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Gleisi nunca será uma ‘presidenta’

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Gleisi Hoffman, recém eleita para presidir o PT, quer ser chamada de ‘presidenta’.

Ela não entendeu que ‘presidenta’ não é um cargo, mas um título honorífico, uma espécie de epíteto.

"Presidenta Dilma" ou "Dilma, a presidenta" equivale, mal comparando, a "Átila, o flagelo dos deuses", "Rui Barbosa, o águia de Haia", "Ricardo, coração de leão" ou "D. Maria, a Louca" (neste caso, e só neste caso, um epíteto compartilhado com o Roberto Requião).

Não há nem haverá outro águia em Haia, outro coração leonino, outro flagelo divino. Nem outra presidenta.

Gleisi pode também ser corrupta, também ter feito mil plásticas, também ser intratável e arrogante, pode até achar que também preside alguma coisa - mas nada disso a torna uma presidenta.

Falta-lhe aquilo que os portugueses chamam, naquela língua estranha que eles falam, de "parvoíce". É aquele ar apalermado, entre a estupidez completa e a leseira consumada.

Gleisi tem cara de esperta, de safa, de cínica. O que ela diz, ainda que sem qualquer contato com a realidade, possui uma estrutura, a oração subordinada que pertence ao mesmo universo da oração principal, o cós tem a ver com as calças. Ela diz lé com cré - mesmo que nem lé nem cré correspondam à verdade, e ambos escondam segundas intenções inconfessáveis.

Uma "presidenta", digna desse nome, tem que estocar vento, ver cachorro oculto, saudar mandioca. Dar murro em mesa, acreditar que manda. Viver no seu mundinho de faz de conta, achando que sabe fazer contas, que entende de economia, que teve alguma relevância no passado, que irá além de uma nota de rodapé no futuro.

Gleisi pode ser petulanta. Insolenta. Prepotenta. Esnoba. Pedanta.

Mas presidenta é igual mãe: só tem uma.

Eduardo Affonso

Foto de Eduardo Affonso

Eduardo Affonso

É arquiteto no Rio de Janeiro.

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