
A 1ª dama de uma das mais importantes capitais do país, o seu envolvimento com corrupção e o elo com facção
17/09/2025 às 07:14 Ler na área do assinante
Um esquema escabroso envolvendo uma ‘respeitável’ primeira-dama, inúmeras autoridades e uma facção criminosa.
A Justiça Eleitoral aceitou denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE) contra Lauremília Lucena, primeira-dama de João Pessoa, e outras nove pessoas por envolvimento em esquema de corrupção eleitoral. O grupo responderá por organização criminosa, corrupção eleitoral, coação de eleitores e peculato. A decisão foi tomada nessa terça-feira (16).
A acusação resulta da Operação Território Livre, que investigou uma rede criminosa composta por agentes políticos, servidores públicos e integrantes da facção "Nova Okaida". As investigações apontaram um sistema de controle territorial em comunidades da capital paraibana, onde o direito ao voto era cerceado mediante intimidação.
Lauremília é esposa do prefeito Cícero Lucena (MDB), reeleito em 2024 com 63,9% dos votos. De acordo com as investigações, o grupo formado por agentes políticos, servidores e membros da facção Nova Okaida teria atuado com compra de votos, aliciamento violento de eleitores, intimidação de candidatos e apropriação de recursos públicos.
Segundo o MPE, a organização exercia domínio sobre bairros como São José e Alto do Mateus, impedindo a livre manifestação política dos moradores. Em troca, líderes da facção e seus familiares recebiam cargos públicos e benefícios da administração municipal, consolidando o que os promotores chamam de "ciclo de favorecimentos ilícitos".
O trabalho investigativo incluiu interceptações telefônicas, análise de mensagens eletrônicas, documentação oficial e apreensão de dinheiro em espécie. Este conjunto de provas permitiu ao MPE mapear a estrutura e o funcionamento do grupo criminoso, demonstrando o que o MP considera "a profunda infiltração da criminalidade organizada no processo democrático".
Laurem, como também é conhecida a primeira-dama, desempenhava papel central no esquema, conforme aponta o MPE. Ela coordenava nomeações para cargos públicos e atuava como principal interlocutora entre a prefeitura e a facção criminosa.
Os investigadores afirmam que Lauremília tinha conhecimento do controle territorial e dos métodos empregados pela facção. Ela garantia nomeações em troca de apoio eleitoral para seu marido, o prefeito Cícero Lucena.
Tereza Cristina, secretária da primeira-dama, também figura entre os denunciados. O MPE a descreve como intermediária no esquema, recebendo solicitações de Ra Lacerda e encaminhando-as para Lauremília. Ela acompanhava as contratações de pessoas ligadas ao grupo criminoso.
A ex-vereadora Raíssa Lacerda aparece na denúncia como uma das beneficiárias e coordenadoras do esquema. De acordo com o MPE, ela utilizava seu mandato para negociar com a facção o controle dos bairros São José e Alto do Mateus.
Keny Rougers, conhecido como Poeta, é apontado como líder da "Nova Okaida" no bairro São José. Mesmo do presídio, ele comandava operações de controle territorial e coação de eleitores.
No bairro Alto do Mateus, David Sena de Oliveira, chamado de Cabeça, exercia liderança semelhante. O MPE o acusa de negociar diretamente com Kaline Neres o apoio da facção em troca de vantagens.
Kaline Neres integra o grupo de denunciados e atuava como interlocutora no Alto do Mateus, cumprindo ordens de Ra Lacerda. Pollyana Dantas executava as determinações de Keny Rougers no bairro São José, enquanto Taciana do Nascimento funcionava como "testa de ferro" de Pollyana e Poeta.
Josevaldo Gomes da Silva completa o grupo de réus, sendo identificado como elo entre a facção criminosa e a gestão municipal. Segundo o relatório, ele utilizava seu cargo de Conselheiro Tutelar para proteger membros do grupo e obter vantagens.
A investigação do MPE identificou Taciana do Nascimento como figura importante no esquema. Ela atuava executando ordens de Keny Rougers e representando a organização criminosa no bairro São José.
Os documentos do MPE descrevem Taciana como principal interlocutora e "testa de ferro" de Pollyana e do próprio Poeta nas operações da facção. Esta conexão criava uma linha direta entre os líderes criminosos e agentes públicos durante o período eleitoral.
Josevaldo Gomes da Silva foi apontado pelos investigadores como principal elo entre a organização criminosa e a gestão municipal. Conforme o relatório do MPE, ele usava sua posição como Conselheiro Tutelar para oferecer proteção a integrantes do grupo.
A investigação também menciona Jonathan Dário da Silva como peça importante no esquema. Ele teria intermediado contatos entre Lauremília Lucena e as lideranças da facção no bairro São José, incluindo Pollyana.
O Juízo da 1ª Zona Eleitoral da capital já recebeu a denúncia, autorizando o andamento da ação penal. Em nota, o MP disse que "com o recebimento da denúncia, o Ministério Público, a Polícia Federal e todo o sistema eleitoral reafirmam seu compromisso de proteger a lisura das eleições, a liberdade do voto e a integridade das instituições democráticas".
Após o recebimento da denúncia pelo MPE, as defesas dos investigados começaram a se manifestar. Os advogados de Lauremília Lucena e Tereza Cristina declararam confiar no trabalho da Justiça e afirmaram que comprovarão a inocência de suas clientes durante o processo judicial.
A defesa de Lauremília afirmou que a primeira-dama está "confiante no trabalho da Justiça e que provará sua total inocência no decorrer do processo". O comunicado ressalta que ela "sempre pautou sua vida pela integridade, correção e compromisso com os mais necessitados, nunca tendo se envolvido em qualquer prática ilícita".
A equipe jurídica de Keny Rougers informou que recebeu a denúncia com tranquilidade. A defesa de Raíssa Lacerda também declarou receber a notícia com serenidade, negando todas as acusações apresentadas contra sua cliente.
Até o fechamento desta reportagem, a defesa de Pollyana Monteiro não havia se pronunciado sobre as acusações. As tentativas de contato com os representantes legais de Kaline Neres, Taciana Batista, David Sena, Josevaldo Gomes e Jonathan Dário não obtiveram resposta.
O processo segue em andamento na Justiça Eleitoral, com os acusados respondendo pelos crimes durante o período eleitoral de 2024."
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