

A atriz Claudia Cardinale, estrela de clássicos como "Oito e Meio" e "Era uma vez no Oeste", faleceu nesta terça-feira (23) em Paris, aos 87 anos. Seu agente, Laurent Savry, confirmou que a morte ocorreu na residência da atriz, com seus filhos presentes.
"Ela nos deixa o legado de uma mulher livre e inspirada, tanto como mulher quanto como artista", afirmou Savry sobre a atriz que participou de 175 produções cinematográficas ao longo de sua carreira.
Nascida em Túnis, na Tunísia, em 15 de abril de 1938, filha de imigrantes sicilianos, Cardinale trabalhou com diretores renomados como Federico Fellini em "Oito e meio" (1963), Luchino Visconti em "O leopardo" (1963), e Sergio Leone em "Era uma Vez no Oeste" (1968). Sua carreira inclui também "A Pantera Cor-de-rosa" (1963), de Blake Edwards, e "Fitzcarraldo" (1982), de Werner Herzog.
O rosto de Cardinale estampou cerca de 700 capas de revistas durante a década de 1960. Em 1966, sua imagem apareceu em um mosaico de fotos no álbum "Blonde on Blonde" de Bob Dylan, tornando-se item de colecionador quando foi removida na segunda edição do disco em 1968.
O escritor italiano Alberto Moravia publicou uma biografia sobre Cardinale em 1965, quando ela ainda era pouco conhecida. A obra foi traduzida para vários idiomas.
A atriz manteve vínculos com o Brasil em sua carreira. Em 1967, filmou "Uma rosa para todos", de Franco Rossi, em favelas do Rio de Janeiro, baseado na peça "Procura-se uma rosa", de Glaucio Gill. Nos anos 1980, retornou para as filmagens de "Fitzcarraldo" na Amazônia.
Em 2012, Cardinale participou da Mostra de Cinema de São Paulo para o lançamento de "O gebo e a sombra", de Manoel de Oliveira. Na ocasião, concedeu entrevista ao GLOBO.
A trajetória de Cardinale começou em circunstâncias difíceis. Na adolescência, foi vítima de estupro por um produtor de cinema, resultando em gravidez. Decidiu criar seu filho Patrick e buscar independência financeira através do cinema.
Em entrevista ao Le Monde em 2017, Cardinale explicou: "Fiz isso por ele, por Patrick, o filho que eu queria manter, apesar das circunstâncias e do enorme escândalo". Na mesma ocasião, revelou: "Eu era muito jovem, tímida, pudica, quase selvagem. E sem a menor vontade de me expor nos sets de filmagem."
A vida da atriz mudou aos 16 anos quando venceu um concurso de beleza em Túnis. Coroada como "A mulher italiana mais bonita de Túnis", ganhou uma viagem ao Festival de Cinema de Veneza, onde despertou o interesse da indústria cinematográfica.
"Todos os diretores e produtores queriam que eu fizesse filmes, e eu disse: 'Não, eu não quero!'", disse Cardinale. Foi seu pai quem a convenceu a "tentar fazer cinema". No início de sua carreira, após sofrer violência, um mentor a persuadiu a dar à luz secretamente em Londres.
Patrick foi apresentado como seu irmão mais novo durante sete anos. "Fui forçada a aceitar essa mentira para evitar um escândalo e proteger minha carreira", afirmou a atriz.
Em sua autobiografia de 2005, "Minhas estrelas", Cardinale escreveu: "tornei-me a heroína de um conto de fadas, o símbolo de um país cuja língua eu mal falava". Inicialmente, sua voz era dublada em italiano, até Fellini insistir para que usasse sua própria voz em "Oito e meio", filme vencedor do Oscar em 1963.
Aos 25 anos, Cardinale filmou simultaneamente "O Leopardo", de Visconti, e "Oito e meio", de Fellini. "Visconti me queria morena com cabelo comprido. Fellini me queria loira", declarou sobre as exigências dos diretores. O jornal The Guardian observou em 2013: "É quase como se a sensualidade tivesse sido imposta a ela".
Embora tenha conquistado Hollywood, Cardinale optou por não se estabelecer nos Estados Unidos. Alcançou sucesso em produções como "A Pantera Cor-de-Rosa", com Peter Sellers, e "O Mundo do Circo" (1964), com Rita Hayworth e John Wayne. Recusou-se a realizar cirurgias plásticas e continuou atuando até os 80 anos.
Cardinale afirmou que seu "único amor" foi o diretor napolitano Pasquale Squitieri, pai de sua filha Claudia. O casal trabalhou junto em diversos filmes durante quatro décadas, até a morte do diretor em 2017. Além de sua carreira artística, Cardinale atuou como Embaixadora da UNESCO e defendeu os direitos das mulheres.
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