Na guerra entre Irã e Israel é preciso entender o contexto histórico antes de “escolher um lado”

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Antes de "escolher um lado" da guerra e transformar a dor de milhares de pessoas num Fla-Flu de final de campeonato, convém tomar uma dose de contexto histórico.

Bem resumidinho:

Imagine uma extensão de terra onde Israel é uma figura mediana no canto esquerdo da tela e Irã uma figura maior no lado direito da tela, mas no meio estão duas figuras menores do que Israel chamadas Síria e Jordânia e outra figura mediana chamada Iraque, colada no Irã. Logo acima desta faixa de países está uma figura mediana chamada Turquia e abaixo uma grande figura chamada Arabia Saudita. Se localizou? Agora vamos aos motivos da briga histórica, não ao motivo atual:

Até 1970 Irã e Israel eram parceiros. O governo iraniano daquele momento entendia que era vantajoso manter boa relação com Israel, porque ele tinha EUA como aliado de peso, então, no ponto de vista econômico e geopolítico era melhor ser amigo dos amigos dos EUA. Eram dois países autoritários que andavam na mesma direção, superando qualquer diferença religiosa ou de costumes.

Tudo mudou em 1979 durante a REVOLUÇÃO ISLÂMICA quando o Irã começou a ser comandado pelo aiatolá Khomeini e seu grupo de esquerda radical que é contra o imperialismo. Irã virou um país teocrático (onde a soberania é dada a um Deus e seus representantes na terra) para entender melhor pense como é o Vaticano, onde o Papa é escolhido pelos homens como um representante do Deus católico. É a mesma coisa nos países islâmicos, mas troque Deus por Maomé, Alá, etc...

Sendo contra o imperialismo e os "deuses" do mundo ocidental, Irã se posicionou estrategicamente contra a ocupação de territórios e com isso ganhou mais prestígio entre os Árabes. Embora Irã não seja um país árabe como muitos dizem, ele só tem 2% de população árabe, eles falam uma língua persa e no quesito religião eles fazem parte de uma corrente minoritária do islamismo, os muçulmanos xiitas (16%) enquanto os países ao seu redor são muçulmanos sunitas (80%), mas a jogada foi perfeita para conquistar a simpatia dos Árabes e ganhar espaço naquela região.

E para resumir ainda mais, entenda: os sunitas e xiitas seguem o Alcorão e a Sunnah do Profeta Maomé (que são ensinamentos que não estão no Alcorão e fala sobre costumes e práticas) e aqui estão as duas principais diferenças entre os 2 grupos:

Os Sunitas seguem a Sunnah que foi passada pelos "apóstolos ou sacerdotes" e  também defendem que a sucessão do califado de Maomé pode ser dada a um muçulmano escolhido pelos líderes.

Já os xiitas seguem a Sunnah que foi passada pela família do profeta e acreditam que a sucessão só poderia acontecer com um membro da família de Maomé.

Agora preste atenção nisso:

Todos os países ao redor de Israel são muçulmanos e nenhum deles entrega um pedaço de terra sequer para fazer o estado da Palestina, pelo contrário, eles querem um pedaço de Israel que já é pequeno territorialmente. Israel que é acostumado a lutar para não ser engolido pelos gigantes unidos pela religião ao seu redor, fez do país um mestre em tecnologia de sobrevivência e guerra.

Para você ter uma ideia, EUA constrói um Caça super moderno, envia para Israel e em poucos meses os israelenses transformam o avião numa máquina de guerra ainda mais potente. Enfim, culturalmente todos os países daquela região têm por regra atacar para sobreviver e Israel é o alvo de todos por conta da religião e por ser aliado dos imperialistas, mas com certeza, se não fosse um aliado dos EUA já teria sumido do mapa.

TODOS são bélicos. TODOS são de guerra e têm governos de mãos rigorosas, acostumados a enfrentar conflitos e a população que sofre com os bombardeios também alimenta a corrente de ódio por conta da religião e de pedaços de terra.

Não dá para reduzir o conflito daquela região à comparação entre direita X esquerda no Brasil. São outros princípios, outras bandeiras.

Quem se baseia apenas no nosso cenário nacional erra feio e por isso há militantes de esquerda defendendo grupos que os matariam apenas por serem gays, feministas, ateus ou de outra religião. E também temos grupos de direita cristã defendendo cegamente grupos que renegam a Cristo.

Lá o caldeirão tem outros elementos que muitos por aqui não entendem.

Este foi o resumo histórico da região, vamos aos fatos atuais...

Em 1989 assumiu o novo líder Ali Khamenei que além de dar continuidade ao governo teocrático que considera pessoas de outras religiões como inimigas, também começou a apoiar "grupos de resistência" como Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza.

Estes grupos são a esquerda radical da região, com pitadas de radicalismo religioso e nada progressistas (como pensam os militantes da esquerda).

A partir de 1990 começaram as trocas de ataques bélicos, mas nenhum com a magnitude do ataque de abril de 2024 onde Israel bombardeou o consulado iraniano na Síria e a justificativa de Israel é que Irã não está cumprindo o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), (que é um acordo internacional que impede que os países iniciem projetos de criação de bombas Nucleares e controla os países que já têm essas bombas construídas).

Agora Israel bombardeou Irã e matou ninguém mais, ninguém menos que o chefe das Forças Armadas iranianas e isso deixou o mundo em alerta porque o estopim da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, portanto, a história pode se repetir por conta das retaliações infindáveis.

Israel está em alerta total e Irã declarou que não vai parar.

A dúvida agora é se EUA entra na briga e se isso trará China e Rússia para o conflito também.

O que se sabe é que, inicialmente, Trump declarou que o ataque foi uma decisão unilateral de Israel, sem seu conhecimento, mas há poucas horas respondeu assim:

"Se formos atacados de qualquer maneira, formato ou forma pelo Irã, toda a força e poder das Forças Armadas dos EUA recairão sobre vocês em níveis nunca vistos antes. No entanto, podemos facilmente fechar um acordo entre Irã e Israel e pôr fim a este conflito sangrento".

Lembrando que Trump já tinha dado ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, 60 dias para negociar um acordo nuclear, alertando que haveria consequências caso não chegassem a este acordo e também convenceu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a adiar o ataque ao Irã, para dar espaço para as negociações. Mas depois que Israel começou a atacar o Irã na sexta-feira, Trump disse à CNN:

"Não sei se vocês sabem, mas eu os avisei com 60 dias de antecedência e hoje é o 61º dia."
Foto de Raquel Brugnera

Raquel Brugnera

Pós Graduando em Comunicação Eleitoral, Estratégia e Marketing Político - Universidade Estácio de Sá - RJ.