A reconfiguração do poder no Brasil e no mundo: A aceleração dos eventos

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Quando as previsões se tornam realidade: uma análise dos eventos de setembro de 2025

O QUE O VOTO DO MINISTRO FUX, A REVOLTA DO NEPAL E O ASSASSINATO DE CHARLIE KIRK TÊM EM COMUM?

I. OS CICLOS GERACIONAIS...

SUCUMBINDO AOS CICLOS DIGITAIS

Quando foi publicada a primeira parte deste ensaio (que recomendo a leitura a quem não o fez: clique para ler), em 09 de setembro, alertávamos para a irreversibilidade das transformações em curso e a tendência de escalada dos conflitos institucionais no mundo, mas sobretudo no Brasil.

Os eventos de setembro de 2025 não apenas confirmaram nossas previsões de forma dramática — revelaram que transitamos de uma política baseada em ciclos geracionais para ciclos digitais.

O assassinato de Charlie Kirk em 10 de setembro, a revolta digital no Nepal que derrubou o governo comunista, e o voto divergente do ministro Fux no julgamento de Bolsonaro representam sinais inequívocos de uma reconfiguração global do poder político que transcende fronteiras e sistemas de governo, como explicarei.

A NOVA TEMPORALIDADE POLÍTICA

O aspecto mais revelador é a velocidade estrutural destes eventos. Três episódios transformadores em dois dias (mesmo representando processos que se desencadearam ao longo dos últimos anos), com consequências globais imediatas.

Esta temporalidade reflete:

- A amplificação Digital: Redes sociais transformam eventos locais em fenômenos globais em questão de horas
- O efeito Dominó instantâneo: Eventos políticos Globais no ambiente Digital, ressoam imediatamente em contextos similares mundialmente
- A memória coletiva Digitalizada: que a Geração Z (2 bilhões de pessoas, 34% da população mundial e 34 milhões no Brasil, equivalente a 16% da população), possui acesso instantâneo a padrões históricos, acelerando o aprendizado político, sem intermediação da mídia convencional

II. O MARTÍRIO DE CHARLIE KIRK: A FALÊNCIA DO MODELO GRAMSCIANO

Charlie Kirk, 31 anos, fundador do Turning Point USA, foi morto por Tyler Robinson, 22 anos, enquanto discursava na Utah Valley University. Este assassinato marca a falência completa do modelo gramsciano de controle cultural que dominou quatro décadas e que agora apenas impacta pequenos grupos extremistas.

A IMPOSSIBILIDADE DA HEGEMONIA CULTURAL DIGITAL

Diferentemente de épocas anteriores, o modelo gramsciano dependia do controle de aparelhos culturais — universidades, mídia, arte. Na era digital, este controle tornou-se impossível, considerando a:

- Multiplicidade de fontes: Impossível controlar todas as narrativas
- Curadoria individual: Cada usuário se torna seu próprio editor cultural
- Transparência forçada: A hipocrisia das elites torna-se visível instantaneamente
- Democratização da produção: TikTok, YouTube e podcasts criam novos formadores de opinião

Crucialmente: A Geração Z desenvolveu “imunidade natural”; às técnicas gramscianas porque cresceu com múltiplas versões de qualquer evento, desenvolveu ceticismo institucional e valoriza autenticidade sobre autoridade.

O PARADOXO DA VIOLÊNCIA

A morte de Kirk expõe como a violência política da esquerda paradoxalmente fortalece os movimentos que pretende silenciar. Trump declarou Kirk “mártir político” (algo que nem precisaria fazer), demonstrando como a repressão pode amplificar causas na era digital — um padrão histórico intensificado pela conectividade universal.

III. A REVOLTA DIGITAL NO NEPAL: QUANDO A GERAÇÃO Z DERRUBA GOVERNOS

Os protestos no Nepal começaram contra o bloqueio de redes sociais, evoluíram para uma

revolta anticorrupção e derrubaram o governo comunista. A Geração Z não precisou de partidos políticos para derrubar um governo — uma transformação fundamental da legitimidade política onde o poder popular se manifesta apesar dos “políticos”, a cada dia mais desacreditados perante a opinião pública, quando as “velhas narrativas” já não surtem efeito num ambiente Digital.

NOVOS MODELOS DE LEGITIMIDADE

O caso nepalês revela:

- Organização Horizontal: Movimentos sem liderança centralizada
- Coordenação Digital: WhatsApp e Telegram substituem estruturas partidárias
- Legitimidade Direta: Mediação institucional vista como obstáculo
- Métricas de Engajamento: Likes e shares tornam-se indicadores de apoio popular

Para a Geração Z nepalesa, as plataformas são “empregos, fontes de notícias, ferramentas de organização e redes de apoio social” — infraestrutura política básica, não entretenimento.

A ARMADILHA DA REPRESSÃO DIGITAL

O Nepal demonstra como tentativas de controlar redes sociais geram efeito “Streisand” amplificado:

- Cada ato de censura vira evidência da fragilidade do regime
- A repressão radicaliza populações moderadas
- Tecnologias de contorno, como VPNs e outras, se popularizam instantaneamente

Mesmo após reverter o bloqueio, a revolta culminou na renúncia do primeiro-ministro, provando que transformações digitais criam expectativas políticas permanentes. 

IV. O VOTO DE FUX: A IMPLOSÃO DA “DEMOCRACIA JUDICIAL”

O ministro Luiz Fux surpreendeu ao votar pela “incompetência absoluta do STF” para julgar Bolsonaro. Este voto simboliza a implosão interna do modelo de “democracia judicial”; tão alardeado (uma nova narrativa) que caracterizou o Brasil pós-2013.

A FRAGMENTAÇÃO INSTITUCIONAL

O voto representa a fragmentação das próprias instituições que deveriam mediar conflitos políticos. Mesmo os “operadores do sistema” questionam sua legitimidade quando:

- A narrativa de “defesa da democracia” contradiz a vontade popular
- O consenso oligárquico se desfaz sob transparência digital
- Instituições se alinham politicamente, destruindo o equilíbrio tripartite

Com o placar de 4 a 1, o STF demonstra divisão interna sobre questões fundamentais, sinalizando que o Brasil pode estar próximo do Cenário 3 — Radicalização.

V. PADRÕES CONVERGENTES: UMA MUDANÇA CIVILIZACIONAL

Os três eventos revelam padrões universais que confirmam uma mudança civilizacional:

A nova gramática do poder

- Velocidade: Mudanças políticas em semanas, não anos
- Globalização: Eventos locais geram repercussões globais instantâneas
- Digitalização: Controle de narrativas digitais superam controle territorial
- Juventude Conectada: Geração Z emerge como força disruptiva global

A IRREVERSIBILIDADE TECNOLÓGICA

A transformação é irreversível porque:

- Infraestrutura Global: Internet tornou-se infraestrutura civilizacional básica
- Dependência Econômica: Economias modernas dependem visceralmente de conectividade digital, absolutamente orgânica
- Expectativas Geracionais: Gerações digitais não aceitam retrocessos
- Imunidade ao Gramscismo: Novas gerações resistem à manipulação tradicional ou narrativas que outrora serviram de modelo entre os 80 e os 90

VI. CENÁRIOS REVISITADOS: PROBABILIDADES ATUALIZADAS

Com base nos eventos recentes:

Cenário 1 - Reforma Institucional: 20% (reduzido). Instituições mais fragmentadas que o previsto, reduzindo chances de reformas ordenadas.
Cenário 2 - Acomodação Progressiva: 10% (muito reduzido).

Violência política e revoluções digitais indicam capacidade quase nula de adaptação pacífica das elites insaciáveis que não abrem mãos do poder que amealharam.

Cenário 3 - Radicalização: 35% (e aumentado)

Convergência de violência, revoluções digitais e fragmentação institucional confirma nosso prognóstico pessimista, como o que vimos no Nepal.

Cenário 4 - Transição Civilizacional Acelerada: 35% (um cenário novo)

Emergência de nova civilização política baseada em:

- Democracias digitais diretas (sem intermediações ou partidos convencionais)
- Movimentos políticos globalizados (uma espécie de teia civilizacional)
- Legitimidade via engajamento digital (valores propagados em escala global instantaneamente)
- Ciclos políticos acelerados (tudo pode mudar num piscar de olhos: os processos da ultima década, geram eventos surpreendentes pelo engajamento e velocidade) 

VII. NAVEGANDO A TEMPESTADE PERFEITA

Riscos da velocidade extrema

- Polarização ingerenciável: Diálogo torna-se quase impossível
- Instabilidade sistêmica: Mudanças rápidas demais para adaptação institucional
- Manipulação por IAs: Novos controles através de algoritmos sofisticados
- Fadiga democrática: Exaustão pela velocidade das transformações, menor flexibilidade e maior emotividade nos movimentos políticos

OPORTUNIDADES HISTÓRICAS

- Democracia direta digital: Participação política massiva e constante
- Transparência radical: Corrupção torna-se insustentável
- Meritocracia cultural: Ideias competem por qualidade, não origem institucional
- Renovação constante: Sistemas adaptam-se rapidamente

DIRETRIZES PARA A TRANSIÇÃO

Para líderes políticos:

1. Aceitar a irreversibilidade das transformações digitais
2. Adaptar instituições ao ritmo digital
3. Evitar tentações autoritárias de reprimir o novo

Para cidadãos:

1. Desenvolver curadoria digital competente
2. Manter princípios democráticos mesmo na polarização
3. Preparar-se para ciclos políticos acelerados

Para sociedades:

1. Investir em instituições adaptáveis, não resistentes
2. Criar mecanismos de diálogo na velocidade digital
3. Desenvolver capacidade de processamento rápido de conflitos

VIII. O IMPERATIVO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

Os eventos de setembro confirmaram nossa tese central: vivemos uma reconfiguração fundamental do poder político, acelerada pela democratização digital, que transcende fronteiras e sistemas convencionais.

Enfrentamos uma “tempestade perfeita” onde convergem forças tecnológicas, geracionais, econômicas, culturais e políticas.

O DIFERENCIAL DESTA TRANSIÇÃO

Pela primeira vez na história, uma civilização pode observar sua própria transformação em tempo real e influenciar ativamente seu direcionamento. Esta consciência nos confere responsabilidade e oportunidade únicas.

A ESCOLHA CIVILIZACIONAL

Nossa geração enfrenta escolha sem precedentes: conduzir conscientemente esta transição preservando o melhor dos sistemas democráticos, ou permitir que forças descontroladas nos levem para destinos incertos.

A velocidade dos eventos demonstra que o tempo para escolhas conscientes está se esgotando. As forças desencadeadas seguirão seu curso com ou sem nossa participação consciente.

A história nos julgará pela capacidade de agir à altura deste momento único da jornada civilizatória humana.

Como você, leitor, pretende posicionar-se neste momento decisivo da história?

A resposta determinará se a transformação será construtiva ou destrutiva, se preservará nossa herança civilizacional ou nos levará a uma ruptura traumática com consequências imprevisíveis.

Segunda parte elaborada em setembro de 2025, à luz dos eventos que confirmaram as previsões da primeira parte do ensaio “A Reconfiguração do Poder Político na Era Digital”.

Foto de JMC Sanchez

JMC Sanchez

Articulista, palestrante, fotografo e empresário.