A crise brasileira é, acima de tudo, moral

Ler na área do assinante

Em meio ao maior desastre climático da história do Brasil, que basicamente arrasou o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro promoveu, com dinheiro público, um show de ‘putaria’, transmitido ao vivo pela Globo. Nas areias de Copacabana, um espetáculo horrendo ao estilo Sodoma e Gomorra.

"Sexo simulado, beijo gay e seios à mostra: Madonna exala liberdade no Rio", era a chamada principal no portal UOL, com várias outras coberturas sobre o bacanal. Como destaque secundário, a tragédia no RS.

Aparentemente, havia mais servidores públicos trabalhando no show pornográfico no Rio do que assistindo os milhares de gaúchos esperando resgate no telhado das suas casas, cercados pelas águas, na mais sombria das noites.

Eles enviavam mensagens desesperadas para grupos de WhatsApp criados por voluntários. A maior parte dos salvamentos tem ocorrido dessa forma.

Em meio aos resgates, já na madrugada, membros de facção passaram a hostilizar, e até mesmo assaltar socorristas, num dos bairros mais pobres de Canoas. Onde estavam as forças de segurança?

O Ministério da Defesa anunciou que cerca de mil homens das Forças Armadas foram enviados para ajudar nos trabalhos de resgate e acolhimento. Ora, há 360 mil militares na ativa no Brasil. Diante do tamanho da tragédia, não há como mandar mais soldados? Dá uma média de 3 militares por cidade afetada pelas chuvas. Creio que havia mais militares envolvidos na prisão das velinhas com Bíblia na mão em frente ao QG de Brasília, em janeiro de 2023, do que nessa operação do RS.

Ainda em Canoas, nove pessoas morreram na UTI do principal hospital da cidade, depois que as águas tomaram o recinto. Elas esperaram por mais de oito horas por um resgate que não chegou. Não muito longe dali, mil presos foram transferidos da alagada Penitenciária Estadual do Jacuí em segurança, horas antes. Prioridades...

Já havia uma expectativa de cheia história do Guaíba desde quarta-feira, mas houve uma ordem de evacuação das áreas mais afetadas pela enchente apenas na manhã do sábado, quando a água já invadia essas regiões. Por que esse alerta demorou tanto?

A conversa telefônica que caiu nas redes sociais sobre as mortes na UTI, entre o prefeito de Canoas e o ministro de comunicação de Lula, dois velhos companheiros da esquerda brasileira, evidenciou a completa desorganização e falta de recursos do Governo Federal. Por que mandaram um ministro de comunicações para coordenar os trabalhos? O descondenado Lula chegou a passar pelo estado e ficou apenas 3 horas, para dizer que estava torcendo pelo Grêmio e pelo Inter. Ninguém entendeu nada. Ou pensando melhor, entendemos tudo.

O RS já havia passado por situações climáticas extremas nos últimos anos, mas pouco foi feito para prevenção e para aumentar a capacidade de resposta a esse tipo de cenário. Nem mesmo um radar meteorológico decente há no estado, comprado em 2023, mas que passará a operar apenas no segundo semestre deste ano, dando mais um exemplo da eficiência da máquina pública.

Ontem, em meio ao caos, e à evidente falta de estrutura mínima de resposta ao desastre, o Ministério da Justiça anunciou o envio da Força Nacional, contando com o "expressivo" efetivo de 60 bombeiros, 40 policiais, 25 caminhonetes, dois ônibus, um caminhão e três botes, segundo a Folha.

Está cada vez mais evidente que o Estado brasileiro serve hoje apenas ao establishment corrupto até o tutano, cuja única preocupação é extrair o máximo de impostos do povo. Para quem reclamar, é censura e até prisão.

Em meio ao inferno brasileiro, apenas as numerosas iniciativas individuais de solidariedade dão algum alento. São milhares de pessoas que estão ajudando como podem, desde aquelas que estão doando recursos, até as que estão operando o resgate, colocando em risco suas vidas.

É por esse tipo de gente que vale a pena continuar a luta pela refundação do Brasil.

Leandro Ruschel.

Ler comentários e comentar