
Doutrina Trump divide o mundo em dois blocos... O Brasil caiu no segundo bloco
25/07/2025 às 11:41 Ler na área do assinante
O protecionismo agressivo de Trump se consolida como estratégia central da nova ordem econômica americana punindo adversários, forçando aliados a ceder e fortalecendo a indústria nacional sem colapsar a economia.
O colapso nunca veio. Quando Donald Trump iniciou sua cruzada protecionista ainda no primeiro mandato, a elite global previu desastres: recessão, inflação galopante, isolamento comercial e caos cambial. Mas o que se viu foi o oposto. A economia americana permaneceu robusta, a confiança do consumidor cresceu, o mercado de ações bateu recordes e a inflação ficou sob controle. O que os críticos chamavam de loucura protecionista passou a ser visto como estratégia clara: a Doutrina Trump um método duro, muitas vezes agressivo, mas eficaz para reposicionar os Estados Unidos no centro da economia global.
Agora aprofundada com seu retorno à Casa Branca em 2025, a doutrina evoluiu para o que ele chama de Revolução do Bom Senso ou do senso comum. Ela combina nacionalismo econômico, desregulamentação radical, cortes de impostos e um sistema tarifário calibrado para forçar concessões. Trump não busca apenas proteger a indústria americana, ele exige que parceiros comerciais paguem para continuar acessando o maior mercado consumidor do mundo. O caso do Japão é emblemático: diante da ameaça de tarifas de 30%, Tóquio aceitou um acordo “recíproco” de 15%, somado a um pacote de investimentos bilionários (US$ 550 bilhões) e uma joint venture para gás natural no Alasca. Uma reedição atualizada de um pacto já esboçado anos atrás.
A União Europeia, antes resistente, agora negocia sob os mesmos termos: tarifa única de 15% para evitar sanções punitivas. A mensagem é clara: aceitem os termos dos EUA ou arquem com as consequências. Trump age como um credor implacável numa mesa de renegociação com a vantagem de saber que os outros não podem se dar ao luxo de sair do jogo.
A eficácia da doutrina aparece nos números. Nos primeiros seis meses do novo mandato, a produção manufatureira cresceu 1,8%, revertendo a queda de 0,7% no fim do governo Biden. A geração de empregos nativos somou 671 mil postos, puxada por incentivos à indústria, energia e infraestrutura tecnológica. Data centers, fábricas de semicondutores e polos de inteligência artificial se multiplicam em estados do interior, em resposta direta à meta MAGA de reindustrialização. Paralelamente, o congelamento regulatório e a revogação de normas ambientais e trabalhistas reduziram custos operacionais, permitindo repasses em forma de salários mais altos e preços mais competitivos.
Mesmo com o impacto das tarifas sobre bens importados que aumentam em até US$ 5.200 os gastos anuais de uma família média, os cortes de impostos do One Big Beautiful Bill Act compensam parte da perda de poder de compra. A medida tornou permanentes os cortes do Tax Cuts and Jobs Act de 2017, dobrou a dedução padrão e ampliou créditos para filhos, gorjetas e adoção, gerando um aumento médio de 2,1% na renda disponível. A inflação, apesar da pressão sobre alimentos e veículos, mantém-se em 2,1% patamar considerado saudável por analistas.
Ainda assim, os críticos permanecem céticos. O primeiro trimestre de 2025 registrou a primeira contração econômica em três anos. Estimativas independentes apontam para uma possível perda de 6% no PIB a longo prazo e redução de 5% nos salários reais, com prejuízos de até US$ 22 mil por família ao longo da vida. O senador democrata Brian Schatz acusou Trump de “sabotar deliberadamente a economia” em nome de um projeto ideológico que valoriza o isolamento. As tensões comerciais e as tarifas retaliatórias de China, Índia e México reduziram o volume das exportações americanas embora, ironicamente, tenham aumentado suas margens de lucro, graças à escassez.
Para os eleitores de Trump, no entanto, a doutrina não se mede por modelos econômicos abstratos, mas por resultados concretos: empregos preservados, salários crescentes, nacionalismo fortalecido. Há um componente simbólico forte. Ao erguer tarifas, Trump não apenas protege a indústria ele envia o recado de que os EUA não aceitarão mais “acordos ruins”. É o triunfo da força sobre o consenso diplomático.
Na prática, a doutrina Trump divide o mundo em dois blocos: os que aceitam negociar e os que se tornam irrelevantes. O Brasil, infelizmente, caiu no segundo grupo. Ignorado pela Casa Branca desde o início do novo governo, o país foi atingido por tarifas de 50% sobre exportações como café e suco de laranja, válidas a partir de 1º de agosto de 2025. A justificativa? “Retaliação pelo julgamento político de Jair Bolsonaro”, segundo comunicado oficial. A diplomacia brasileira, ao apostar no BRICS como antagonista ocidental e minimizar as relações bilaterais com os EUA, acabou punida com desprezo. Não houve diálogo, nem tentativa de mediação apenas o veredicto: paguem o preço ou fiquem fora.
A frase atribuída por diplomatas americanos ao Brasil “um cãozinho que ladra, mas não morde” resume bem o desprezo estratégico da Doutrina Trump por economias periféricas. Sem escala, poder militar ou relevância geopolítica, esses países são considerados descartáveis. E enquanto potências como Japão e Alemanha negociam tarifas com margem, o Brasil recebe a fatura integral, sem parcelamento.
Em resumo, a Doutrina Trump é menos uma política econômica tradicional e mais uma estratégia geoeconômica de supremacia. Ela mistura nacionalismo, pragmatismo brutal e apelo eleitoral, em que o protecionismo deixa de ser tabu e passa a significar soberania. Para o mundo, ela é um desafio. Para os Estados Unidos, um reposicionamento. Loucura? Talvez. Mas com método, cálculo e resultados. Essa é, afinal, a lógica da revolução MAGA.
Carlos Arouck
Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.