

“Quando o saque torna-se um modo de vida para um grupo de homens, eles criam para si próprios, no decorrer do tempo, um sistema jurídico que o autoriza e um código moral que o glorifica”. (Frédéric Bastiat – Teórico liberal clássico francês).
O significado de censura, segundo as ideias contidas na Constituição Federal e nos textos de Victor Carvalho: “Censura: o que diz a lei brasileira”? E André Marsiglia, “O que é a censura: para iniciantes e iniciados”, é este:
- “A censura é a limitação ou proibição do direito de liberdade de expressão da população. O uso da censura faz parte de uma estratégia de regimes autoritários para sustentar o status quo e amedrontar a população, forçando-a a manter-se calada. A censura também foi um expediente utilizado nas ditaduras totalitárias nazismo, fascismo e stalinismo”.
Atualmente está sendo utilizada no Brasil pelos Ministros do STF.
Então, acerte o passo!
Você agora terá que marchar no “passo de ganso”. Agora estamos todos alienados, somos “soviéticos”, “nazistas” e “fascistas” da América do Sul. Devemos andar ou marchar de modo especial. Tudo é cerimonioso. Respeitoso. Os 11 irmãos que nos governam estão nos observando com sua polícias secretas, com seus mil olhos, com suas definições estapafúrdias, que para eles são divinas. Acerte o passo. Devemos balançar as pernas de forma ajustada, lentamente, em qualquer terreno e devemos ter o cuidado de mantê-las esticadas.
Além de acertar o passo, devemos ter pensamento único, os 213 milhões, repetidamente, devem obedecer a nova Constituição dos 11 tiranos que governam a Terra dos Papagaios. Sua vontade será a nossa vontade.
Eis o que disse, neste 26 de junho de 2025, a tiranete de plantão chamada Carmem Lúcia, defendendo a ampliação da responsabilização das big techs por publicações de usuários mesmo sem ordem judicial:
- “A grande dificuldade está aí: censura é proibida constitucionalmente, eticamente, moralmente, e eu diria até espiritualmente. Mas também não se pode permitir que estejamos numa “ágora” em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos. E soberano aqui é o direito brasileiro. É preciso cumprir as regras para que a gente consiga uma convivência que, se não for em paz, tenha pelo menos um pingo de sossego. É isso que estamos buscando aqui: esse equilíbrio dificílimo”.
A “ágora” era a praça pública dos gregos. Um espaço livre onde os cidadãos costumavam ir. As Enciclopédias nos dizem que a “ágora” manifesta-se como a expressão máxima da esfera pública na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência, da cultura e política da vida social dos gregos. Nela ocorriam as discussões políticas e os tribunais populares: é, portanto, o espaço da cidadania. Por esse motivo era considerada um símbolo da democracia direta, e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto.
Para a Ministra Carmem Lúcia, a “ágora” brasileira é composta de 213 milhões de “pequenos tiranos soberanos”. É um espaço democrático, mas não é democrático. É livre, mas não é livre.
Todos esses pequenos tiranos devem se submeter à vontade do STF. É uma espécie de ficção cientifica: você não é mais um indivíduo, é uma formiga, é um a mais numa colmeia de abelhas; se não obedecer sua vida é devassada. Os comportamentos são filmados. Qualquer gesto é antecipado como uma ameaça à democracia e aos ministros.
Todos na “ágora” da Terra dos Papagaios devem tomar cuidado com as falas, refreá-las. Você está sendo vigiado, portanto deverá dizer o que os 11 tiranos do STF querem que você diga.
Você não pode pensar diferente ou do modo que pensa atualmente, deverá reaprender a pensar, os 11 tiranos sabem o que você está pensando e se você divagar cometerá um “crime de pensamento”.
Acerte o passo. Mas, veja o que pensam os “213 milhões de tiranos soberanos”, segundo a manchete do site Poder360:
- “Maioria no Brasil tem vergonha do STF, do Congresso e de Lula”.
Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (28.jun.2025) mostra que a maioria dos brasileiros afirma sentir vergonha de senadores, de deputados federais, do Supremo Tribunal Federal e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
E os 11 tiranos do STF acreditam serem amados, sábios que desceram a Terra dos Papagaios, deuses intocáveis, mas o que provocam é vergonha, asco, nojo.
Abraçado a eles nesta vergonha está o semi-analfabeto que foi condenado a 12 anos de cadeia e depois descondenado pelos 11 ministros e hoje ostenta o título de presidente do Brasil.
Junto com os dois estão os deputados e senadores.
Os “pequenos tiranos soberanos”, em sua maioria, sentem vergonha porque deputados e senadores não punem os 11 ministros tiranos.
Eis os pedidos de impeachments, segundo a CNN, dos ministros-deuses: Alexandre de Moraes, 28 pedidos; o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso (16), Gilmar Mendes (5), Dias Toffoli (3), Cármen Lúcia (3), Edson Fachin (2) e Luiz Fux (1), Flávio Dino (1). Algumas representações miram mais de um ministro.
Que nação no mundo democrático tem 28 pedidos de impeachment de um ministro do Supremo e 16 pedidos de impeachment do presidente do Supremo?
Nenhuma. Somente na Terra dos Papagaios isso é possível.
E nenhuma autoridade age. E os ministros ainda cantam de galo.
São sábios. São divinos. São intocáveis. Barroso afirmou em 30/09/2024, ao site Valor Econômico, quando completou um ano como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) (seu mandato termina em setembro de 2025), que espera deixar como legado uma “total recivilização” do país.
Barroso foi advogado de Cesare Battisti, o assassino italiano que fugiu para o Brasil e aqui ficou acobertado por Lula. Barroso jurava de pés junto que o assassino era inocente. 14 anos passou livre aqui. No governo Bolsonaro fugiu para a Bolívia onde foi preso e deportado para Itália. Lá confessou os 4 assassinatos e cumpre prisão perpétua. Como prêmio Barroso tornou-se ministro do supremo indicado por Dilma.
Nenhum dos atuais advogados que se tornaram ministros preenchem os requisitos exigidos pela Constituição Federal:
- “Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de setenta anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 122, de 2022)”.
Nenhum deles possui “notável saber jurídico”. Todos foram indicados pelo presidente de plantão. A maioria era filiada a partidos políticos. Todos alçaram os cargos de Ministro apadrinhados por alguém. E vem o advogado Barroso e afirma que vai “recivilizar a nação”.
É muita audácia.
Todos deveriam ser afastados e julgados por seus crimes. Se possuem pedidos de impeachment é porque supostamente cometeram crimes, não desvios, como afirma a imprensa amiga.
Eles julgam quem eles querem e por que não são julgados?
Se são inocentes, afastem-se e aceitem o julgamento. Não querem afastar-se? Que os senadores e deputados cumpram seus deveres. Mas todos devem ser julgados da mesma forma como eles estão impondo julgamento aos brasileiros.
Se forem considerados culpados que sejam condenados a penas duríssimas como as que estão impondo aos brasileiros que protestaram vandalizando o Congresso.
No livro de Robert Darnton, “Censores em Ação”, ele nos informa o que faz e como age a censura:
- “A banalização da censura como um conceito contrasta com a experiência da censura entre aqueles que a sofreram. Autores, gráficos, livreiros e intermediários tiveram o nariz retalhado, orelhas cortadas e mãos amputadas; foram expostos acorrentados em troncos e marcados com ferro quente; foram condenados a remar nas galés por muitos anos; foram fuzilados, enforcados, decapitados e queimados enquanto amarrados em postes. A maioria dessas atrocidades foi infligida a pessoas envolvidas com livros durante o início do período moderno”. (“Censores em Ação” – Robert Darnton, pág. 293/294).
Acerte o passo.
Finalizo com Aparício Torelly, barão de Itararé, jornalista e humorista brasileiro, nascido em 9/01/1895, São Leopoldo (RS) e falecido em 27/11/1971, Rio de Janeiro (RJ). Disse ele em uma de suas tiradas geniais:
- “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”.
Humorista sagaz, inspirou jornalistas e artistas de todos os tipos com seu humor feroz e sem medo. Sofreu os horrores da censura, mas nunca recuou.
Em 1934, fundou o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publicou em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da Revolta da Chibata, de 1910. O barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha. Depois disso, voltou à redação do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia:
- "Entre sem bater".
Se quiser, não acerte o passo, sinta vergonha de tudo o que você leu sobre censura e se achar conveniente resista.
Um ótimo resto de semana a todos.
Carlos Sampaio
Professor. Pós-graduação em “Língua Portuguesa com Ênfase em Produção Textual”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM)