A semana onde tudo aconteceu, até Gilmar pedir humildade, uma palavra que ele desconhece

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Adoro o Brasil. Que outro país me daria essa dose cavalar de adrenalina e risadas diariamente? Esta semana, então, foi uma beleza: havia um combo de espantos e risos (amarelos) de tocaia.

Primeiro foi o Palocci com aquela carta-bomba. Parecia psicografia do Geisel. Uma mensagem fantasmagórica vinda direto do Além para dizer aos petistas: "Arrependei-vos, pecadores: são chegados os tempos!"

A carta teve efeitos colaterais: fez desaparecer uma porção de gente do Facebook. Um pessoal ativo e falante, dado a frases de efeito e lacrações. Os que não sumiram, comeram sanduíche de Superbonder.

Simultaneamente estreou novela nova: os recibos do Lula. Glaucos (no plural!) jura que não recebeu o aluguel e que assinou tudo junto quando estava internado no hospital. O homem mentiu e se desmentiu perante Moro, os recibos eram iguaizinhos até nos erros, tinham datas impossíveis e eram todos responsabilidade da Marisa. Esta - uma espécie de divindade lulista, onisciente e onipresente - usou seus poderes e nem a PF conseguiu descobrir a sacola da invisibilidade de documentos. Tive de fazer uma planilha para tentar entender o caso. Falhei.

Mal me recuperei e vi o Aécio sendo defendido pelo PT. Não é possível. Logo o Aécio, o anticristo, o grande satã da direitona selvagem, arauto do capitalismo cruel e imperador do aeroporto de Claudio? Tive de tomar um coquetel de maracugina para digerir a notícia. Certamente com medo do tilt cerebral nos filiados, o PT protocolou pedido no Conselho de Ética do Senado: quer a cassação do mineiro, encarnação de todo o mal. Vou abrir uma planilha para esse caso também. Vai ficar no desktop, ao lado das tabelas de quem foi citado-preso-delatado na Lava-Jato.

Logo depois veio aquele susto matinal que já ocorre há mais de ano: Polícia Federal nas ruas! Ah, o cheiro do napalm logo cedinho na Terra Brasilis! PF na porta de político é igual a feriadão: acontece muito mas sempre tem um encanto novo. No caso, é a ânsia de se descobrir quem foi preso na ocasião. Desta vez foram os filhos do Romero Jucá! Os pimpolhos do líder do governo no Senado andaram brincando de fazendinha com o dinheiro do Minha Casa, Minha Vida. Danadinhos.

Dois minutos depois descobri que tem ministro do STJ fazendo enquete sobre quem apoia um golpe militar... No Twitter! Para completar, o ministro se chama Og Fernandes. Og. Nome singular que parece mistura de elemento da tabela periódica com provedor de internet. Enquete sobre golpe de estado no Twitter, feita por um ministro de tribunal superior chamado Og? O Brasil vai acabar inaugurando a categoria País-LSD.

Coisinha leve mesmo foram as descobertas culturais: primeiro me dei conta que passei toda a minha vida sem saber que existiam os dias 31 de junho e 31 de novembro. Agora só quero saber se o governo vai devolver esses dias junto com a restituição do IR.

Fiquei animada ao ler que a ex-apresentadora de TV Valéria Monteiro quer ser presidente do Brasil. Sensacional: minha cartela de candidatos-unicórnio ainda não está completa. Agora vai!

Depois a PF contribuiu para a educação geral da Nação dando o nome de um mito platônico à operação que prendeu os jucazinhos. Resultado? Agora somos uma nação de doutores em Platão, mas às vezes fazemos bicos como técnicos de futebol, juristas e críticos de arte. Jeitinho brasileiro versão 2017. O único que reconheceu que nunca tinha ouvido falar no Anel de Gyges foi meu amigo Ricardo, muito ocupado em fazer cirurgias e cuidar de seu jardim. Que vergonha, Ricky: parece que você é o único brasileiro que não tem autoridade em múltiplos assuntos.

E, por fim, eu soube que Gilmar Mendes recomendou aos colegas que calçassem as sandálias da humildade. Vejam só que tontinha eu sou: nem sabia que o Gilmar conhecia a palavra humildade.

(Texto de Sonia Zaghetto)

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