
Como as práticas liberais estão reerguendo Teresina
08/10/2025 às 18:09 Ler na área do assinante
Administrar uma capital é um desafio enorme. Além dos problemas superdimensionados, o prefeito tem de lidar com a péssima distribuição dos recursos governamentais – estados e municípios ficam com pouco e a União concentra quase tudo. Tal modelo nunca se alterou durante a nossa história: já era assim na época das províncias imperiais – o livro Interpretação da Realidade Brasileira de João Camilo de Oliveira Torres expôs com maestria esse quadro.
Imaginem então se a cidade é mal administrada e gerida por quem não tem o mínimo compromisso com as contas do município. Essa tragédia foi a rotina de Teresina nos últimos quatro anos com a administração do ex-prefeito Dr. Pessoa (PRD), cujas contas foram reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI). Além da queda acentuada na qualidade dos serviços prestados, a capital foi entregue ao atual prefeito, Silvio Mendes (União Brasil), numa situação financeira caótica sem precedentes.
Óbvio que não dá para comparar as respectivas situações, mas sempre gosto de utilizar o exemplo de Ronald Reagan ao assumir a presidência dos Estados Unidos após o fiasco do governo Jimmy Carter. Além da humilhação externa americana, Reagan enfrentou uma crise econômica e a incerteza provocada pelos impactos do aumento do custo de vida da população. O que fez o republicano? Cortou gastos, eliminou regulamentações inúteis e privatizou o que pode – é verdade que ele passou do ponto na área militar, mas algo compreensível no contexto do final da Guerra Fria. O resultado? Crescimento econômico, diminuição do desemprego e aumento na renda dos americanos.
Pois bem, volto à Teresina. As atribuições de uma prefeitura são evidentemente menores que as de um governo federal, bem como os recursos disponíveis. Porém, as consequências do inchaço da máquina pública e do desrespeito ao equilíbrio fiscal punem a população com a mesma intensidade – pior no caso dos municípios, pois os serviços públicos atribuídos a eles são de imediata percepção. Seria preciso dar um basta na irresponsabilidade com o dinheiro público e gastar conforme as necessidades reais.
O que fez o prefeito Silvio? Diminuiu o número de secretarias, cortou cargos e reduziu gastos – para se ter uma ideia, os secretários não possuem carros oficiais, prática bastante comum na administração pública brasileira. Mesmo com as fortes críticas de setores oposicionistas à gestão, ele se manteve firme e fez o que deveria ser feito. Os primeiros resultados já são visíveis: além da melhoria inegável nos serviços, a prefeitura de Teresina já se encontra equilibrada financeiramente após um longo período de dificuldades.
Os resultados mais vistosos demoram a aparecer porque é assim que funciona o caminho do liberalismo. Vejam, por exemplo, a famigerada taxação em compras internacionais: funcionou para efeitos arrecadatórios imediatos, mas a longo prazo significou uma queda na atividade econômica e – vejam só! – uma diminuição na própria arrecadação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece nunca ter ouvido falar na Curva de Laffer, mas a aula é gratuita: quando se diminui impostos em determinado setor, a arrecadação aumenta a médio e longo prazo com o aumento da atividade econômica. É a lição que o mundo livre aprendeu e colocou em prática – mesmo com inúmeros retrocessos no percurso.
Alguém pode ser mais pessimista e lembrar da força eleitoral do PT no Nordeste como fator que possa minar a paciência dos teresinenses com as práticas de austeridade fiscal. Pois bem, Teresina nunca elegeu um prefeito petista. Ao contrário: desde o momento em que o PSDB se colocou como principal adversário da sigla, o eleitorado teresinense premiou os tucanos com vitórias que começaram com Wall Ferraz. A última eleição foi considerada a grande chance dos petistas de ocuparem o Palácio da Cidade, que tinham uma candidatura amplamente apoiada por lideranças locais e os outros dois palácios – o Karnak, do estado, e o do Planalto. Ainda assim, Silvio Mendes prevaleceu e foi eleito numa coligação de centro direita composta por União Brasil, PP e Republicanos.
A população sempre cobrará resultados efetivos dos seus gestores, fato inegável. Mas uma boa administração é pautada pelo planejamento de longo prazo, que não busca voo de galinha e tem responsabilidade com o dinheiro público. A doutrina liberal exige compromisso com a boa gestão dos recursos e enxugamento da máquina governamental, além do exemplo dado pelo próprio governante. Até agora, Teresina está indo nessa direção.
Carlos Júnior
Jornalista