Usuários de crack têm mais garantias do Estado do que parlamentares eleitos

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Se o ministro Alexandre de Moraes tem o poder de determinar, à força, a retirada de um deputado federal que realizava um protesto pacífico em praça pública — amparado por suas prerrogativas constitucionais e pela inviolabilidade parlamentar —, por que, então, governadores estariam impedidos de remover usuários de drogas das áreas públicas tomadas pelas Cracolândias de seus respectivos estados?

A incoerência salta aos olhos. Será que, no Brasil de hoje, pessoas em situação de dependência química passaram a ter mais garantias e proteção do Estado do que representantes eleitos democraticamente para defender os interesses da população?

A pergunta que precisa ser feita é: estamos mesmo dispostos a relativizar direitos fundamentais conforme a conveniência política? Ou estamos caminhando para uma inversão completa de valores, em que a autoridade legítima se curva à omissão e ao caos?

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Adolfo Sachsida

Doutor em Economia (UnB) e Pós-Doutor (University of Alabama) orientado pelo Prof. Walter Enders. Lecionou economia na University of Texas - Pan American e foi consultor short-term do Banco Mundial para Angola. Atualmente é pesquisador do IPEA. Publicou vários artigos nacional e internacionalmente, sendo de acordo com Faria et al. (2007) um dos pesquisadores brasileiros mais produtivos na área de economia.