
Até os investidores institucionais estão começando a migrar para as criptomoedas
23/07/2025 às 15:40 Ler na área do assinanteApesar do vaivém de preços típico do mercado cripto, o dinheiro de “terno e gravata” entrou de vez no jogo. Relatórios 13‑F protocolados em maio mostram fundos de pensão norte‑americanos dobrando posições em ETFs de Bitcoin, enquanto players soberanos do Oriente Médio aportaram mais de 430 milhões de dólares em apenas um trimestre.
Fazendo, assim, que o patrimônio desses fundos superar 130 bilhões de dólares pela primeira vez. Esse ímpeto se reflete no Brasil, já que na sessão de 23 de maio, o BITH11, ETF que replica Bitcoin, negociou R$ 34,6 milhões, enquanto seu preço acumulava alta de 103,8% em 52 semanas.
Desempenho esse que colocou o produto entre os dez mais rentáveis da B3 no primeiro semestre. O interesse institucional por Ethereum também ganhou tração. O ETHE11 registrou volume de mais de R$ 9 milhões em 16 de maio, em linha com o aumento de demanda por soluções de staking e pela atualização “Pectra”.
A onda institucional: ETFs, fundos regulados e tesourarias corporativas
Como se pode ver nas noticias Ethereum, gestoras locais já usam o ativo como hedge tecnológico para carteiras tradicionais, algo impensável há poucos anos. Mas, enquanto o mercado aperta o passo, a regulação brasileira põe ordem na casa. A Resolução 175 da CVM estabeleceu mais de dez normas.
Além disso, pela primeira vez, abriu espaço formal para que fundos multimercados alocassem até 10% em criptoativos listados em mercados regulados. Analistas veem o texto como o sinal verde que faltava para que gestoras de previdência complementar, com R$ 1,3 trilhão sob gestão, comecem a olhar de maneira sistemática para Bitcoin e Ethereum em seus mandatos de longo prazo.
Do lado corporativo, o caso mais emblemático é o da Méliuz. Em março, a fintech comprou 45,72 BTC (cerca de US$ 4,1 milhões) como primeira etapa de uma política que permite investir até 10% do caixa em Bitcoin. Em junho, levantou R$ 180 milhões em follow‑on para dobrar esse estoque, passando a deter 595,67 BTC, algo próximo de R$ 331 milhões.
A empresa tornou‑se, assim, mais uma “bitcoin treasury company” listada na América Latina, algo que já inspira debates internos em outras companhias de capital aberto. Mesmo plataformas estrangeiras percebem a nova avenida. A Coinbase planeja lançar novos produtos e cripto‑serviços.
Estão mirando justamente a base de investidores que não para de crescer e que busca exposição institucionalizada ao setor. Esse cruzamento de infraestrutura global robusta, liquidez doméstica e arcabouço legal claro sugere que o fluxo institucional brasileiro está apenas no começo.
Além do BTC: Tokenização e Drex definem a próxima fronteira
Se a primeira leva institucional chegou via Bitcoin, o segundo giro do ponteiro aponta para o Ethereum. O ETHE11, principal ETF de Ether listado na B3, já negocia em média R$ 9,38 milhões por pregão, com 2.462 negócios diários e quase 12 mil cotistas.
Esse apetite aparece porque a atualização Pectra, prevista para o terceiro trimestre, simplifica o staking e amplia em 64 fois o limite por validador, reduzindo barreiras técnicas para quem administra grandes carteiras institucionais.
O impulso regulatório continua a jogar a favor. O Banco Central inaugurou a segunda fase do piloto Drex, reunindo 16 consórcios, de Itaú a startups de nicho, para testar empréstimos garantidos por CDB tokenizado e cessão eletrônica de recebíveis.
A promessa é de liquidação atômica entre ativos digitais e reais e, segundo o cronograma oficial, aspira colocar a versão pública da moeda em circulação até 2026. Fora da arena estritamente estatal, a tokenização avança em ativos palpáveis.
No dia 6 de junho, o Blockchain Real Estate Summit ocupou o Cubo Itaú, em São Paulo, e reuniu mais de 380 executivos presenciais (e 1.000 online) para debater a digitalização do mercado imobiliário.
Entre os cases apresentados estavam imóveis fracionados em 100 mil partes e garantias de crédito lastreadas em tokens registrados em cartório, um quadro que, segundo os organizadores, deve movimentar R$ 3 bilhões em emissões ainda neste ano. Pouco depois, em 8 de maio, o Mercado Bitcoin provou que existe demanda.
Captou R$ 4 milhões em 40 minutos com um token de renda fixa lastreado em debêntures da fintech Jeitto, estruturado sob a Resolução 88 da CVM e isento de IR para pessoa física até o teto de R$ 35 mil de vendas mensais.
Tudo isso, infraestrutura pública via Drex, apetites institucionais por criptoativos e casos práticos de tokenização, cria um efeito de rede difícil de ignorar. Num país onde 82% das transações bancárias já são digitais, segundo a Febraban, o próximo ciclo tende a nascer em blockchain nativa.
Seja no tesouro de uma empresa listada, no FIDC que vira token em poucos cliques ou no contrato inteligente que liquida um imóvel comercial em segundos. Para o investidor institucional brasileiro, portanto, a agenda deixa de ser “entrar ou não”. Passa a ser como construir alocação num ecossistema que deixa o estágio de promessa e assume o de infraestrutura financeira em produção.