Quando o Lazer Vira Obrigação: A Ditadura do Entretenimento

27/05/2025 às 12:19 Ler na área do assinante

O prazer programado e a agenda do descanso

Na era das plataformas digitais, descansar virou mais uma tarefa na longa lista de obrigações cotidianas. O que antes era espontâneo e prazeroso agora precisa ser “produtivo”. Maratonar séries, atualizar-se com os lançamentos, manter playlists em dia e acompanhar os memes da semana passaram a ser quase exigências sociais. O tempo livre, antes sinônimo de liberdade, transformou-se em uma corrida contra a obsolescência cultural.

Maratonas que esgotam, não relaxam

O conceito de maratonar, associado inicialmente a um prazer pessoal de consumir conteúdos em sequência, foi incorporado pela lógica da performance. Dormir tarde para terminar a temporada do momento virou símbolo de pertencimento. Quem não acompanha o ritmo sente-se excluído das rodas de conversa, tanto online quanto offline. O problema é que esse comportamento, repetido em excesso, contribui para um cansaço mental semelhante ao burnout tradicional. O lazer virou mais uma fonte de esgotamento.

A hiperoferta como armadilha

Nunca se produziu tanto conteúdo quanto agora. Plataformas de streaming, redes sociais, podcasts, newsletters, vídeos curtos, vídeos longos — todos competem pela nossa atenção. A promessa é de escolha infinita, mas o resultado prático é a paralisia. Diante de tantas opções, o usuário sente-se culpado por não conseguir consumir tudo. A frustração causada por essa ilusão de liberdade é uma das principais causas do cansaço digital contemporâneo.

Leia também: Entre Maratonas e Burnout: O Cansaço do Lazer Sem Fim

Cultura do desempenho até no descanso

A lógica do desempenho invadiu todas as esferas da vida. Até os hobbies, como leitura, filmes ou jogos, são avaliados sob critérios de produtividade. Listas de metas literárias, rankings de episódios vistos, número de horas dedicadas ao lazer... O relaxamento cedeu espaço à performance. Apps que contabilizam tempo de tela, progresso de leitura ou horas de sono reforçam a ideia de que é preciso ser eficiente até para descansar.

O medo de desconectar e perder

A sensação de que estamos constantemente perdendo algo — o chamado FOMO (fear of missing out) — é um dos motores dessa engrenagem. Desconectar-se parece sinônimo de estar por fora, de não pertencer. O resultado é uma vigilância constante das atualizações, notificações e trends. Até mesmo momentos de ócio são preenchidos com estímulos contínuos, numa tentativa desesperada de aproveitar “bem” o tempo livre.

Entre algoritmos e ansiedade

As plataformas digitais, guiadas por algoritmos, personalizam o conteúdo entregue a cada usuário, aumentando a sensação de relevância e urgência. O que parece espontâneo, na verdade, é cuidadosamente calibrado para manter o usuário engajado. Em vez de descanso, o que se tem é hiperestimulação. Jogos que prometem distração rápida, como Gates Of Olympus, surgem como válvula de escape, mas frequentemente alimentam o ciclo de atenção fragmentada.

O paradoxo do descanso cronometrado

Mesmo práticas que visam à saúde mental, como meditação guiada, yoga em vídeo ou caminhadas com podcast, acabam sendo absorvidas por essa lógica de controle. O tempo de descanso passa a ser monitorado, cronometrado, e inserido em agendas digitais. A espontaneidade do lazer se esvai em meio a planilhas e apps. Relaxar virou parte de um sistema de metas.

É possível recuperar o ócio?

Resgatar o verdadeiro sentido do lazer exige romper com a ideia de produtividade constante. Significa permitir-se não fazer nada — e aceitar isso como saudável. O ócio criativo, conceito popularizado por Domenico De Masi, propõe justamente essa desconexão com os imperativos do fazer. Mais do que parar de trabalhar, é necessário parar de se exigir até no tempo de descanso. Somente assim o lazer pode voltar a ser fonte de prazer genuíno, e não mais uma extensão do cansaço cotidiano.

da Redação
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