ‘a esperança é a última a morrer’.
De fato, com todos os males soltos no mundo, lutando e tantas vezes vencendo os bens de que os homens gozavam, só a esperança, bem guardada no mais fundo dos nossos corações, nos dá ânimo para nunca desistirmos de expulsar as coisas más das nossas vidas.”

Como o leitor inteligente já deve ter percebido, a caixa de Pandora brasileira foi a eleição de Lula. A curiosidade da metade do país em ‘dar uma olhadinha’, em ‘observar como se comportava’ um individuo condenado a 12 anos de cadeia, semi-analfabeto, administrando mais uma vez a nação que ele e seus ‘amiguinhos’ foram acusados de assaltar, essa abertura da caixa através da eleição soltou o presidiário, deixou-o livre para dar vazão a todos os seus desejos de vingança, para tomar decisões que afetariam a vida de todos.

Assim como Pandora, o desejo irreprimível da metade + um de abrir, de assistir o que aconteceria sobrepujou a prudência e “... De imediato dela se escaparam todos os males que até aí os homens não conheciam: a corrupção, a doença, a mentira, os roubos, o ódio, o ciúme, a ganância, inveja, dor, fome, pobreza, guerra e morte.…”.

E assim passado um ano da libertação daquilo tudo que é nocivo a nação, eis o resultado da ação irrefletida de se colocar um ex-presidiário no poder:

- Um rombo de 230 bilhões nos cofres públicos em 2023;
- A derrocada de toda operação Lava Jato. Um mar de lama escorreu pelo país e anulou todas as provas colhidas pela maior operação de combate à corrupção da história do Brasil. A estrutura que protegia os corruptos foi erguida outra vez.
- Os meios de comunicação alinhados ao governo, cinicamente, lamentam a corrupção no Brasil enquanto aplaudem “a propagandeada democracia comandada pelo presidente da República em parceria com impávidos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que se espantam com o espanto da população diante da corrupção no país”.
- O Brasil caiu dez posições no Índice de Percepção da Corrupção de 2023, divulgado pela Transparência Internacional. Dos 180 países avaliados, o país ficou na 104ª posição, logo atrás de Belarus, Etiópia, Gambia, Zâmbia e Argélia.
- Em artigo reproduzido pelo site O Antagonista, o jornal americano Financial Times explica para os seus leitores que:
- A ordem dada por Toffoli para investigar a organização anticorrupção que denunciou o desmonte do combate à corrupção no Brasil é a medida mais recente do ex-advogado do PT “que nos últimos meses tem procurado desfazer o legado da Lava Jato, investigação anticorrupção no Brasil, que […] revelou um vasto esquema de subornos por contratos envolvendo executivos do grupo estatal de energia Petrobras, um cartel de empresas de construção e dezenas de legisladores de todo o espectro político”.
- O artigo lembra ainda que o Departamento do Tesouro dos EUA classificou o esquema de corrupção na Petrobrás desvelado pela Lava Jato como o maior caso de suborno estrangeiro da história e finaliza citando o relatório da Transparência Internacional, segundo o qual “graças às decisões de Toffoli, o Brasil se tornou um cemitério de evidências de crimes que geraram miséria, violência e sofrimento humano em mais de uma dezena de países da América Latina e da África”.
- Ante as denúncias da Transparência Internacional, Toffoli tentou usar a Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar a ONG por suposta apropriação de recursos recuperados pela Lava Jato. O diretor-executivo da Transparência Internacional, Bruno Brandão, declarou que recebeu com espanto o pedido de investigação de Tofolli, que qualificou de “falso e leviano”.
- O aumento da “espetacularização” das operações da PF por ordem do Ministro Alexandre de Morais contra civis, dirigentes partidários e parlamentares da oposição, “algumas delas baseadas em frágeis indícios — foto adulterada, erros de data e de identificação de interlocutora em conversa de WhatsApp, sem falar nos casos de um réu do 8 de janeiro morto na prisão com pedido pendente de relaxamento por motivos de saúde e de outro réu mantido preso em razão de antecedentes criminais de um homônimo”.
- O descaso com a saúde, tão criticado no governo Bolsonaro, agora gerido por dirigentes “competentes”, diz que “Ao menos 62 pessoas morreram em decorrência da dengue nas primeiras cinco semanas de 2024, de acordo com informações divulgadas nesta sexta-feira (9) pelo Ministério da Saúde”. Outras 279 mortes estão em investigação.
- Informa ainda Ministério da Saúde que o país contabiliza 183.186 casos confirmados da doença e 225.165 são classificados como prováveis. Há uma projeção de 4,2 milhões de casos de dengue no país em 2024.

Enfim, amigos, a caixa de Pandora foi aberta: perseguições, corrupção, doenças, os atos do Supremo Tribunal Federal, da esquerda corrupta, dos jornalistas passadores de pano, as eleições e as urnas que como totens sagrados estão proibidas de ser criticadas, a libertação do ex-condenado Lula, a tentativa de Lula e de seus correligionários de dizer que os esquemas de corrupção não existiam, Lula acariciando ditadores, políticas econômicas que só provocaram recessão, desemprego, epidemia de dengue, empresas que admitiram irregularidades e que agora participam do governo, o perdão do Judiciário aos poderosos que confessaram crimes...

Mas há um fato ainda mais inquietante: o ex-presidiário eleito não pode sair às ruas das cidades do Brasil que é chamado de ladrão! E quando ele vai a eventos públicos a plateia é sempre amestrada, escolhida a dedo, para que não haja constrangimentos. Isso aumenta, e muito, a desconfiança do povão sobre o resultado das eleições.

Lembrando que a “Esperança” ficou presa na caixa, não saiu, finalizamos relembrando a conclusão do mito:

- “De fato, com todos os males soltos no mundo, lutando e tantas vezes vencendo os bens de que os homens gozavam, só a esperança, bem guardada no mais fundo dos nossos corações, nos dá ânimo para nunca desistirmos de expulsar as coisas más das nossas vidas”.
Foto de Carlos Sampaio

Carlos Sampaio

Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Ler comentários e comentar