Por que os executivos gostam de relaxar jogando pôquer?

01/08/2025 às 14:49 Ler na área do assinante

Quando um CFO de uma fintech do Itaim deixa o último call do dia e cruza a rua até o H2 Club São Paulo não é por acaso. Nas mesas do clube, eleito o melhor do país em levantamento do SuperPoker ao analisar mais de 6 mil avaliações de 50 casas diferentes, esse CFO encontra outros executivos que também trocaram planilhas por fichas.

A cena é cada vez mais comum. O BSOP Millions quase dobrou sua premiação em apenas três anos, saltando de R$ 46 milhões em 2022 para R$ 95 milhões em 2024, recorde absoluto do circuito latino‑americano. O dinheiro é atraente, mas o principal ativo aqui é cerebral. O poker oferece muitas variações, cada uma com suas regras

Entre as variantes que animam os bastidores corporativos, do clássico Texas Hold’em ao Omaha, chama atenção o caribbean poker, híbrido que dispensa blefes exagerados e exige cálculo de probabilidades quase cirúrgico. A mecânica de enfrentar a banca, e não múltiplos rivais, cria partidas rápidas que cabem na agenda de quem passou o dia negociando contratos.

A preferência não é casual. Um estudo apresentado ao EnANPAD por pesquisadores da UFES mostrou que a prática regular do pôquer melhora em até 18% a capacidade de escolher cenários de risco dominados por informação incompleta, justamente o tipo de dilema vivido em reuniões de conselho.

uma monografia da UFC, defendida em 2024, identificou redução de impulsividade, medida por testes de Stroop, entre jogadores habituais quando comparados a um grupo‑controle de executivos que preferiam golfe ou squash para lazer. Em bom português, quem treina no feltro aprende a esperar pela carta certa antes de abrir a carteira da empresa.

A paciência, aliás, vira vantagem competitiva fora da mesa. Reportagem do portal Baguete ouviu empreendedores gaúchos que usam sessões semanais de pôquer como simulação de gestão de caixa. Errar numa aposta custa fichas, não empregos, e ensina a calibrar risco‑retorno de projetos antes de levá‑los ao comitê.

Para o CFO, a metáfora é perfeita. Num turn ruim se perde 10 minutos, numa aquisição precipitada, a perda é de R$ 10 milhões. Mas a popularidade também se mede online. Em julho de 2025, a GGNetwork registrava 200 mil conexões simultâneos.

O acesso fácil via celular mantém executivos conectados entre um aeroporto e outro, reforçando a cultura do “grind” intelectual durante escalas. Nos feltros físicos, o Brasil já supera 50 clubes ativos, espalhados pelas principais capitais, segundo levantamento trimestral do SuperPoker citado pelo próprio BSOP, número que praticamente dobrou desde 2019.

A geografia ajuda. Viagens curtas permitem que gestores de Salvador, Curitiba ou Belo Horizonte participem de torneios “high‑roller” em São Paulo sem sacrificar a agenda de sexta‑feira. Esses eventos, a exemplo do Super HR de R$ 100 mil do BSOP Millions, atraem homens e mulheres do C‑level de varejistas e fintechs, criando um hub de networking discreto, mas valioso.

Outro fator de atração é a chancela esportiva. Desde 2010 o pôquer integra a International Mind Sports Association. Isso reduz o estigma de “jogo de azar” e encoraja áreas de compliance a aceitarem o pôquer como atividade social da empresa.

Algo que o bingo ou o cassino não conseguem oferecer no mesmo nível de reputação. A soma desses elementos, raciocínio probabilístico, treino de paciência, ambiente de networking e respaldo institucional, explica por que executivos trocam o green do golfe pelo feltro colorido das cartas.

No pôquer, você paga barato para ver as consequências de uma decisão ruim e, de quebra, ainda aprende a ler pessoas, resume Fernando Lemos, diretor de operações de uma startup de logística que passou a patrocinar pequenos torneios internos, substituindo o tradicional happy hour.

No fim da noite, um CFO empilha fichas e confere o relógio. Meia‑noite, duas horas de jogo e dezenas de microdecisões praticadas sem risco para o orçamento corporativo. Amanhã, quando a próxima rodada de investimentos começar, ele levará à mesa do board a mesma calma que usou para foldar um par de valetes na bolha.

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