“Quando vemos um gigante, temos primeiro de examinar a posição do sol e observar para termos certeza de que não é a sombra de um pigmeu”. (Novalis - escritor alemão).
Atenção, habitantes da Terra dos Papagaios, um gigante vem aí! Esse ser sobrenatural e existente por si só, causa necessária e fim último de tudo que existe, cheio de forças onipotentes e grandes poderes ao qual todos os homens devem render culto e os espíritos incultos devem fugir como a escuridão foge da luz. Essa divindade superior a qualquer homem vivo ou morto que com seu poder exerce ascendência sobre todos e muda os destinos do universo, em entrevista ao Valor Econômico, afirmou:
- “O legado institucional que eu queria deixar é a ‘total recivilização’ do país. E, para isso, eu dependo do fim desses pontos de tensão, como os julgamentos sobre o 8 de janeiro”.
São palavras de Barroso, o sobrenatural. Barroso o Supremo. Barroso, o Presidente do Supremo Tribunal Federal que usou as palavras ‘total recivilização do país’ ao falar sobre o que espera deixar como legado de sua gestão.
Pobres viventes botocudos da Terra dos Papagaios. Pobre gente inculta. O chefe de todos os homens, dono de decisões e senhor de todas as terras, com seu poder e carisma insofismável mudará a história social e política da terrinha brasileira.
Renovará as estruturas capengas que sustentam a nação e assegurará a permanência do progresso civilizatório.
Os governantes, eleitos pelo povo, serão desmoralizados e o prestígio dos eleitos de plantão se transformará em fumaça. O poderoso Barroso invadirá todos os domínios: a competência da polícia, a modernização econômica, uma nova democratização, regras para a imprensa, o rádio, a internet, o crédito, as estradas, o processo eleitoral, o seu modo de falar, de se comportar, de vestir...
Sim, esse deus poderoso recivilizará o país, imporá decisões, julgará causas e aplicará corretivos. Será árbitro e oficializará seu poder com atos espetaculares para que sua fama ultrapasse as fronteiras da terrinha brasil.
Esse processo “recivilizatório” certamente provocará uma rachadura social, econômica e política. Mas o deus saberá domá-la.
E para manipular todos os núcleos urbanos de opinião, talvez encomende folhetos populares que lhe exaltem a glória; utilize blogs; as televisões e os jornais amigos e se nada disso der resultado a força coercitiva entrará em ação.
Ele modernizará os hábitos e os costumes e como um novo Lenin demolirá a velha ordem. A nova ordem será substituída por outra, mais sutil, saída da mente do iluminado.
A frase do Ministro revela todo seu desprezo pelo povo inculto da Terra dos Papagaios. Não, não temos o conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos de países ricos e civilizados adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração. Somos um povo sem educação. É a conclusão que nos leva a palavra do ministro instalado pelos senadores como supremo com todas as mordomias possíveis.
E os culpados? Ele não fala dos gestores culpados? Dos homens que ganham milhões, estão na parte de cima da pirâmide, assim como ele?
Seres inferiores é o que somos. Não temos entendimento. Não temos compreensão intelectual. Não temos capacidade de refletir plenamente a respeito da realidade. O Ministro com sua sabedoria, instantaneamente, nos ajudará a superar as etapas inferiores e chegaremos as etapas adiantadas onde seremos superiores, capazes de apreender as contradições.
Essas contradições que estão em frente aos nossos olhos e não conseguimos ver: o ministro se alimenta de lagostas e bebe vinhos caríssimos; veste-se com ternos finos encomendados; viaja pelos países ricos dando palestras; não tem preocupação com segurança; não tem muito o que fazer pois é assessorado por dezenas de advogados e juízes que produzem textos para que assine.
E o salário? O Iluminado e seus 10 colegas tem um orçamento de quase 1 bilhão para gastar todos os anos. Sim, amigos, mil milhões, que correspondem a 1 bilhão!
Qualquer vivente da Terra dos Papagaios, desde que lhe fosse dada todas essas mordomias, pensaria em recivilizar o país!
Mas não é isso que o deus-ministro está dizendo. O que ele nos apresenta é o chicote. É a ideia de sujeição, subordinação às leis que ele e seus 10 consortes imaginam. Docilidade, obediência. Ser civilizado, aqui significa perder a liberdade, ser humilde, servil, não protestar.
Um pretenso deus em forma de ministro desceu do céu e não pedimos.
Um pretenso deus quer nos recivilizar e nunca demos a ele nossa autorização.
Eis o que disse sobre esse assunto Jocelaine Santos em um texto intitulado: “A ‘civilidade’ de escravos imposta pelos senhores do Brasil”:
- “Mas, mesmo com esse abismo entre nós e eles, os poderosos supremos se outorgaram a missão de nos civilizar. Querem, como dizem a quem perguntar, colocar o Brasil no ‘caminho certo’, nos iluminar com suas luzes supremas, civilizar o bárbaro povo brasileiro. No entendimento dos seres supremos, por sermos incivilizados, primitivos, não podemos escolher nosso próprio caminho.
Somos brutos, indelicados, não usamos luvas de pelica ao tratar dos seres supremos que mandam e desmandam no país. Insistimos em criticar decisões que calcam aos pés o que está escrito nas leis e na própria Constituição Nacional; não rasgamos elogios às falas empoladas que usam a defesa da democracia como justificativa para perseguições e injustiças.
Ainda insistimos em defender a liberdade de pensamento e de expressão como condição necessária para a democracia. E também queremos o direito de votar e eleger quem quisermos, mesmo aqueles que os seres supremos consideram inadequados.
Esse tipo de comportamento é inaceitável. Onde já se viu achar que os seres supremos não são tão supremos assim e que podem ser criticados como qualquer reles mortal? Ou que não cabe a eles mandar e desmandar no Brasil?
Segundo a lógica dos poderosos, a civilidade é acatar com submissão tudo o que eles dizem e decidem; aceitar todas as limitações impostas à nossa liberdade; ficar cada vez mais calados, temerosos de expor valores e crenças. Calados, submissos, obedientes: escravos perfeitos”. (O Antagonista - 01/10/2024).
Mas será que Barroso, o civilizador da Terra dos Papagaios desceu mesmo do céu?
Não, senhores, Barrosinho era advogado e defendeu Césare Battisti, o terrorista italiano condenado à prisão perpetua na Itália por assassinar 4 pessoas, de onde fugiu e veio morar no Brasil e aqui Barroso e Lula o defendiam e juravam que o terrorista era inocente.
O próprio terrorista, depois, confessou os crimes, desmascarando os dois. O prêmio pela defesa e manutenção do terrorista no Brasil foi o cargo no Supremo, assim como outros 10 habitantes -candidatos da Terra dos Papagaios que tinham proximidade com o poder, pelos 81 senadores.
Nenhum deles deveria ocupar esses cargos. Simplesmente porque não possuem os requisitos necessários para ocupá-los.
Assim diz a Constituição:
“Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada”.
O Presidente escolhe e o Senado aprova ou desaprova e retira e pune os Ministros, caso não cumpram os seus deveres.
Então o Senado é todo-poderoso. Os 81 senadores devem se debruçar com "destemor na investigação da vida pregressa do indicado, de forma a aferir se o seu comportamento pretérito compromete o seu desempenho íntegro, incorruptível, sem mancha, no exercício futuro de suas funções".
Feita essa investigação na vida pregressa do candidato indicado ao Supremo, os Senadores devem se perguntar se vale a pena entregar um cargo tão importante nas mãos desse candidato.
O que é reputação ilibada?
"Considera-se detentor de reputação ilibada o candidato que desfruta, no âmbito da sociedade, de reconhecida idoneidade moral, que é a qualidade da pessoa íntegra, sem mancha, incorrupta".
Mas nada disso acontece. O que ocorre é o que os Senadores chamam de beija-mão, isto é o candidato a Ministro vai ao gabinete de cada Senador pedir que vote nele. Falar de sí mesmo, de sua capacidade, de suas relações com o poder, quem o indicou e de coisas indizíveis aqui, já que o encontro é dentro do gabinete de cada Senador.
Vejam a imoralidade do processo. Você vai ser sabatinado, mas procura os sabatinadores e faz “campanha” nos corredores do senado federal pedindo que eles aprovem sua efetivação como ministro ao invés de estar se preparando com estudos? É o fim da picada!
E as relações com o Poder? Zanin era Ministro pessoal de Lula. Toffoli advogado do PT. Dino, ministro de Lula. Moraes, ministro de Temer, enfim, todos os 11 supremos que foram aprovados pelos Senadores, sem exceção, de esquerda, direita ou “terrivelmente evangélicos”, tinham afinidades com o Presidente de plantão.
E os senadores-sabatinadores? Perto de 40 são investigados, respondem ou possuem processos que estão no STF.
Falemos do “notável Saber jurídico”:
"Ter notável saber jurídico é um dos requisitos para ser efetivado como ministro do STF. Podemos entender que: ‘notável saber jurídico’, insculpido na Carta Magna, como aquele louvável, insigne, ilustre, alcançado através de esforço intelectual e natural capacidade extraordinária do postulante, relativamente a um aprofundado conhecimento no ramo das Ciências Jurídicas, o que significa não somente formação superior em Direito nem apenas o conhecimento ordinário sobre a Ciência do Direito. É mais que isso. É o saber extraordinário do jurisconsulto, passível de observação em sua pretérita atividade doutrinária, acadêmica e profissional”. (Gustavo Costa - jusbrasil.com.br/artigos).
Nada de bom para a nação podemos esperar desses senhores. No final de tudo isso fica a constatação: os Senadores são os únicos culpados!
Os 81 Senadores têm o poder de retirá-los e puni-los.
Os atuais Ministros Supremos possuem dezenas de pedidos de impeachment no Senado, segundo o Site Poder360: Moraes, 24; Barroso, aquele que vai civilizar o Brasil, 17; Gilmar Mendes, 6; Cármem Lúcia, 4; Toffoli, 3; Fachim, 2; Fux, 2; Dino, 1; Nunes Marques, 1.
“O STF é hoje ocupado por uma gente que jamais saiu de um exame de consciência sabendo-se falho. Por homens e uma mulher que nunca tiveram um ataque de riso diante do ridículo que encontram no espelho. Por juízes para os quais a sabedoria é proporcional às comendas e diplomas nas paredes dos gabinetes. Por letrados ignorantes que jamais refletiram sobre a vida de Ivan Ilitch. Por cidadãos de ambição estreita e horizonte moral limitadíssimo, que em tempo algum almejaram outra coisa que não o carguinho prestigiado e as regalias a ele atreladas.
Não há solução para um STF carcomido pelo orgulho e que anda por aí vestido com os andrajos de uma afetação fétida. Não há solução para um STF ocupado por indivíduos cujos egos incontidos se sobrepõem à instituição. Não há solução para um STF comprometido com o que lhes convém hoje e, portanto, sem nenhum compromisso com um futuro. No qual, aliás, eles nem acreditam”. (Gazeta do Povo – ‘Não há solução para esse STF que temos aí’ -Paulo Polzonoff Jr.).
Volte seu olhar para os 81 Senadores e você verá que eles pariram 11 Supremos parecidíssimos com eles. Há exceções entre os atuais Senadores, mas é uma minoria. Os Supremos são rebentos dos Senadores que foram eleitos pelo povo e tem poder constitucional para puni-los pelos desmandos que estão cometendo. Mas eles não tem coragem.
Eles chegaram ao topo. Elevaram homens comuns ao status de Supremos, mesmos sabendo que eles eram desprovidos não apenas de seriedade intelectual, mas também de bom senso básico e de tudo aquilo que a Constituição admite para exercer o cargo de Ministro do STF.
Se forem esses os homens que a Terra dos Papagaios, desde 1500 até 2024, conseguiu produzir como o melhor da intelectualidade brasileira, homens que assumem os cargos mais importantes da nação e acreditam que os cargos lhes deram superpoderes, então passam a se imaginar gigantes quando são apenas pigmeus, se é esse nosso melhor, nesse caso é preferível fechar as portas da nação e jogar a chave fora.
Bom final de semana a todos.
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)