Nike, English Team e a Cruz de São Jorge: a dissolução das tradições

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A nova camisa da Seleção Inglesa gerou uma polêmica de grandes proporções na Inglaterra. Na parte superior do uniforme, a Cruz de São Jorge foi colocada em tons de azul, roxo e vermelho – diferente do tradicional vermelho e branco. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, criticou a ação da Nike, fornecedora do English Team: ‘’quando se trata das nossas bandeiras nacionais, não deveríamos mexer nelas. São uma fonte de orgulho, identidade, quem somos, e são perfeitas como estão”, disse Sunak.

Que um homem do Partido Conservador levante a voz contra tal insanidade é reação esperada. Mas a prova cabal de que a Nike passou dos limites foi dada pela reação dos trabalhistas. ‘’Eu sou um grande fã de futebol. Eu vou aos jogos da Inglaterra, masculinos e femininos, e a bandeira é usada por todos. É um unificador e só deveríamos nos orgulhar disso. Acho que eles deveriam apenas reconsiderar isso e mudar de volta’’, disse Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista – uma agremiação política de esquerda.

A Nike não fez uma bobagem qualquer, tampouco os ingleses com algum juízo estão dando chilique por nada. Um símbolo como a Cruz de São Jorge não se faz presente na bandeira inglesa à toa – nem se ataca a sua essência sem saber do que se trata.

São Jorge é o santo padroeiro da Inglaterra. O lendário Ricardo Coração de Leão, rei e cruzado intrépido, nomeou o guerreiro da Capadócia como protetor das tropas que lutaram pela Igreja. Quando penso em São Jorge, muitas coisas passam pela minha cabeça. A sua biografia, o destemor ao martírio, a coragem de quem renunciou aos bens terrenos e entregou a alma a Deus, tudo isso faz dele um exemplo de fé.

E não surpreende nada que São Jorge seja o padroeiro daquela nação que foi chamada de ‘’Ilha dos Anjos’’ por São Gregório Magno, Papa e doutor da Igreja. A alma inglesa – mesmo com as heresias da Reforma, do liberalismo ateu, do secularismo e do progressismo contemporâneo – continua a demonstrar uma disposição pela defesa do que é correto. Quem salvou o mundo de virar um inferno nazista comandado por um psicopata como Adolf Hitler? Winston Churchill. Sabendo que lidava com um inescrupuloso genocida, aquele sábio britânico com um enorme senso de responsabilidade estava disposto a lutar até o fim para derrotar o nazismo. Mesmo com os perigos de tal postura e a debilidade natural de um homem em plena velhice.

Essa mesma alma é vista em São Thomas More, que guardou a sua fé ao não obedecer a Henrique VIII – o homem responsável pela queda inglesa de seis séculos. Mesmo condenado à morte, nunca perdeu o bom humor, pois sabia estar certo e cumprir fielmente a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Um santo de tal envergadura e coragem só poderia ter nascido na Inglaterra.

Quando a Nike faz esse tipo de coisa, ela não cospe apenas num símbolo nacional que une conservadores e trabalhistas. É um deboche com um emblema que revela a verdadeira vocação da nação inglesa, aquela sensibilidade perceptível para os que conhecem a queda e o preço da nossa salvação enquanto humanidade.

Mas por que ela fez isso? Bom, a Nike é uma gigante do seu ramo. As grandes empresas aderem ao progressismo e não é de hoje. Grande parte dos bilionários e donos de megaempresas são globalistas, pertencentes a uma elite que almeja um governo mundial controlado por ela própria. Para tal empreitada ser bem sucedida, é necessário obter o controle total da sociedade e destruir os valores tradicionais da civilização ocidental: a moral cristã, as identidades nacionais e o livre mercado – quem não consegue enxergar que o capitalismo laissez-faire só é viável no ambiente calcado pela espiritualidade outrora dominante no Ocidente é palpiteiro e ignorante. Não por acaso o principal representante dessa imundície diabólica é George Soros, o maior financiador de causas esquerdistas como aborto, legalização das drogas, feminismo, ateísmo e tutti quanti.

Mesmo com a cegueira progressista típica das nações europeias, os ingleses já deram provas de não compactuar com essa agenda megalomaníaca. A maior delas foi o Brexit, referendo ocorrido em 2016 no qual a maioria dos britânicos escolheu sair da União Europeia. Tal bloco é tido como o suprassumo da integração econômica e política, mas a verdade é bem diferente: a maioria esmagadora das decisões tomadas na UE cabe a burocratas que não são eleitos por ninguém – principalmente em temas sensíveis como a imigração ilegal. Por esses e outros motivos, os britânicos – ingleses em sua maioria – resolveram votar pela retirada do UK, o que provocou uma onda de revolta na esquerda mundial e no seu maior puxadinho, a grande mídia.

Atacar as soberanias nacionais é parte do plano dos psicopatas globalistas. Se o alvo é a Inglaterra, pior ainda, pois os ingleses são extremamente orgulhosos de sua cultura – mesmo com os percalços históricos supracitados. Eu sempre tive admiração com essa sensibilidade inglesa de encarar o mundo. Além disso, como bom amante do futebol, tenho enorme carinho pelo English Team e a sua querela em ser maior do que atualmente é. Vi uma geração de craques como David Beckham, Frank Lampard, Steven Gerrard, Joe Cole, Wayne Rooney e Ashley Cole não ganhar nada. A atual é composta por Jude Bellingham, Harry Kane, Phil Foden, Declan Rice, Bukayo Saka e Alexander-Arnold – todos bastante talentosos.

Que a Seleção Inglesa tenha melhor sorte com essa nova geração. Torcerei por isso, mesmo com o sacrilégio cometido pela Nike.

Foto de Carlos Júnior

Carlos Júnior

Jornalista

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