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Escola pública e professor feliz

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Há tempos fiz uma série de considerações sobre a escola pública nos seus mais diversos segmentos e processos de modernização. Tratei especialmente da intensa distribuição de computadores nas escolas, sempre festejada pelos respectivos governadores, claro, com o dinheiro público. Até parece que, pela propaganda oficial, essas engenhocas eletrônicas resolvem todos os males da educação e melhoram a qualidade das escolas públicas. Ter computadores é uma forma de demonstrar o compromisso dos políticos com o desenvolvimento intelectual de crianças e jovens, mas pode ter apenas objetivo eleitoral. Entretanto, computador é uma ferramenta, fruto do espetacular desenvolvimento tecnológico do nosso tempo, mas não substitui a presença, a orientação crítica e a criatividade dos mestres. Além disso, é um atrativo para os ladrões que atacam as escolas e roubam até os estoques da merenda das crianças.

Não se questiona a importância dos computadores nas escolas, porém não como objetivo/fim da educação, mas como um instrumento poderoso e auxiliar do processo ensino-aprendizagem. Assim mesmo deve ser utilizado com critério e cuidado, pois vejo com preocupação a tal pesquisa feita na Internet pelos alunos. Os trabalhos realizados com a utilização do computador constituem-se, quase sempre, de compilação mecânica, não despertando no aluno a necessária reflexão e o espírito crítico para que ele cresça e desenvolva uma consciência de cidadania. Aliás, as informações contidas na telinha do computador nem sempre são confiáveis (não se sabe quem as inseriu e o porquê). E, ao final, o aluno que antes copiava os textos a mão, e certamente absorvia parte de seu conteúdo, agora apenas clica um ou dois botões para que o computador copie, cole e imprima diretamente o trabalho. Este usuário da Internet nem precisa ler o texto por inteiro, muito menos prestar atenção ao que vem pela rede mundial.

De forma aparente, a minha posição pode parecer politicamente incorreta, mas não é. Defendo que a viga mestra da educação está na melhoria da qualidade e nas condições de trabalho dos professores. E essas melhorias indicam que as tecnologias e as ferramentas mais avançadas e inovadoras devem ser acessíveis aos professores e alunos conjuntamente. Mas o mais importante, a meu ver, é a formação sólida e competente dos docentes que em sala de aula devem orientar os alunos com eficiência e foco na formação de valores paralelamente à aquisição de conhecimentos. Esse é, com certeza, o caminho certo para uma verdadeira revolução na qualidade da educação brasileira.

Agora, fico feliz por sentir que não estou sozinho nesta cruzada. Li há tempos uma notícia de um jornal de circulação nacional que relata uma experiência relevante e prática em algumas escolas públicas da capital paulista.

Tudo começou quando a ONG ABC de empresários paulistas resolveu investir em um programa de melhorias na qualidade de algumas escolas públicas. Foram gastos milhares de reais na compra de computadores, reforma de salas de aula, embelezamento dos espaços coletivos como pátios e jardins e também melhorias das quadras de esportes. O que é mais gratificante neste programa é o fato do dinheiro gasto por esses empresários não ter retornado sob a forma de benefícios para suas empresas, como por exemplo, isenções de impostos, ou mesmo, resultando em corrupção deslavada e nojenta. Que bom seria se esta atitude cidadã fosse também copiada pelos empresários sul-mato-grossenses.

No entanto, toda expectativa dos empresários promotores desse programa não resultou em melhorias das notas dos alunos, como índices imediatos da competência escolar. O que então deu errado? Para encontrar respostas ao baixo desempenho de crianças e jovens nas escolas públicas que foram adotadas, reformadas e modernizadas, esses empresários não desanimaram e repensaram o projeto inicial, na busca de outros e novos caminhos.

A resposta, todavia, estava bem dentro da sala de aula: o foco no professor e não em prédios, paisagismos e máquinas. Assim, o programa tomou novo e salutar rumo, tendo como enfoque a capacitação do professor. E o resultado não se fez esperar, como melhorias rápidas e inequívocas do rendimento escolar dos alunos.

Isso mesmo. Ao lado de investimentos na infraestrutura das escolas para aparelhá-las com equipamentos e tecnologias de alto desempenho, a ONG passou a priorizar a qualidade do trabalho dos professores com ênfase nos aspectos pedagógicos. Um dos resultados mais gratificantes foi a autoestima elevada dos docentes e das respostas positivas e afirmativas para alunos e escolas como um todo.

Esse é o caminho. Professor competente é mais feliz com o seu trabalho e aluno motivado a estudar cresce a olhos vistos, respondendo na avaliação com boas notas. E, é importante lembrar que muitas escolas públicas têm computadores, mas não tem uma biblioteca decente. Creio ser este o melhor caminho nunca antes visto neste país da tal “pátria educadora”.

Em tempo: esse professor qualificado e eficiente deve receber salário condizente com sua competência, suficiente para ter uma vida digna e investir em sua permanente e necessária atualização. 

Valmir Batista Corrêa

            https://www.facebook.com/jornaldacidadeonline

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Foto de Valmir Batista Corrêa

Valmir Batista Corrêa

É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.

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